A sensação de ser entendida

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Ilíria estava satisfeita, finalmente tinha feito os testes para a vaga de artilheiro no time e Sam assumiria a posição já no próximo treino, enrolou a toalha no cabelo e ajeitou a blusa que usava, nem se preocupou em pentear os fios, mas talvez tivesse decidido esperar lá dentro por mais alguns minutos se soubesse que Adrian Pucey a esperava do lado de fora. Estava encostado na parede tranquilamente, o que deu a ela alguns segundos para observá-lo e amaldiçoar o quão bonito era, mas não esperava que ele fosse abrir a boca.

—Eu estou te vendo. —apontou, se virando para ela com um pequeno sorriso, Ilíria bufou sentindo suas bochechas ficarem levemente avermelhadas.

—Então agora você fala? —devolveu caminhando para fora, não haviam trocado mais nem uma única palavra.

—Eu nunca disse que não falaria mais, foi você quem ficou quieta. —ele estava irritantemente certo, acompanhou os passos dela com facilidade. —O que exatamente está te incomodando? —perguntou curioso, não o abalou nem um pouco o olhar seco que ela lhe dirigiu.

—O que está me incomodando é você de repente resolver que quer me ajudar, falar comigo e sabe se lá o que mais, mas se recusar a dizer o que você está querendo ganhar com isso! —exclamou estressada, desviou os olhos quando ele a encarou demais.

—Então você está na defensiva porque se sente insegura quando alguém se aproxima de você sem ter intenção de ganhar algo com isso. —falou calmamente, como se pensasse sobre o caso, Ilíria parou no lugar chocada. —Você falou sobre a Smith na enfermaria, é esse o seu problema? Você não consegue lidar com a ideia de que eu estou mais interessado em você do que nela?

—Eu… —ainda estava confusa, tentando assimilar tudo que ele dissera tão facilmente que a fizera se sentir como uma idiota por remoer aquilo constantemente em sua cabeça, apertou os punhos. —Eu não estou na defensiva! E você está interessado em… —a voz sumiu completamente, piscou levemente desorientada, a frase "eu estou mais interessado em você" não era exatamente recorrente em seus dias.

—Em você. —completou tranquilo, prendeu os olhos nos dela e sorriu ao ver como o rosto de repente assumia um tom de vermelho bem intenso. —É difícil acreditar nisso? —ela continuou muda, Adrian se aproximou um pouco mais, segurando o queixo dela gentilmente. —Eu entendo sua relutância, de verdade, mas eu acho que você deveria repensar isso, Ilíria.

Respirou fundo, se sentia tão estranhamente pesada que mesmo ele estando a tocando sem força nenhuma, ainda não conseguia se soltar. Não conseguia olhá-lo nos olho, porque era assustador que conseguisse lê-la com tanta facilidade que a desvendasse completamente, queria xingá-lo e correr para longe, mas seu corpo não reagia. Ilíria sabia que tendia a resolver seus problemas como uma criança, sabia que era deliberadamente agressiva e rude, sabia que deveria ter dito "obrigada" e não "o que você quer?" para Adrian, mas também era a única que sabia o quão cansada estava de acreditar que as pessoas poderiam gostar sinceramente dela apenas para descobrir que era só um degrau até o que elas almejavam, quantas vezes tivera que socar os próprios sentimentos garganta abaixo e sorrir com desprezo apenas para se impedir de sentir como se fosse pequena e frágil? Cuspir ofensas e agir de um jeito horrível vinha funcionando muito bem como defesa.

—Eu não queria te fazer chorar, querida. —sussurrou com carinho, movendo a mão do queixo dela para as bochechas, secando a lágrima que escorreu. Ilíria piscou, fazendo com que outra descesse e ele a limpasse rapidamente, nem se dera conta de que estava perto das lágrimas.

—O que você espera que eu faça com isso? —perguntou devagar, se afastando para que pudesse limpar o próprio rosto, podia dizer que Adrian não tinha a menor noção do quanto ele a assustava.

O conhecia desde o primeiro ano, conversavam durante os treinos desde o segundo, mas de repente era como se estivessem se aproximando demais e muito rapidamente para que ela tivesse tempo para entender. Apenas alguns dias antes ele a pegara no colo quando estava desmaiada, e desde então vinha cuidando dela de um modo como não era cuidada desde o dia em que perdera seus pais, se sentia acuada e ainda assim nunca antes alguém entendera tanto suas necessidades. Ele a levara para trás da arquibancada após o jogo porque sabia que não conseguiria segurar as lágrimas por muito tempo, e mesmo que não houvessem se abraçado nenhuma vez antes daquela, ele esperara tão pacientemente que ela pudesse se entender e decidir que precisava daquele contato, apenas para abraçá-la de um jeito tão carinhoso que pela primeira vez em muito tempo se sentira verdadeiramente segura. Não sabia o que fazer com ele.

—Eu só espero que não se feche tanto. —explicou, os dedos se mexiam de vontade de ajeitar a mecha escura dela atrás da orelha, mas se conteve porque talvez aquilo tudo já fosse íntimo demais para Ilíria.

—Tudo bem, eu acho. —se era uma afirmação ou uma pergunta, não saberia dizer, mas ele esticou os lábios em um sorriso satisfeito. —Mas não espere muita coisa. —não se sentia capaz de oferecer muita coisa, sua mente já corria para um rumo estranho, Adrian era tão bonito e agradável, não podia deixar de imaginar que ele se encaixaria melhor ao lado de Heather.

—Eu sou paciente, querida. —sorriu um pouco mais, voltando a caminharem lado a lado.

—Não gosto de ser chamada assim. —foi mais um murmúrio do que uma reclamação, mas ele ouviu.

—Como quer ser chamada então? —poderia fazer essa concessão, estava feliz.

—Pelo meu nome.

—Já te chamo de Ilíria, preciso de algo pra quando você está triste. —explicou só para receber um olhar um pouco incrédulo.

—Agora é Saint-Sallow para você. —replicou implicante, Adrian riu e Ilíria virou o rosto para o lado só para que ele não visse que sorrira.

—Vou te chamar de amor se ficar sendo chata assim, querida. —ficariam bem juntos.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora