O cruel humor de Ilíria

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Oliver Wood odiava o modo como de repente Ilíria se parecia mais com uma boneca triste do que com a audaciosa e desbocada Saint-Sallow que era. Não que a culpasse ou algo parecido, longe disso, apenas não gostava de saber o quão mal ela estava, detestava que ela tivesse que passar por algo desse tipo. Tentava puxar assunto com frequência, querendo fazê-la rir ao menos um pouco, mas o máximo que havia alcançado se tratava de um mínimo erguer de lábios, tão insincero quanto possível, e Heather não parecia estar indo tão melhor assim.

Podia vê-la frequentando as aulas, estava presente em cada uma das refeições, mas era quase como se fosse mais um corpo do que Ilíria em si, suas falas eram todas lacônicas e desatentas, as vezes sumiam do nada quando ela encontrava Adrian com o olhar, e ela não parecia notar que se interrompera. Sabia que eles não se falavam mais, ainda assim era impossível não pegá-los se olhando, então Oliver se arrependeu de cada momento em que pensou que eles deveriam terminar, porque aquilo era obviamente muito mais deprimente do que ele esperava. Se sentia mal por ter sido a pessoa a revelar sobre o sangue dela, e embora Heather insistisse em dizer que não era sua culpa, que a própria Ilíria diria, que ninguém esperava que Adrian não soubesse, e que mesmo que não fosse naquele momento, seria em algum, ainda sentia um revirar desconfortável em seu peito cada vez que a olhava.

Foram dias assim, talvez ela ainda parecesse a mesma pessoa para aqueles que não a conheciam, mas aquela definitivamente não era a Ilíria que ele conhecia. Compartilhava informações com Heather, estavam mais próximos do que algum dia teria esperado, para eles era como uma pequena vitória poder contar um para o outro que a Saint-Sallow quase rira, ou parecia ter prestado atenção enquanto eles falavam, ou começou a conversar sem precisar ser puxada para o assunto. Mas ela ainda dormia com uma camisa do Pucey todas as noites, ainda tinha uma foto de ambos juntos presa onde podia olhar assim que acordasse e até que conseguisse dormir, e precisava limpar as marcas de choro com certa regularidade, já era quase uma profissional nos feitiços para isso.

Em uma nova manhã, Heather soube que as coisas iriam mudar, e não para melhor. O primeiro sinal havia sido claro demais para que fosse ignorado: Ilíria despertou lentamente, mas bastou que os olhos escuros se deparassem com a foto onde ria acompanhada do sonserino para que ela se levantasse rapidamente, arrancando-a de onde estava colada e a jogando no chão, caminhando furiosa para o banheiro. A loira se abaixou, pegando a foto e a desamassando lentamente antes de guardá-la, sabia que a amiga não queria que jogasse fora, aquilo só significava que estavam entrando no estágio mais perigoso da Saint-Sallow: a raiva quase incontrolável. Respirou fundo, se preparando para tudo que viria, e agradecendo por boa parte das piadas sobre Ilíria ter sido chutada já terem chego ao fim, embora tivesse que admitir que gostaria de ver a amiga distribuindo socos naquelas pessoas. Adrian Pucey brigava contra os comentários, já havia dito tranquilamente que fora ela a terminar com ele e mesmo que tentara voltar, mas quem ousaria abrir a boca contra alguém como ele? Ilíria simplesmente parecia ser o lado mais fraco, não era rica, não tinha o sangue puro, sequer pais a quem recorrer.

No início as coisas ainda estavam dentro do controle, o time de quadribol estava muito pouco empolgado agora que a Capitã aproveitava cada uma das oportunidades para empurrá-los para um treinamento sofrível, e pela primeira vez na vida a Smith começou a assistir treinos do esporte, monitorando a garota para ter certeza que não estava se expondo a situações perigosas demais. Sentia seu coração disparar para a boca cada uma das vezes em que Ilíria virava de cabeça para baixo na vassoura, ou quando a entortava tão lateralmente que parecia impossível que conseguisse voltar para cima, contudo, para sua alegria, ela ainda não chegara a começar a usar suas jogadas mais arriscadas. Adrian, Oliver e Heather não poderiam dizer que estavam felizes com aquilo, mas ao menos Ilíria estava reativa o bastante para se dedicar a algo, ainda que fosse a força do ódio a movê-la, apenas tinham medo do quão séria naquilo ela poderia se tornar uma vez que tentava substituir sua tristeza e frustração por adrenalina.

Oliver Wood não tivera um aviso prévio. Não vira Ilíria arremessar nada longe pela manhã, nem discutir contra ninguém durante a tarde, sabia que ela estava torturando seu time no campo, então se arrumou tranquilamente, vestindo o próprio uniforme, arrumando seus papéis, se preparando para explicar para os grifinórios a nova estratégia de jogo que adotariam, para finalmente pegar sua vassoura e começar o caminho até o campo, já estava quase no horário da Grifinória treinar, então os sonserinos deveriam estar de saída. E foi em seu caminho que a falta de um aviso se mostrou lamentável, porque definitivamente não estava preparado para a cena que encontrou em um dos corredores.

O grito de uma garota o fez correr, já sacando a varinha de sua roupa e se preparando para o que estivesse acontecendo, mas não havia nada que o pudesse preparar para encontrar uma garota caída no chão, o rosto sangrando, e uma Ilíria possessa acima dela, as pernas prendendo a menina no lugar, as mãos desferindo mais um soco contra aquele rosto. Estava incandescente de fúria, os olhos cruéis. Travou no lugar, pôde ver Adrian e Sam tentando puxá-la para cima, mas ela brigava violentamente contra eles, se soltando das mãos e ignorando completamente o que era dito para ela. Pode ver o exato momento em que Severo Snape entrou naquele corredor, mas antes que ele pudesse lançar um feitiço e arremessar Ilíria longe, viu ela segurar as bochechas da garota com uma mão, erguendo a cabeça do chão apenas para que pudesse dizer:

—Seu sangue puro não vai te proteger de mim.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora