Como resolver seus problemas

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Ilíria andava em seu limite.

Os dias e as noites eram intermináveis, se sentia mergulhada em um oceano de sentimentos negativos, a tristeza, raiva e o abandono enchiam sua garganta, querendo sufocá-la. Não achava a foto que arrancara da cama em nenhum lugar, não queria perguntar a Heather se ela sabia onde estava, porque a loira parecia acreditar que estava "avançando em superar", e não queria decepcioná-la. Parte de si gritava que ela não ficaria decepcionada, mas essa voz se tornava cada vez mais baixa, a ansiedade entrava em sua pele e arranhava seus ossos com violência, anunciando que todos a deixariam, que ninguém era capaz de amá-la, que estaria para sempre sozinha.

Amava Adrian e odiava perdê-lo, mas sabia que a tormenta que vivia não se devia somente a isso, não, o fim da relação fora apenas o gatilho a afundá-la novamente no sofrimento que vinha vivendo há muito tempo. Tentava se manter distante daquele poço, escalando para fora de si mesma, se afastando dos traumas não superados, mas nunca conseguira sair disso de fato, estava presa ali. A raiva era o único meio que já havia encontrado para lidar com aquilo, o problema era que a raiva a consumia completamente, odiava tudo, inclusive a si mesma.

Naquele dia em particular, parecia prestes a explodir. Evitou a todos, sabendo que surtaria com a primeira coisa que a incomodasse, se manteve distante e silenciosa, agradecendo a Merlin por ter marcado treino para aquela tarde, porque ao menos poderia gastar toda aquela energia e se entreter com outra coisa. Antes da hora já estava perfeitamente arrumada e flutuando na vassoura, aproveitando que Heather teria aula naquela tarde para treinar o tipo de vôo que não fazia na frente dela, se pendurou de cabeça para baixo, soltando as mãos e se mantendo presa apenas com as pernas, se inclinou para um lado, satisfeita ao ver a vassoura mudar de direção. Sabia o quão perigoso era, as chances de suas pernas não aguentarem mais, da vassoura perder o controle, de não conseguir se desvirar, mas os riscos amorteciam todos os sentimentos, não pensaria em outra coisa enquanto precisasse se preocupar com se manter viva, então apreciou até mesmo a dor que sentia ao ficar daquele jeito.

Quando o time chegou, começaram o treino. Primeiro os fez se alongarem, então correrem e por último flexões e abdominais, para em fim os deixarem subir em suas vassouras. Deu ordens para cada grupo, e quando seus olhos pousaram em Adrian, os desviou rapidamente. Olhou apenas para Sam, ainda que dissesse para os dois o que fazer, era a única solução que havia encontrado para não precisar falar com ele. Queria falar com ele, por Merlin, como queria. Mas não podia.

Praticou as próprias jogadas sozinha por um tempo, antes de se unir aos dois, ainda mantendo o olhar sobre todos os outros membros, gritando ordens diferentes para eles. Quando o treino chegou ao fim, tomou um banho rápido, colocou novas roupas e caminhou acompanhada do resto do time, não estava bem, mas ao menos tranquila o suficiente para ser capaz de conversar. A exaustão definitivamente era a solução.

O problema era apenas um: Ilíria não esperava que alguém fosse voluntariamente testar sua paciência, ainda mais depois de ver o número de vezes em que vinha sendo extremamente desagradável, mas era claro que precisava ter uma maldita garota corajosa. Mal entrara no castelo, estava em um dos primeiros corredores quando ela apareceu, os cabelos longos e o uniforme da Sonserina.

—Sangue ruim! —a garota teve a ousadia de falar como se fosse um cumprimento, Ilíria tecnicamente não era sangue ruim, mas não fazia diferença para muitos deles.

Trancou os punhos, apertando as palmas contra as unhas curtas, não iria se descontrolar. Estava bem, repetiu para si mesma, mas não era verdade. Acordara irritada, e passara o dia irritada, e ainda que o quadribol fosse capaz de amenizar aquilo, ele obviamente não extinguia o sentimento. Respirou fundo.

—Pensei que a essa altura alguém já teria te matado. —falou com doçura. —Sabe como é, pessoas como você não deveriam estar em nossa casa. Nem em Hogwarts.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora