Encontrando um caminho

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Ilíria não era uma pessoa paciente e sabia disso, seus dedos batucavam nervosamente na mesa enquanto esperava o barulho no andar de cima indicar que Oliver estava em sua casa, mas os únicos sons que ouvia eram sua pele batendo contra a madeira e a cafeteira. Levantou, bufando com irritação, e indo até o armário para procurar onde estavam aquelas torradas integrais horríveis que ele insistira que pareciam ter gosto bom.

Abriu a geladeira, recheando suas recém encontradas torradas para que não precisasse sentir o gosto delas, então enfiou uma na boca para poder mastigar sua raiva. Oliver estava atrasado, e não importava que Ilíria tivesse levantado para fazer café, ela ainda não tinha o menor direito de cobrá-lo por isso. Ele a visitava todos os dias, e era mais um favor do que uma obrigação. Encarou seu rosto no reflexo do microondas, e parecia bem.

Estava bem. Continuaria bem. —Ou ao menos eram as palavras que Ilíria gostava de repetir para si mesma, tentando preservar a pessoa que se erguia mais uma vez.

Suas bochechas eram mais vivas, deixando o aspecto de doença para trás, e já estava quase de volta ao seu peso normal. Tudo graças ao Wood, que discutia até que Ilíria se cansasse e aceitasse fazer as refeições, mesmo que ela o encarasse como se estivesse há um passo de enfiar um garfo em sua traquéia. Também caminhavam, não era o suficiente para devolver os músculos antigos a ela, mas ao menos era um exercício que a trazia para fora do ar sufocante daquela casa.

Desfizera sua mala, enviava cartas de volta a Heather e dormia. Passo a passo Ilíria tentava voltar para sua vida antiga, sabia que a dor estaria para sempre ali, mas era uma sobrevivente.

Sou forte. —repetia quando se sentia perto de ruir, quando sentia aquele peso tentando puxá-la novamente.

Sou corajosa. —era seu mantra para seguir em frente, para se levantar pela manhã.

Mas Oliver era seu pilar. Era quem mantinha Ilíria na linha, quem a motivava a levantar, a comer e a encontrar uma vida que fosse capaz de viver. Não importava que discutisse com ele todos os dias, ele sabia que precisava de algo para manter seu espírito em pé, e desenvolvera uma tenacidade impressionante para manter as discussões, ocupar a cabeça dela com coisas pouco importantes era sua mais nova habilidade.

Se Ilíria era um navio, Oliver era o seu farol.

Era ele quem a guiava de volta para casa, quem afastava os perigos, quem abria caminho em meio às sombras e a acompanhava durante os dias. Ilíria era feliz por isso, mesmo que ofensas escapassem de sua boca com muito mais facilidade do que a gratidão.

Isso explicava seu estresse naquela manhã, quando a cada segundo que se passava Oliver estava um pouco mais atrasado. Não estava com raiva, apenas tinha medo de quebrar se ele não estivesse ali para apontar o caminho, e não queria se sentir como uma covarde.

Botou café em uma caneca laranja, querendo ocupar suas mãos com algo, criando algo em que pensar que não fosse o medo crescente de ele não voltar.

O que faria se ele não voltasse? —tremeu com o pensamento, não querendo ser deixada mais uma vez.

O café quente respingou em sua mão, fazendo uma série de palavrões escapar de sua boca com facilidade, mas ao menos a queimação em sua pele a trazia de volta para a realidade. Pousou a caneca sobre a mesa, caminhando para um pano onde poderia secar a mão. Sacudiu os dedos e concluiu que não era nada demais, apenas pequenas manchas vermelhas que deixariam de doer em breve.

Ergueu o queixo arrogantemente, ainda que estivesse sozinha, porque precisava agir de um jeito que convencesse a si mesma. Precisava dizer para si mesma que se Oliver não voltasse, se ele tivesse desistido dela, de seu péssimo humor e de suas discussões, não se magoaria.

Oliver Wood não seria uma rachadura em seu coração.

Encontraria um jeito, um caminho cruel por onde poderia estalar a língua e dizer "tão curta a determinação desses grifinórios", procuraria em todo canto um modo de se tornar gelada e não lamentar por nada. De não se arrastar, de não desistir, de não voltar para o buraco do qual vinha fazendo tanta força para sair.

Uma vez no passado, Ilíria acreditara que era como o fogo, e agora preferiria ser gelo do que se transformar em cinzas.

Voltou para a mesa, se sentando para beber seu café e comer mais torradas horríveis. Talvez devesse voltar a treinar, correr atrás dos músculos que perdera, fosse fogo ou gelo, ainda teria oponentes para derrubar. E os derrubaria sorrindo, como a Capitã que era.

Sua mente desviou por um segundo, se perguntando se era uma pessoa horrível por acreditar que Oliver não voltaria. Se ele cruzasse aquela escada, voltando para ela como fazia há semanas, seria uma pessoa terrível por ter duvidado dele? Por ter pensado em um caminho diferente, um que poderia traçar sem precisar que ele a apoiasse?

Bem, não faria tanta diferença assim, Ilíria já se considerava a pior espécie de pessoa. O tipo de pessoa que era capaz de invejar sua melhor amiga, a beleza, o charme, o fato de Heather não ser um erro como ela era. O sangue puro que corria naquelas veias e a fazia perfeita para Adrian, perfeita de um jeito que Ilíria nunca seria capaz de ser.

O barulho de passos a despertou, fazendo Ilíria se levantar e ir até a sala bem a tempo de ver Oliver Wood descendo as escadas rapidamente, um sorriso de desculpas naqueles lábios. Mais uma vez ele a guiava para fora da escuridão, sem nem perceber que estava a salvando. Ficaria bem.

—Isso são horas, Wood? —seu tom era de desdém, mas seus olhos eram puro alívio.

—Por quê? Sentiu minha falta? —perguntou com diversão, entrando naquela cozinha e começando a se servir como se estivesse em casa.

Ilíria se permitiu sorrir, ele não fora embora.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora