O que o calor não faz

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Ilíria não esperava se aproximar de alguém tão rápido, mas as semanas passavam e a cada dia sentia menos vontade de fugir de Adrian. A primeira semana fora a pior, ainda se sentia acuada com a ideia de que ele realmente queria estar perto, então mais de uma vez se pegou tentando escapar daquela situação, mas ele parecia conhecer tão bem quais eram seus limites e inseguranças que sempre dava um jeito de consertar tudo, e de repente já estava se sentindo tão a vontade que se pegara indo atrás dele apenas para passarem o tempo, ou apenas para sentarem perto no jantar. E foi com sua primeira vitória como Capitã do time que Ilíria soube que estava apaixonada, quando tocou os pés no chão e sua primeira reação foi correr para ele e se arremessar em um abraço, Adrian mal havia pousado e quase derrubou os dois no chão, mas não se importou quando devolveu o abraço, a levantando do chão e deixando comemorar. Por um segundo seus rostos ficaram tão próximos que poderiam ter se beijado, mas Ilíria estava tão eufórica que só percebeu isso horas depois, tudo bem, estava perfeitamente satisfeito com aquele abraço, porque era a primeira vez que vira ela deliberadamente correr até ele.

Os dias passavam e a garota se sentia tão… Livre. Era quase como se um peso invisível viesse sendo tirado de seus ombros e fosse o primeiro instante de sua vida em que se permitisse ser feliz, vinha se surpreendendo com a frequência em que se pegava sorrindo, porque nunca fora uma pessoa tão alegre. Mas não conseguia não ser, não quando Adrian estava sempre ali. Vinha pensando em como dizer isso para ele, Heather fazia questão de comentar todos os dias sobre o quão bem ficavam juntos e que deveriam se agarrar logo, mas se sentia insegura, porque era a primeira vez que gostava tanto de alguém ao ponto de que pensar que ele poderia mudar de ideia a assustasse. Tentou juntar coragem para falar com ele, mas a verdade era que Adrian Pucey a entendia bem demais, e foi assim que numa tarde quente a encontrou deitada perto do Lago Negro.

—Será que está morta? —perguntou implicante ao ver que ela tinha as mãos pousadas no próprio peito, se sentou tranquilo, vendo aqueles olhos escuros o observando com desdém. Poderia dizer que ela estava feliz pelos olhos, não importava a expressão que fizesse.

—Estou tentando ver se em morte você me deixa ter paz. —a resposta foi uma piada rude, mas ela não conseguiu impedir o sorriso que levantou a ponta dos lábios quando viu que ele a observava.

—Desistiu das suas roupas? —ao lado da garota estavam empilhadas sua capa, saia, gravata e qualquer parte do uniforme que conseguisse arrancar para reduzir o calor, deixou os olhos passearem por ela para ver que Ilíria usava apenas a camisa e um short escuro que vestia por baixo da saia.

—Desisti, e ainda estou considerando quais seriam minhas chances de sobrevivência se eu entrasse na água. —deram uma olhada para o lago, Adrian não achava exatamente convidativo, mas estava quente o suficiente para que considerasse por dois segundos.

—Acredito que não muitas. —opinou.

—Assim que eu gosto. —brincou, se jogando na grama novamente.

—Se estiver com muito calor, eu tenho uma ideia. —deu de ombros sem olhá-la, sabendo que Ilíria estaria curiosa.

—Qual? —a expectativa em sua voz era óbvia, ela devia estar derretendo.

—Vem. —se levantou, estendendo a mão para puxá-la para cima, mas a garota apenas se apoiou nos cotovelos e o encarou com seu melhor olhar de "qual é a sua?". —Se você não quer, azar o seu. —não deu dois passos antes que ela mudasse de ideia.

—Qual a dificuldade de me falar o que é? —já estava de pé, calçou os sapatos de qualquer jeito e juntou as próprias roupas.

—Nenhuma, eu só não quero. —riu quando ela o olhou indignada, mas continuou andando porque sabia que ela iria lhe alcançar.

—A cada dia que passa você fica um pouco mais chato, Pucey. —mentiu.

—Digo o mesmo de você, amor. —Ilíria não conseguia não ficar vermelha todas as vezes que ele fazia isso, o que não eram poucas. Havia sido sério ao falar que a chamaria daquele jeito sempre que estivesse sendo chata ou desnecessariamente relutante, e poderia dizer o dia exato em que ela passara de indignada para completamente desarmada ao ser chamada assim.

Caminharam em silêncio pelos corredores, dando voltas e subindo escadas, até chegarem há uma porta trancada no quinto andar. Adrian tirou a chave do bolso, Ilíria o encarou chocada.

—Você me chamou pra tomar banho? —se irritou, estava constrangida. —Eu não vou tomar banho com você, Pucey!

—É uma pena, mas felizmente eu não te trouxe aqui para isso. —brincou, mas viu que ela só ficou mais irritada. Segurou a mão da garota repentinamente, virando-a para que se olhassem e ela pudesse entender que estava sendo sincero. —Te prometo que não é isso, só dê uma chance, você pode ir embora se não gostar. —ainda que com dúvidas, assentiu.

Adrian a puxou para dentro do banheiro, fechando a porta em seguida. Era enorme, possivelmente um dos maiores da escola, as paredes e o chão eram de ladrilhos claros e mesmo as pias eram grandes. Atravessaram a entrada, passaram por chuveiros (e notou o leve encolher de ombros dela), para finalmente alcançarem uma sessão de armários. Adrian se aproximou de um, murmurando um curto feitiço para que fosse destrancado, então puxou de dentro roupas dobradas e uma toalha, guardando as roupas que Ilíria carregava no lugar. Segurou a mão da garota novamente, finalmente a puxando para seu lugar de destino: a enorme "banheira" que ocupava os fundos do banheiro dos monitores, assistiu ela encarar tudo, desde os desenhos de sereianos nos vidros até o grande conjunto de torneiras presas as paredes, quase riu do jeito como ela parecia animada com aquilo tudo.

—Espero que você goste de piscinas, Ilíria.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora