Invasão de Propriedade Privada

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Oliver Wood não costumava invadir a casa das pessoas. Preferiria até se manter longe de pequenos delitos se fosse possível, mas lá estava ele, sujo de cinzas na lareira de Ilíria. Bem, ao menos poderia se consolar dizendo que invasão de propriedade era a cara dela.

Se limpou rapidamente, e só então deu um passo para a fora da lareira, observando o cômodo pequeno e um pouco estranho antes de, enfim, se dirigir a porta. Se perguntou o que exatamente deveria ser feito depois que você entrava na casa de alguém sem que essa pessoa soubesse, tinha que gritar para ela saber que estava ali? Se aproximar sorrateiramente e correr o risco dela arremessar algo em sua cabeça? Não era uma decisão fácil. Caminhou por um corredor, seu piso de madeira e as paredes claras, o silêncio era tão grande que poderia acreditar que estava no lugar errado, mas não, era exatamente o lugar que Heather lhe indicara.

Estavam de férias há quatro longas semanas, e ao que parecia a Saint-Sallow não se dava ao trabalho de responder as cartas. Não estava muito preocupado com isso, imaginou que, talvez, Ilíria estivesse ocupada demais, mas a Smith não chegara a mesma conclusão, o que levou Oliver a receber sua primeira carta "extremamente urgente", o pedindo para ir vê-la e mandar notícias, então lá estava, o mensageiro de Heather ao que parecia.

As portas estavam fechadas, as luzes apagadas, desceu uma pequena escada antes de finalmente encontrá-la, Oliver não podia fingir que não estava preocupado. Ilíria estava dormindo sobre uma poltrona pequena, seu pescoço pendurado em um ângulo estranho, suas pernas dobradas de um jeito que lhe fazia acreditar que ela não acordaria muito alegre. Observou aquele rosto lentamente, um pouco pálido demais, tinha certeza que ela perdera peso, e aquela sala parecia ser o único cômodo da casa em que ela se dera ao trabalho de pisar.

—Ilíria. —chamou baixo, sacudindo seu ombro gentilmente. —Vamos, Ilíria.

Olhos escuros se abriram, primeiro o encarando sonolentos demais para entender qualquer coisa, então ela gritou.

—MERLIN! —rolou para fora da poltrona, caindo no chão antes de se erguer rapidamente, agarrando um abajur e parecendo pronta para atirá-lo em sua cabeça.

Oliver tropeçou com o susto, mas conseguiu se equilibrar há tempo de ver aquela expressão completamente atordoada no rosto dela, sua face um pouco inchada pelo sono, as marcas da poltrona gravadas nela, e o abajur erguido entre os dedos finos, há um passo de ser lançado. Então gargalhou.

—Wood? —ela perguntou, então se irritou ao concluir que realmente era ele, e que o motivo para risada era o fato de tê-la assustado. —Droga, Wood! O que você está fazendo aqui?

—Você… não estava respondendo as cartas. —respondeu em meio a arfadas, tentando recuperar o ar, para só então perceber que esse motivo parecia um pouco idiota dito assim.

—E então você pensou que seria boa ideia invadir a minha casa enquanto eu estou dormindo? —exasperação correu sua voz, tentou controlar a respiração enquanto ajeitava o objeto de volta na mesinha, levou a mão ao peito tentando se acalmar.

—São três da tarde. —observou por algum motivo que não saberia dizer qual era.

—NÃO É PARA INVADIR A MINHA CASA EM HORA NENHUMA! —gritou, nervosa, ansiosa, irritada.

Caminhou em passos duros para a cozinha, se servindo de três copos de água antes de voltar a olhá-lo. Por Merlin, que tipo de ideia estúpida era aquela? Seu coração batia fora do ritmo, e algum canto sombrio da garota apreciou isso, estava tão vazia que mesmo raiva daquele grifinório idiota seria bom o bastante se a impedisse de se quebrar. Precisava sentir alguma coisa, o que quer que fosse.

—Eu vou te matar. —falou para ele com lentidão, Oliver se deu ao luxo de arquear as sobrancelhas. —Mas antes que eu faça isso, pode me explicar que merda você está fazendo aqui?

Ilíria era uma pessoa irritada, ainda assim nunca tinha visto ela xingar, era horrível de sua parte ter vontade de rir?

—Heather me pediu para vir. Ela me deu o número do seu canal de flú. —começou a explicar, a sonserina levou as mãos as têmporas como se achasse que sua cabeça estava há um passo de explodir.

—Quando as pessoas nos pedem coisas absurdas, Wood, nós dizemos 'não'. —era um tanto irônico dizer isso uma vez que Ilíria normalmente estava envolvida em situações absurdas, seu olhar disse isso a ela. Bem, felizmente ela tinha olhos, não um lança-chamas. —Poderia ao menos ter enviado uma carta.

—E você teria respondido? —essa era a questão que o levara até ali afinal: ela não respondia as malditas cartas nem mesmo com um "estou viva, vão para o inferno".

—Não, eu não teria. —os olhos castanhos dele diziam "e cá estamos nós", mas ela empinou o queixo com arrogância. —E isso deveria ser o suficiente para você não vir aqui.

—Então será que você pode me fazer o favor de escrever uma carta para a sua amiga? —devolveu, começando a se irritar.

—Por que não escreve você? Já invadiu minha casa mesmo, diga a ela o que quiser. —sorriu com desprezo, agarrando um saco de biscoitos e se encostando na bancada para comer.

Oliver sentiu vontade de agarrá-la pelos ombros e sacudir até que voltasse ao normal. Ela parecia doente, péssima e ingrata.

—Pegue um maldito papel e escreva para Heather dizendo que você não pode respondê-la, nem comer ou dormir direito pelo que parece, porque está ocupada demais se lamentando por ter sido chutada! —se arrependeu das palavras assim que elas saíram de sua boca, assim que os olhos escuros subiram para ele, descrentes e tristes, antes de se apagarem totalmente. —Ilíria…

—Vai embora se eu fizer isso? —perguntou baixo, a voz de alguém que desistira de brigar.

—Ilíria, eu sinto muito… —tentou se desculpar, sabia que o que dissera não era verdade, queria estender as mãos e apertá-la em um abraço.

—Me responda.

Ilíria rabiscou em um papel com rapidez, nada além de um "Estou bem. Não mande mais ninguém para cá, estou ocupada demais me lamentando por ter sido chutada para receber visitas. Ou responder cartas.", e entregou para ele não ligando para se leria ou não aquelas palavras desde que as lesse do lado de fora de sua casa.

Acompanhou Oliver até a lareira, enfiando pó de flú em sua mão antes que pudesse dizer qualquer coisa, queria ficar sozinha.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora