O Percurso

383 50 27
                                    

Estabelecer uma rotina fora difícil no início, principalmente quando Ilíria se revezava entre a raiva e a apatia. Alguns dias ela discutia incansavelmente, em outros ela fazia tanto silêncio que Oliver a olhava constantemente, checando se ainda estava por perto. Os passeios eram forçados, as refeições também, e com o tempo ela simplesmente começou a fazer as coisas sem que ele precisasse insistir.

A primeira surpresa para Oliver foi quando ele chegou e Ilíria estava preparando o café da manhã, no outro dia ela voltou a responder às cartas de Heather, encontrando um caminho novamente. Então houve o dia em que visitaram seu pai, e o jeito como ela o olhou ao perguntar se gostaria de tomar sorvete.

Oliver respirou aliviado na tarde em que ela organizou a casa, e teve que sorrir quando Ilíria o convidou para voltar à Floricultura Encantada, com roupas leves o bastante para que ele soubesse que ela pretendia se ocupar. De repente ela trazia flores para casa, o ajudava a cozinhar e queria caminhar pelas ruas trouxas.

Ilíria Saint-Sallow estava voltando à vida, e nada poderia tê-lo deixado mais feliz. Nem mesmo o dia em que a pegara marcando uma consulta com um psicólogo, embora o modo como as bochechas dela se tornaram manchas vermelhas ao ser pega tenha o divertido muito.

Sua mãe insistia todos os dias para que levasse Ilíria até sua casa, dizendo que queria conhecer a garota que roubara Oliver do quadribol, fazendo com que ele só então percebesse que não tinha mais treinado. Tomava café da manhã com a garota todos os dias, e só voltava após o jantar, seu mini campo de quadribol estava terrivelmente negligenciado. Resolveria isso depois, sua questão no momento era outra.

Os dias iam se tornando leves e fáceis, as conversas eram naturais e o contato se tornara algo comum para ambos, aproveitavam sua rotina sem muitas surpresas, faziam a maior parte das coisas juntos, Oliver até esperava o fim de suas sessões de terapia, se ocupando com a leitura de algum livro qualquer. Às vezes ela parecia bem, e aproveitavam para dar uma volta, nos dias que ela não o olhava nos olhos, Wood a guiava diretamente para casa, deixando a menina se enroscar no conforto de um cobertor macio. Tudo bem, ela fazia o máximo que podia, e Oliver não pretendia deixá-la, não quando sabia que continuava precisando dele.

Observou-a com curiosidade no dia em que entendeu que Ilíria tentava retribuir sua gentileza, ela não era o tipo de pessoa que distribuía abraços e agradecimentos, sua gratidão era muito mais sutil. O modo como passara a preparar cappuccino para ele, o dia em que o ensinara a compor arranjos, o jeito com que acariciou o cabelo dele em uma tarde, quando assistiam a um filme e Oliver simplesmente deitara a cabeça em suas pernas. Um tratado silencioso pairava sobre eles, a promessa de que estariam ali.

Merlin, o coração de Oliver remexia sempre que lembrava de uma tarde especialmente divertida que passaram na floricultura. Ilíria estava falante pela manhã, o que era uma coisa boa, mas ela costumava ficar quieta quando estava remexendo entre as plantas, e naquele dia ela resolvera que queria ouvir música. E lá estava ela, as mãos enfiadas em um vaso de margaridas, mas seu pé batendo no chão ritmadamente, sua cabeça balançando conforme ela cantava baixinho.

Ele a olhou por vários minutos, um sorriso nos lábios enquanto considerava uma ideia, e quando uma música animada encheu o lugar, ele tomou uma decisão. Caminhou até ela em passos silenciosos, Ilíria se mexeu assustada ao sentir um par de mãos a puxando pela cintura, se esquivando rapidamente e arqueando as sobrancelhas para a expressão traquinas que ele tinha.

—O que foi? —perguntou desconfiada, limpando as mãos em um lenço.

—Vamos dançar. —propôs galanteador, e contrariando o franzir de sua testa, os lábios dela se levantaram um pouco, como se achasse graça.

—Por quê? —devolveu, soltando o pano e segurando a mesa com os dedos.

—Preciso mesmo de um motivo? —Oliver jurou que ela iria dizer que sim, mas o refrão da música começou, e ela cedeu.

A Saint-Sallow estendeu a mão para ele, o Wood a puxou para perto e a girou duas vezes. No início ela parecia constrangida e sem jeito, até que estavam na quarta música e Ilíria gargalhava, o acompanhando em um passo particularmente estranho. Oliver não tinha certeza de quantas danças se passaram até que se tornassem suados, risonhos e tontos.

Se houvesse mais alguém por perto, diria que eles dois estavam próximos demais, porque mesmo o grifinório sabia disso. A garota estava quase apoiada em seu peito, respirando rapidamente, o sorriso fixo em seus lábios, e Oliver a teria beijado se fosse qualquer outra pessoa, se passasse em outro momento, e Godric sabia o quanto ele gostaria de beijar a sonserina de sangue quente e humor afiado, mas…

Mas ele sabia que Ilíria não estava pronta para algo deste tipo. Ela estava se recuperando, precisava de um amigo que a apoiasse, que estivesse por perto, e Oliver não botaria isso a perder. Fora egoísta com ela uma vez, e a distância o ensinara muitas coisas, não repetiria esse erro. Se contentou em cercá-la com os braços, e sorriu satisfeito quando Ilíria devolveu o gesto, o abraçando de volta.

Oliver voltou à realidade quando Ilíria fez um comentário sobre o filme que estavam vendo, uma invenção trouxa de que ele gostava. A garota botou o pé frio em sua perna ao ver que ele não estava prestando atenção, e ele aproveitou a posição em que ela estava sentada para derrubá-la do sofá. Ilíria resmungou enquanto se levantava, mas sabia que ela não estava irritada, então não deu atenção.

A Saint-Sallow ergueu o cobertor que ele usava, escorregando para dentro e se sentando com sua lateral colada no Wood. Oliver estendeu o braço, passando por seus ombros e deixando a mão quente descansar no braço dela, nenhum deles protestou, se adaptando a posição e ao carinho.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora