O silêncio foi tudo que restou

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Não sabia o que fazer. Não sabia se dizia algo ou se ficava em silêncio, se deveria pedir desculpas, ou agradecer, ou então dizer algo completamente impróprio apenas para diminuir a pressão que existia naquela sala. Há muitas semanas não ficava cara a cara com Adrian.

Havia caminhado até a sala do professor de poções com tranquilidade, e não se incomodou ao ouvir um longo e sarcástico discurso sobre seu comportamento, nem mesmo saber que cumpriria detenção com aquele homem todos os dias até que finalmente as férias começassem a fez tremer, estavam no fim do ano de toda forma, apenas mais três dias e teriam a final de quadribol, então a nomeação da Taça das Casas e enfim o ano letivo se encerraria, poderia suportar esse castigo. O Diretor da Sonserina nunca saberia que o verdadeiro castigo seria ter que voltar para uma casa vazia.

Então, quando finalmente recebeu licença para se retirar, encontrou Adrian Pucey, Oliver Wood e Heather Smith parados a porta. Encarou a amiga, sendo obrigada a dar uma risada ao ouvir Heather dizer que Madame Pomfrey não conseguira ajeitar o nariz da menina em sua posição original, então Ilíria havia oficialmente remodelado um rosto, se sentia estranhamente aliviada, talvez por ter jogado semanas de frustração em algum lugar. Olhou para Oliver sem entender como exatamente ele soubera de tudo que havia acontecido com tanta rapidez, tentando se demorar nele apenas porque sabia que Adrian esperava por alguma coisa, não importava o que era: certamente que não estava pronta para isso.

Não conseguiu fugir por muito tempo, quando finalmente subiu os olhos para ele, encontrou uma expressão que não vira nem uma única vez durante os meses de relacionamento. Aflição, preocupação, desconforto. Precisava dizer algo que não queria dizer, e que ela não queria escutar. Segurou o pulso pequeno, a puxando gentilmente para uma sala e a trancando rapidamente. E assim Ilíria acabara naquela situação, onde o silêncio parecia ser seu melhor amigo e pior inimigo ao mesmo tempo.

—Eu preciso te dizer algo e realmente não sei como. —comentou ao ver que ela estava obviamente desconfortável.

—Espero que não seja algo sobre como eu deveria me controlar. —devolveu com um sorriso estranho, deveria ser uma brincadeira, mas não soava certo. Adrian abriu um sorriso pequeno, então fez um som de desdém para ela.

—Não é, embora devesse. —apontou implicante, seus olhos desceram para a mão ferida dela, Ilíria só tivera tempo de limpá-la de qualquer jeito contra a própria capa, então ainda era possível ver os pequenos cortes abertos em sua pele, assim como o sangue seco. Pegou a mão dela ainda meio sem jeito, a erguendo o bastante para que pudesse aproximar a varinha, fechando cada um dos ferimentos e limpando o sangue com magia, até que tudo que restasse fossem as mãos dadas. Olhou para elas por um instante, então ergueu o rosto ao reunir coragem. —Não vou voltar para Hogwarts.

—O quê? —perguntou surpresa, sem entender o que aquilo deveria significar.

—Vou para Durmstrang no próximo ano. —assimilou as palavras lentamente, quase como se seu cérebro tivesse desistido de processar as informações, e quando o garoto percebeu o entendimento brilhando nos olhos escuros, continuou. —Ilíria, eu sinceramente não acho que isso tem dado certo.

—Por quê? —mal tinha voz, mas facilmente usaria o que restou para pedir que ficasse.

—Eu não estou nem um centímetro mais perto de te superar do que eu estive no dia em que terminamos. —explicou, e Ilíria sentiu como se ele a socasse quando viu a tristeza naqueles olhos, Adrian vinha sofrendo tanto quanto ela. —Fazem semanas e eu continuo te amando, eu não sei se eu sou capaz de não fazer isso, mas sei que cada manhã em que eu tenho que te olhar, eu fico um pouco mais distante do objetivo.

Ele estava dizendo que a amava, não estava? Então por que ambos tinham que estar tão tristes?

—Eu te amo. —não soube porque disse isso, não parecia o momento certo para uma declaração, mas era a única coisa que queria dizer.

Adrian suspirou baixinho, abaixando as mãos e as soltando, Ilíria se sentiu prestes a ruir, mas ele deu um passo a frente, pegando o rosto dela entre as mãos do mesmo jeito que gostava de fazer quando estavam juntos. Segurou as bochechas com carinho, observou aqueles olhos escuros e tristes antes de colar as testas.

—Eu sei que ama, meu bem. —sussurrou. —Mas não vai me esquecer enquanto estivermos perto demais para isso, eu não quero que fique presa a mim para sempre.

Como dizer que não sabia se conseguiria esquecê-lo um dia? Perto ou longe, Adrian ainda era a única definição de amor que conhecia, a única que queria.

—Por favor, não vá. —nem saberia dizer se sua boca se movera ou não, estava fixa nos olhos deles, implorando para que não a deixasse.

—Você não precisa de mim, querida, nunca precisou. —falou docemente, mas Ilíria mal ouviu, porque naquele momento viu no rosto dele a certeza de que Adrian partiria independente do que dissesse, não poderia convencê-lo.

Segurou as mãos dele ainda em seu rosto, sentindo a pele suave, querendo viver no amor com que ele ainda a olhava, e foi então que percebeu que precisava sair dali. Puxou as mãos dele para longe, as soltando e disparando porta à fora, corredor à fora e escola à fora, em busca de um oxigênio que não corroesse seus pulmões, mas não o encontrou em lugar algum. Precisava de algo que não sabia o que era, do consolo que nunca em sua vida tivera, e do amor que nunca mais veria. Adrian deixaria o país, oficialmente a deixando para sempre, e não sabia se estava pronta para viver um dia que fosse sem ele, sem a perspectiva de ao menos poder olhá-lo.

Nos três dias que correram o silêncio de Ilíria se estendeu, Heather sussurrou a Oliver que ela não abriria a boca nem mesmo se precisasse dela para buscar ar. Estava vazia.

Todos os Erros - Oliver WoodOnde histórias criam vida. Descubra agora