Capítulo final - Abismo

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Depois que Ahsley atravessou o portal, Dylan deu as costas a ele, pois ainda podia ver seus amigos do lado de lá enquanto uma brisa congelante era sua companhia, na tristeza inquietante que sentia. Desceu as escadas que levavam ao topo do Monte Celeste, num tormento silencioso e só seu, porque sabia que seus amigos só estariam realmente seguro, se os serviçais de Morddiur os vissem, ao mesmo tempo que pudesse escapar. Dylan, porém, não sabia exatamente como fazer isso acontecer. E então, achegando-se ao portão que dava para a escada às suas costas, descansou sua canhota sobre ele, quando lágrimas lhe desceram a face. Doía-lhe saber que esteve tão perto de voltar a seu mundo, mas que não pôde fazê-lo, pelo risco que corria seus amigos e as palavras de Lyndrahir, as quais agora vinham à sua mente:

- No leste das Montanhas Escarlates, está Grandursko, a Floresta Vivificante, e lá mora um Alfūrah. Ele é alguém a quem eu confiaria minha vida, pois o conheço. Azardel é seu nome. - Lyndrahir explicou. - Hás de ir, portanto, e encontrá-lo, Dylan, e contar-te-ás o que te informei a ele. O Fragmento em teu corpo o ajudará com isso, e saberá quando estiver próximo do local em que ele vive. Azardel entenderá tua causa e certamente o ajudará e o manterá seguro.

Dylan assentiu, como que decidido a fazer isso.

- Agora hei de partir, mas o deixo minhas emoções, para que te sirvam de conforto na aflição e estejam contigo até estares realmente seguro - Lyndrahir comunicou. - Tem cuidado com o temível Grendel, um ser de olhos vermelhos, e também com a horda Zarkōnh, seres repugnantes e perigosos como víboras, que com ele está, Dylan. Espalhei a assinatura do Fragmento e teu cheiro e de teus amigos, em muitas direções. Isso também criará ilusões, que servirão para confundir os que perseguem a ti, se o Fragmento tornar a evoluir.

- Isso é mesmo um adeus? - perguntou Dylan, após uns segundos em que ficou a olhar para ela.

- Quiçá - respondeu ela, simplesmente. - Peço-te que, por mim e as outras Árldenry, se desculpe com seus amigos, porquanto quando pudemos, não os ajudamos em vossa aflição... - e o garoto acenou positivamente a seu pedido. - Despeço-me agora, Dylan... Que a luz da Alva seja convosco. - Disse essas palavras, e se foi, subindo num levitar lento enquanto o garoto ainda a olhava.

Desde então, decidira por seguir essa opção dada, pois de fato teve confiança nas palavras da Árldenry, e, embora isso pudesse, de alguma forma, aparentar ingênuo para alguém como ele, soubera que ela não possuía má intenção em coisa alguma, antes mesmo de receber suas emoções, mas nada saiu como esperou. Os inimigos, para seu grande desespero, certamente deviam estar vindo àquela direção. E tudo que conseguiu fazer foi ficar ali, forçando sua mente a achar uma boa solução ao que deseja fazer, mas sempre que a encontrava, ele mesmo chegava a ver seus problemas, e por isso sempre desistia sem que ao menos tivesse cogitado arriscar uma delas, em sua apreensão, e então entendeu o quão difícil era para ele ser genioso, quando seu psicológico estava tão abalado. De todo modo, desejava executar um ato de altruísmo, que a outros ainda poderia parecer infantil, insano e irresponsável, mas que, sendo bem-sucedido, daria-o maior certeza da sobrevivência de seus amigos, e também a dele próprio.

Quando enfim chegou a uma ideia que desejou arriscar, Dylan, subitamente, enquanto olhava o chão, deu-se por conta de uma sensação sombria, que lhe eriçou os pelos do corpo, de maneira que um grande medo se projetou vagaroso em sua mente, como as sombras do crepúsculo e a inevitável chegada da noite. Ouviu grunhidos conhecidos e fungantes. E então, muito lentamente, ergueu seu olhar para o que havia adiante, e ali fitou, com grande desespero, inúmeros Garm e Zarkōnh parados, aguardando, com aqueles olhos luzentes e ominosos, porque, na vanguarda, estavam dois seres altos e imponentes em armaduras, de olhos obscuros, carregando espadas em suas cinturas.

O Guerreiro do Amanhã: Jornada nas SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora