10 - Lástima

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Maeve estava dolorida. Tudo doía. Pernas, braços, costas, tudo. Mas para sua surpresa, após ter lutado com vinte cópias de Octavian e ter vencido todas elas, ela não estava cansada. Dolorida sim, porém não exatamente exausta.
Se sentira surpreendentemente leve e libertada enquanto batalhava com os clones, e talvez mais surpresa ainda por não ter conhecimento de que possuía tal força. Nunca tinha se sentido tão poderosa antes. Parecia que um espírito antigo de guerreira estava tomando posse do corpo dela, e no momento em que Maeve mais precisou, esse suposto espírito desencadeou suas habilidades fantásticas. Era tudo tão surreal e estranho, mas ao mesmo tempo tão sedutor e incrível que só de pensar no assunto sua cabeça girava com tanta confusão.
Agora, sentada embaixo de um enorme carvalho com Octavian a seu lado, ela disse:
- Nunca soube que eu era capaz de fazer todas essas coisas.
- Todos nós temos uma força extrema no nosso interior - disse Octavian, taciturno. - O único empecilho é saber o momento certo de usá-la e como libertá-la. Como eu já disse, a minha intenção quando mandei aquela coisa na estrada para perseguir você foi no intuito de fazer com que você usasse seus poderes em um breve período de ameaça. E deu certo, pois num momento de necessidades ele veio em seu auxílio.
- Foi sinistro, devo admitir. Mas eu me senti tão... completa.
- Entendo a sensação. Agora me diga o que achou de estar no calor de uma luta.
- Foi como se uma parte de mim estivesse adormecida e tivesse acabado de despertar.
Octavian ficou em silêncio, esperando que Maeve continuasse, e ela o fez:
- Mas ainda assim não consigo entender como fui capaz de fazer tudo aquilo. Nunca tinha estado numa luta antes.
- Você acreditou que era possível. A fé e a esperança são as armas mais poderosas que alguém pode ter, e a partir da hora que você passa a acreditar em si mesma, você é capaz de fazer qualquer coisa.
- São só palavras.
- Não são. Você viu que não. Tente. Faça. Acredite. Vá em frente.
Maeve o olhou como se ele fosse louco, mas Octavian até agora não tinha feito nada para que ela tivesse dúvidas em relação à verdade por trás de suas palavras. Ele sabia das coisas. Katrina estava certa quando falou para a filha depositar sua confiança nele.
Maeve se concentrou e apontou o braço em direção a uma pedra. Ela sentiu seu corpo ficar suave de repente, como se um peso enorme tivesse sido tirado dos seus ombros. Pensou que era possível, que ela podia fazer aquilo. E aconteceu.
Em questão de segundos a pedra desafiou todas as leis da gravidade e começou a levitar. Maeve não pôde conter uma risada nervosa e incrédula. Orgulho e espanto tomavam conta dela enquanto trazia a pedra para mais perto até tê-la em mãos.
- Eu disse - Octavian murmurou sabiamente. - Não é tão difícil se você tiver confiança.
Maeve assentiu e tentou outra coisa.
Mirando num tronco de árvore, ela fechou a mão em punho e fez um movimento brusco para a frente, e quando o fez uma esfera de raios vermelhos explodiu da sua mão e abriu um enorme buraco fumegante de onde atingira a árvore. Uma leve fumaça saía do tronco danificado.
- Impressionante - Maeve disse. - Realmente impressionante.
- Ainda há mais coisas a serem descobertas - disse Octavian. - E posso ensinar, se você deixar.
- É claro que eu quero. Se isso for o necessário para salvar meus pais, então eu aceito qualquer coisa. Faria de tudo por eles.
- É uma atitude nobre, Maeve, você querer a segurança das pessoas que você ama. Mas quem irá manter você a salvo?
- Nem tinha pensado nisso.
- É claro que não pensou. Estava ocupada demais pensando nos outros.
- Isso é ruim?
- Não - Octavian afagou a cabeça de Maeve com carinho e afeto, e ela deixou o toque reconfortante e quente acalmá-la. - Isso só mostra o quanto você é uma boa menina.
Estava começando a escurecer, o sol se pondo dava lugar à uma linda lua cheia. Ela levantou e limpou a parte de trás das calças.
- Acho que devo ir agora - ela anunciou. - Está ficando tarde. Foi bom conversar com você... E esclarecer as coisas. Obrigada.
- Ah, mas algumas perguntas ainda estão por vir, e as respostas podem não ser agradáveis.
- Já estou acostumada com isso. Só quero perguntar mais uma coisa.
- Fique à vontade.
- O que essas vozes e sombras significam?
Octavian olhou para o chão de terra, pensando e formulando uma resposta clara e simples.
- As vozes em si não são um problema, elas apenas anunciam coisas que estão para acontecer ou lhe dão conselhos em situações difíceis, muitos Hereges passam pelo mesmo. E as sombras são apenas um meio de transporte rápido para chegarmos em outros lugares sem esforço. Eu poderia facilmente me esconder entre as sombras de uma dessas árvores, desaparecer e sinplesmente reaparecer em outro lugar. Foi assim que apareci para você naquela noite em seu quarto e como surgi dentro do seu espelho.
- Inacreditável. Ainda tenho muito que aprender, pelo visto. E acho que quero ser sua aprendiz. Com isso quero dizer que aceito meu destino, independente dos perigos que venham a acontecer.
- Fico feliz em ouvir isso - Octavian sorriu. - Vou dar o meu melhor para fazer de você uma arma mortal e impedir que qualquer mal lhe aconteça.
- A morte faz parte da vida - Maeve deu de ombros e virou-se em direção às árvores.
Enquanto observava a menina desaparecer aos poucos no meio da floresta, Octavian cedeu e começou a chorar.
Era impossível não criar algum laço com a menina ou deixar de sentir algum tipo de afeto para com ela. Para uma garota de 14 anos que sofrera traumas horríveis no passado, Maeve era muito precisa e firme, destemida e sempre disposta a enfrentar o que fosse para proteger as pessoas que amava.
Ela era uma verdadeira heroína. Mas como toda heroína, ela teria grandes e perigosos vilões para enfrentar, e isso poderia significar sua destruição.
- Sinto muito, Maeve - ele sussurrou em meio às lágrimas. - Você merecia um destino melhor do que este.

Escolhidos - Entre os Hereges e Amantes [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora