Depois de quase 30 minutos de espera, a pizza finalmente chegou. Fora um um pouco torturante e incômodo ficar esperando aquele tempo todo, considerando que Joan e Brenda estavam bastante desconfiados em relação ao que Maeve fizera o resto da tarde.
Maeve ficara preocupada, receosa que nesse meio-tempo Joan ou Brenda a enchessem de perguntas. Por sorte, eles respeitaram o silêncio da amiga. Não ficaram satisfeitos por ela guardar segredo, mas não a pressionaram. Ela ficou grata ao menos por isso. Não seria inconsequente ao ponto de revelar o que estivera fazendo com Octavian.
Enquanto esperavam, eles ficaram brincando entre si, fofocando e falando de coisas normais de adolescentes. Maeve ficou feliz por seus amigos estarem ali. Ela quase se sentia como uma garota comum, embora ela não fosse. Nunca mais seria normal. Longe disso. Sua nova vida estava apenas começando, e ela torcia para que pudesse viver o suficiente para desfrutar dela o máximo que pudesse, de preferência com Katrina a salvo. Mas a segurança da mãe e do pai, de Joan e Brenda, só dependia dela. Não podia contar a eles sobre todas as recentes e perturbadoras descobertas, e tão pouco podia sequer mencionar seus poderes. Era imperativo que tudo continuasse em segredo, para a segurança de Maeve e daqueles que a rodeavam. Ela tinha que pôr na cabeça que a segurança daqueles que ela amava estava por sua conta, não iria fracassar, não deixaria que nenhum mal acontecesse a eles.
Maeve pegou o dinheiro que o pai deixara ali caso ela quisesse comprar algo e pagou ao moto boy, agradecendo. Ele era muito bonito. Alto, olhos claros e cabelos castanhos que escapavam pelo o capacete que usava e formando uma bela cascata de cachos que se formava acima dos olhos. Ele encarava Joan, que estava esparramado no chão com Brenda, com um sorriso bobo no rosto, parecendo não notar Maeve. Ela aproveitou a situação e sussurrou baixinho:
- Ele é lindo, não é? Se chama Joan, e é solteiro. Posso dar o número dele se você quiser.
O entregador rapidamente pegou um bloco de anotações e uma caneta do bolso de trás da calça.
- Pode falar - disse ele, esperançoso.
- Anota aí... - antes que Maeve pudesse terminar, Joan chegou repentinamente e fuzilou Maeve com o olhar. Em seguida olhou docilmente o moto boy e disse da forma mais educada possível:
- Obrigado, nós já temos tudo que precisamos. Sabe? A comida. Então acho que já terminamos. Tenha uma boa-noite!
E sem esperar uma resposta, Joan bateu a porta na cara do entregador de pizza.
Maeve olhou para o amigo, chocada.
- Mas que grosseria foi essa, menino? Enlouqueceu?
- Você é que deve ter exagerado na maconha de novo! - Joan arregalou os olhos. - Você ia dar o meu número para aquele cara, não ia? E se ele fosse algum maníaco? E se ele quisesse me estuprar?
Brenda interferiu na discussão:
- Do jeito que você é pervertido, aposto que iria dar para ele de livre e espontânea vontade.
- Fique quieta, Maria do Bairro - Joan apontou um dedo para Brenda, sinalizando que ela se calasse, e voltou a atenção para Maeve. - Eu sou gay, Maeve LeBlanc, não uma prostituta.
Mais uma vez, Brenda interferiu:
- Tenho dúvidas em relação à isso.
Antes que Joan respondesse, Maeve disse calmamente, tentando segurar o riso:
- Ele até que era bem bonitinho, sem falar que você tá precisando mesmo esquecer o traste do Misael e seguir em frente. Você não pode me culpar por querer arranjar um bom partido pra você.
Joan arqueou as sobrancelhas elegantes e bem cuidadas.
- Hm, tudo bem. Sei que não fez por mal.
- Claro que não. Sabe que só quero seu bem.
- Sim. Eu sei.
Maeve puxou Joan pela mão e depois lhe deu um abraço longo e apertado. Era uma sensação tão boa, pura, verdadeira e familiar, que Maeve sentia que era ali, nos braços de Joan, que estava seu conforto. O amigo era uma das únicas coisas que ainda eram verdadeiras para ela. Depois de ter visto o mundo em que vivia com outros olhos, poucas coisas faziam sentido agora, mas apenas uma coisa era certa: independentemente dos desafios que viessem pela frente, seus amigos eram seu porto seguro, e ela faria de tudo para mantê-los felizes.
Brenda pigarreou, interrompendo aquele momento fraterno.
- Minha nossa, quanto melodrama. Sinceramente, eu queria estar morta e enterrada pra não ter que ver essa cena.
- Largue de ser invejosa, vá - Joan brincou. - A essa altura pensei que estivesse claro para você que lágrimas de crocodilo não me comovem.
- Toda essa baboseira sentimental só me deixou com mais fome - Maeve riu, aproveitando o breve e raro momento de alegria ao lado dos amigos. Ela foi até a cozinha, pegou uma faca e depois voltou para a sala, caminhando até a mesinha de centro. Maeve abriu a caixa de pizza e cortou uma fatia, sentindo o saboroso aroma do queijo mussarela e da massa macia e suculenta. - Quem quer o primeiro pedaço?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Escolhidos - Entre os Hereges e Amantes [Livro 1]
FantasyTudo o que você mais ama pode sumir em um piscar de olhos. Maeve LeBlanc levava uma vida tranquila ao lado dos pais, até que um dia a garota sofre um ataque que resulta no sumiço repentino e misterioso de Katrina, sua mãe. Depois de meses tentando d...