Escolhidos - Entre os Hereges e Amantes [Livro 1]

16 - Caminho sem Volta

Como já era de se esperar, Maeve não conseguiu prestar o mínino de atenção nas aulas seguintes, nem mesmo quando o professor de química chamou sua atenção pela terceira vez.
Ela estava eufórica e um pouco confusa em relação as revelações que Willen fizera. Ele tinha dito que ainda faltavam quatro Sobrenaturais restantes para serem encontrados, e assim fechar o grupo dos dez Escolhidos. Mas eles eram sete: Willen, Rick e Kyle, Thaylla, Emily, Jully e Maeve. Havia alguma coisa errada, e ela precisava descobrir o que era. Se Maeve não fosse uma das supostas crianças da profecia, então o que ela era de verdade?
O tempo estava passando, e suas dúvidas só aumentavam.
Se quisesse respostas, precisaria primeiramente questionar.
Maeve precisava saber se Willen e os outros estavam dispostos a ajudá-la.
Com exceção de Thaylla e Kyle, os outros Sobrenaturais haviam sido bastante legais com ela.
Willen fora muito simpático, e mostrara muita paciência por explicar cada detalhe das suas histórias para Maeve. Rick parecia um tanto excêntrico, mas mesmo assim, um cara legal. Emily e Jully foram gentis e acolhedoras. Os únicos que implicaram foram Thaylla e Kyle.
Maeve até que podia entender o motivo de Kyle guardar tanto rancor e ódio no coração, afinal não devia ser fácil abandonar a família em nome de algo sinistro que não se tem nenhum tipo de conhecimento. Mas ela não conseguia entender por que Thaylla era tão má com ela. Maeve não fizera nada contra ela para que Thaylla a odiasse tanto.
Porém, era melhor começar a resolver todos os desentendimentos, porque eles estavam sendo obrigados a trabalharem juntos e não seria nada bom eles brigarem entre si constantemente.
Talvez Maeve e Thaylla se dessem bem dali para a frente, com o passar do tempo.
Ela não deixaria que uma garota mal-humorada e baixo astral a impedisse de encontrar sua mãe. Não chegara tão longe no seu treinamento para desistir agora.
Mesmo que estivesse estressada e com a cabeça nas nuvens, ansiosa e assutada por tudo que descobriu nas últimas semanas, ela estava contente por estar perto de encontrar sua mãe e trazê-la de volta para casa.
Então a partir de agora esse era o seu plano: ela iria seguir as instruções de Octavian, ir para a Terra Sombria afunilar em seu treino e resgatar sua mãe nesse meio-tempo.
Ela não tinha a menor das intenções de fazer parte desse mundo de criaturas sombrias.
Embora ela fosse parte ativa desse novo universo de magia e segredos, ela não tinha interesse de integrar nele.
O motivo de Maeve ter chegado tão longe era Katrina.
Assim que a tivesse de volta, Maeve voltaria para casa e deixaria os Sobrenaturais para trás, e depois ela voltaria para o pai e os amigos, com a mãe ao seu lado novamente.
Tudo ficaria bem e normal outra vez.
Os alunos começaram a recolher seus materiais, guardando-os na mochila, e levantando-se das cadeiras. A sineta tocara e Maeve não notara, perdida em seus pensamentos.
Ela fez o mesmo e seguiu os colegas para fora da sala de aula quando sentiu uma mão agarrá-la pelo pulso e puxá-la para o canto.
- Oi, Maeve - disse uma voz delicada de menina. - Como você está?
- Bem - Maeve disse lentamente, se recuperando do susto. - E você, Emily?
- Ótima, obrigada.
O cabelo loiro claro de Emily estava jogado para trás, as cascatas lisas caindo até metade das costas. Os olhos cor de mel entraram brilharam, entrando em contraste com a pele alva e macia.
Maeve ficou repentinamente mais calma e relaxada quando Emily abriu um sorriso caloroso.
- Posso te ajudar em alguma coisa?
- Na verdade só queria saber se está tudo bem mesmo - Emily riu discretamente. - Achei que as revelações do Willen pudessem ter te abalado de alguma forma. Todos nós ficamos chocados quando contaram a verdade para nós. Sabe como é, abandonar sua vida comum para embarcar numa nova jornada é difícil. Estamos tão acostumados com o que temos agora que não nos preocupamos com as coisas que podemos conquistar no futuro.
Maeve passou a mão pela cabeça.
- Tem razão, em tudo. Na verdade,não diria que estou " chocada " nem algo do tipo. Diria que estou um pouco... surpresa. Mas não é nada demais.
- Admiro isso em você. Nos conhecemos há menos de duas horas, mas mesmo assim... você é forte.
- Como assim? - Maeve olhou Emily com mais atenção.
Emily deu uma risadinha e levantou os ombros graciosamente, inspirando.
- Bom, você está lidando com tudo isso de uma forma tão natural, como se todas essas coisas que estão te acontecendo fosse a coisa mais normal do mundo. No dia que Octavian nos disse que teríamos uma nova recruta para trazer para o nosso lado, pensei que você iria chorar e se esconder, dizer que isso não passa de um sonho e que é tudo loucura e todo esse clichê. Mas você agiu totalmente ao contrário: você está mostrando força, coragem e determinação mesmo quando as circunstâncias exigem que você seja fraca, medrosa e indefesa. Não entendo como consegue se manter em pé e firme mesmo quando o mundo está tentando te derrubar.
Maeve nunca parou para pensar a respeito disso. Quer dizer, algum tempo depois do desaparecimento de Katrina e do surgimento das sombras e das vozes, ela se isolara do mundo e chorou, achando que estava completamente louca.
Quando viu que se lamentar não adiantaria de nada, resolveu que enfrentaria os problemas ao invés de continuar na situação de vítima.
- Obrigada por dizer isso - Maeve disse, sinceramente. - É bom saber que alguém acha que sou corajosa mesmo quando eu não reconheço isso em mim. Mas se quer saber o segredo dessa minha " força ", pode parecer baboseira, mas é a verdade: o amor é o que me fortalece. O amor que sinto pela minha mãe, pelo meu pai e pelo os meus amigos é o que me impulsiona para frente. Aprendi a extrair forças dos meus medos e começar a enfrentar o que me assusta. Acho que só estou de pé agora por causa de Octavian, ele me ajudou bastante nesses últimos tempos. Ele me protegeu até mesmo quando não estava presente.
- Octavian é um pai para nós - Emily se encostou na parede da sala de aula. - Não sei onde estaríamos sem ele agora.
- Vocês realmente tem sorte por ter ele por perto.
Emily franziu as sombrancelhas, estranhando as palavras de Maeve.
- Vocês? Não quer dizer nós?
Maeve respirou fundo antes de continuar.
- Olha só, Emily, eu gostei bastante de você e de todos os outros, de verdade. Mas não posso continuar com isso. Quando minha mãe estiver segura e viva, voltarei para casa e tudo vai voltar a ser como antes dessa toda loucura acontecer.
Emily checou o fluxo de alunos que passavam apressados pelos corredores, em seguida ela se aproximou de Maeve e sussurrou baixinho, para que ninguém ouvisse:
- Não quero te assustar, Maeve, apenas te avisar. Preste bem atenção nas minhas palavras, porque falo isso por experiência própria. Uma vez que você toma esta estrada, é impossível voltar atrás. E se você tiver a sorte de conseguir voltar, nada nunca mais será igual a antes.