4 - Desavenças e Conselhos

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Depois que o pai saiu, Maeve foi até o seu quarto no primeiro andar, para se arrumar para a escola. Organizou os livros e cadernos na mochila, trocou de roupa, pôs o gorro de lã na cabeça e amarrou seu casaco quadriculado na cintura. Em seguida foi no banheiro escovar os dentes e mais uma vez pensou se Octavius iria visitá-la novamente. O que a deixava mais frustrada era que não sabia como entrar em contato com ele outra vez. Ele era a única chave para suas perguntas. Sem ele, estaria perdida. Queria que ele voltasse tanto quanto queria encontrar sua mãe. Isto é, se tudo aquilo não tivesse sido mais um sonho ou fruto de sua imaginação.
Enquanto pensava nisso, uma silhueta escura no espelho chamou sua atenção. Havia um círculo preto no centro plano do espelho, até que começou a se avolumar ainda mais e mais, e só parou de crescer quando tomou a forma do busto de um homem encapuzado.
- Olá de novo, Maeve - ela reconheceu aquela voz macia.
- Octavius! - falou ela, aliviada. - Pensei que não o veria de novo.
- Pude sentir seu receio quanto a me ver outra vez. Senti sua preocupação, e resolvi fazer uma breve aparição para mostrar como aquilo que aconteceu noite passada não foi um sonho. Foi tudo real.
- Então... Eu não sou louca?
- Longe disso. Você é a Ignorante mais sensata que já conheci. Mas ainda tem muita coisa para aprender.
- E para entender.
- Isso também. Mas como eu disse, a escolha de saber ou não é inteiramente sua.
- Eu já disse que aceito. Não tem nada que eu queira mais do que entender o que se passa comigo.
- Você diz isso porque não sabe as consequências. Desejo muito que se junte a nós, mas não quero que destrua sua vida. Muita coisa estará em risco se decidir rápido demais, sem refletir melhor suas opções. O mundo que você acredita conhecer vai mostrar-se a maior farsa na medida que você conhecê-lo de verdade. Inclusive a sua vida pode estar em perigo.
Maeve não esperava aquilo. Achava que ele poderia apenas ajudá-la a encontrar Katrina, e não matá-la. Agora ela já não tinha certeza de no que estava se metendo.
- Mas... Não sei. Preciso de tempo para pensar. Se é tudo tão perigoso assim... Só quero achar minha mãe e entender o que aconteceu naquela estrada.
- É uma escolha sábia. A pressa é a inimiga da verdade. - Octavius pareceu sorrir dentro do espelho. - Quando você tiver decidido, eu saberei. E dependendo da sua escolha, saiba que você tem um potencial incrível. Não poderiam ter escolhido uma heroína melhor do que você para decidir o nosso destino.
Então ele desapareceu, e Maeve encarou seu próprio reflexo, perplexa. Por que alguém como ela faria diferença em alguma coisa?

***

- Ei, até que enfim - disse seu amigo Joan, sorrindo. - Pensei que tivesse morrido.
- Quem dera fosse - Maeve disse, rabugenta.

- Quantos pensamentos alegres, moça.

- Não, pensar em coelhinhos morrendo me alegra. Estou incrivelmente apática hoje.

- Só hoje?

Maeve riu, revirando os olhos. Ultimamente, Joan era o único que conseguia substituir suas lágrimas por sorrisos e risadas. Ele era o único que tinha ficado do lado dela após tudo que tinha ocorrido, e a amizade dele era uma das poucas coisas boas que lhe restaram.

Joan estava sentado na calçada de sua casa esperando a amiga para irem juntos para a escola, como sempre fazia. Ela ajudou a levantá-lo e os dois começaram a rota costumeira para o colégio.

- Então, falou com Misael ontem? - ela perguntou, dando uma cotovelada de leve nele.

- Não - Joan disse, triste. - Esperei que ele me ligasse, mas ele não... Ele não ligou.

- Que trouxa. Ele não sabe o que tá perdendo. Se você curtisse se a fruta, eu te pegaria. Sem dúvidas.

- Estou lisonjeado com isso.

Escolhidos - Entre os Hereges e Amantes [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora