9 - A Força Interior

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Octavian estava servindo uma xícara de chá com limão enquanto Maeve se acomodava na sala da sacristia.
Ele pegou uma xícara de porcelana branca e serviu Maeve, em seguida serviu outra para si próprio e se sentou em frente à ela.
- A que devo a honra da visita? - Octavian perguntou calmamente.
Maeve o fuzilou com o olhar.
- Você sabe o porquê.
- Acho que devo algumas explicações a você, certo?
- Deve. E muitas. Se quiser fique à vontade para começar.
- A pergunta é: em meio a tantas confusões, por onde devo começar?
- Acho que no primórdio de tudo. Quem eram aquelas pessoas vestidas de branco que estavam aqui quando levaram minha mãe?
Octavian levantou as sobrancelhas como se aquilo fosse óbvio.
- Os Amantes do Alvorecer. Pensei que soubesse.
- Não, padre, eu não sei de nada. É por isso que estou aqui - ela retrucou. - O que são exatamente esses Amentes? O que eles fazem?
- É uma história longa, mas teremos tempo para discutir sobre isso.
- OK, e esses Hereges?
- Os Hereges do Eclipse. Outra história que é melhor deixar para depois.
Octavian deu pequenos goles no chá e encarou Maeve astutamente através da borda da xícara. Maeve, por sua vez, nem tocara na bebida.
- E você sabe por que minha mãe sumiu?
- Acho que já sabe a resposta.
- Então diga.
- Só posso dizer que os Amantes a levaram para obter informações dela. E não, ela não está morta. Mas... Ela corre risco de vida, assim como você e seu pai.
- Como assim?
- Eles estão chantageando Katrina. Caso ela não dê as informações que os Amantes querem, eles irão matar você e seu pai para fazer com que ela fale.
- Mas depois eles vão matá-la mesmo assim.
- Vão.
Octavian parecia tranquilo, como se não estivesse lidando com o assassinato de pessoas inocentes.
- Você precisa fazer algo para impedi-los - Maeve falou exasperada. - Não pode deixar que façam mal a ela ou ao meu pai.
- Você não quis dizer que nós precisamos fazer algo para impedir?
- Eu não posso fazer nada para ajudar.
- Tem certeza? Acho que aquele cachorro mutante morto na estrada não acha isso.
- Como sabe disso? Eu nem sequer falei para você.
- Eu criei aquela coisa.
Maeve arregalou os olhos.
- Isso quer dizer que foi você que mandou aquela coisa me atacar?
- É isso mesmo que estou dizendo.
- Ma... Por... Ma-mas... Aquela coisa podia ter me matado!
- Ele não ia machucar você. Não o criei para isso. A minha intenção era assustar você para que você pudesse conhecer suas próprias habilidades.
- Eu meio que lancei raios de plasma nele. Não sabia que podia fazer isso. Não sabia sequer que isso existia.
- A essa altura do campeonato você não devia se surpreender com mais nada. Isso era apenas um teste para você descobrir seus próprios poderes.
- Isso é muito novo pra mim. Às vezes parece que tudo não passa de um sonho.
Octavian lançou um olhar sereno para Maeve que a deixou estranhamente mais calma.
- Algumas vezes até mesmo os nossos sonhos mais inacreditáveis podem virar realidade.
Maeve hesitou.
- Octavian, por favor, me diga... O que eu sou?
- Você é Maeve. Você é a destruição.
- E o que você é?
- Apenas um conselheiro, mentor, use o termo que preferir.
Ela já ouvira aquilo antes. Não. Não pode ser.
" Pode me chamar de Octavius. Por enquanto ".
- Octavius? - Maeve expirou.
- Na verdade, meu nome real é Octavian Lamur mesmo. Mas sim, eu fingi ser Octavius para você.
- Por quê?
- Não podia revelar minha verdadeira identidade antes que você entendesse algumas coisas. Pelo menos o essencial para você embarcar numa nova jornada.
- E você acha que eu já entendi essas coisas?
- Você precisa saber que os Hereges e Amantes são raças antigas que travam batalhas desde o início dos tempos, e finalmente teremos o embate final onde apenas uma das duas raças irá sobreviver enquanto a outra será extinta para sempre.
- Onde minha mãe se encaixa nisso?
- Katrina é uma peça importante no quebra-cabeças. Ela possui o conhecimento da profecia que todos nós, Hereges e Amantes, desconhecemos. A única certeza que temos é que dez crianças como você estarão envolvidas, mas somente Katrina tem o total poder sobre os dizeres da profecia.
Aquilo soava louco aos ouvidos de Maeve, mas Octavius, quer dizer, Octavian, falava com tanta naturalidade que era impossível não crer na coerência daquilo tudo. Algumas coisas começaram a se encaixar.
- Então esses três pontos estão conectados. Existem duas raças antigas em guerra e justo a minha mãe possui o conhecimento de como essa profecia começa e de como termina, e os Amantes do Alvorecer precisam dela para que eles possam destruir os Herges do Eclipse.
- Continue.
- No dia que ela desapareceu, aquelas pessoas aqui na igreja eram na verdade Amantes e eles a levaram para que pudessem tomar conhecimento das palavras da profecia.
- Você entendeu tudo perfeitamente. Exceto pela parte que pensa que Katrina foi simplesmente sequestrada pelos Amantes. Ela não se entregaria sem lutar.
Maeve ficou confusa.
- Não estou entendendo.
- E nem vai entender por mim. Saberá na hora certa.
- Estou cansada de ouvir isso.
- Não posso mudar os fatos. Você já aprendeu o básico, mas vamos com calma.
- Tudo bem, vamos para a próxima fase.
Octavian olhou para Maeve com expressão de deleite, como se estivesse cara a cara com uma musa.
- Acho que se você quer mesmo desvendar os mistérios que tanto te perturbam e conhecer um novo mundo, você deve primeiramente conhecer sua própria força.

☆☆☆

Octavian e Maeve estavam na clareira da floresta. Octavian colocara uma variedade de armas no chão de terra ao redor das árvores. Espadas, chicotes, bastões, adagas, facas e lâminas eram apenas alguma das armas mortais no arsenal de Octavian.
- Antes de começarmos - Maeve disse -, vamos falar um pouco de você. Não é um padre de verdade, não é?
- Não, não sou - Octavian sorriu. - Isto era apenas um disfarce que usei para me infiltrar aqui, sem que nenhum Ignorante pudesse me incomodar diretamente. Fingir ser um padre numa igreja no meio do nada, onde eu pudesse observar e proteger você e Katrina foi o melhor que consegui.
- E o que você é?
- Faço parte da Tribo dos Hereges, é claro.
- Mas como...
- Sem perguntas por hoje. Agora, só treinamento. Escolha uma arma. Qualquer uma.
Maeve assentiu e pegou uma bainha cheia de adagas. Olhou para Octavian, esperando mais orientações.
- O que está esperando? - Octavian sorriu. - Pode usar. Arremesse uma dessas adagas ali.
Ele apontou um tronco de árvore com um alvo pintado nele, alguns poucos centímetros na direita de Octavian. Maeve pegou uma adaga, mirou no alvo e arremessou desajeitadamente. Mas ao invés da pequena faca girar no ar e acertar o alvo, ela foi voando loucamente na direção de Octavian. Maeve gritou e justamente quando a adaga ia se enterrar no peito largo de Octavian, ele virou uma nuvem de fumaça escura e reapareceu ao lado de Maeve.
- Como fez isso? - ela perguntou, impressionada.
- Quem sabe eu te ensine um dia - ele respondeu, como se quase ser decapitado por uma menina de 14 anos não o tivesse abalado. - Tente de novo.
Maeve arremessou outra adaga, que voou e se alojou no tronco de uma árvore a metros de distância do alvo. Tentou de novo, mas a adaga passou direto, indo penetrar mais a fundo na floresta. Desistiu das adagas e escolheu outra coisa.
Pegou o chicote e o amarrou no braço. Havia alguns bonecos de madeira espalhados na clareira e ela treinou com eles. Arremessou o chicote na direção da cabeça de um dos bonecos, mas a ponta do chicote deu a volta e a acertou na bochecha. Começou a sangrar, e quando Maeve limpou os dedos voltaram cheios de sangue. Ela tentou de novo, e a ponta enrolou no galho de uma árvore. Quando ela puxou, o galho quase caiu em cima de Octavian. Ele simplesmente levantou ambos os braços e o enorme galho ficou pairando acima de sua cabeça. Com um gesto rápido do pulso ele jogou o galho flutuante de lado.
Por último ela pegou as lâminas inclinadas. Ela segurou na base das enormes facas e tentou manuseá-las. Porém não deu muito certo. Assim que ela socou o ar, o pulso fez um movimento desleixado para o lado e cortou seu braço.
Ela jogou as armas no chão e olhou desamparada para Octavian.
- Acho que você não leva jeito com armas - Octavian falou, achando graça.
- Não me diga - Maeve disse, irritadiça.
- Acho que você vai acabar se matando desse jeito.
- Vamos tentar outra coisa.
- O que você sugere?
- Faça cinco clones seus e mande-os me atacar.
Octavian pareceu genuinamente surpreso por um instante, mas mesmo assim ele reuniu as mãos, inspirou fundo e em seguida havias seis Octavians na clareira.
- ATAQUEM! - ele gritou.
Os clones obedeceram e foram para cima de Maeve com tudo.
O primeiro tentou acertar um soco no rosto dela, mas Maeve foi mais rápida. Ela segurou o punho da cópia em pleno movimento e girou o braço com força, fazendo o clone girar e em seguida cair com força no chão. Pouco depois ele sumiu.
O segundo descreveu um arco com a perna para chutar Maeve, mas ela abaixou, segurou a outra perna da cópia, puxou-a e o derrubou. Ela subiu em cima dele e com três socos bem dados ele também sumiu.
Maeve pulou para cima da terceira cópia. Ela saltou no ar e deu uma pirueta, tão encolhida como uma bola. Maeve esticou a perna e acertou um chute no clone.
Caiu de joelhos e correu para o próximo. Este conseguiu acertar um soco em seu estômago, e quando Maeve se inclinou para frente ele golpeou seu queixo de modo que ela caiu para trás. Enquanto o Octavian 4 se aproximava, ela deu uma chave de perna nele, fazendo que ele caísse de cara. Maeve pegou uma pedra e o acertou na cabeça até que ele sumisse.
Rapidamente ela levantou. Octavian número 5 tentou lhe dar um soco, mas ela desviou para o lado. Ele tentou bater nela novamente, porém ela esquivou a tempo. Maeve acertou um soco nas costelas dele. Quando ele cambaleou, ela correu até uma árvore, pulou, apoiou-se nela para tomar impulso, girou no ar e nocauteou o clone com um chute na mandíbula. Caiu de joelhos, rolou no chão e levantou, enxugando o suor da testa.
Octavian estava com a boca escancarada, como se não acreditasse que uma simples garota fosse páreo para alguém como ele, mesmo que ela não tivesse lutado propriamente com ele.
- E aí - Maeve disse, rindo -, quem está pronto para uma nova rodada?
Octavian deu um sorriso orgulhoso e mais dez cópias surgiram.
Maeve alargou o sorriso e partiu para a luta mais uma vez.

Escolhidos - Entre os Hereges e Amantes [Livro 1]Onde histórias criam vida. Descubra agora