Eu corria entre as árvores em uma velocidade tão exorbitante que mais parecia que eu estava a fugir da morte. Minha feição demoníaca já denunciava o que se passava em minha cabeça. Eu estava preparado para atacar seja quem aparecesse em meu caminho.
Joseph estava me seguindo, eu podia sentir a sua presença a quilômetros, mas antes mesmo que ele penetrasse a floresta, eu já estaria de volta, e de preferência com a cabeça de Keila em minhas mãos.
Eu não sentia a presença dela por perto, não sentia em lugar nenhum! Mas sentia o cheiro de seu sangue gelado vindo da direção de onde eu a havia deixado. E tudo o que eu imaginava assim se concretizou. Havia apenas uma gigante poça de sangue e um pedaço rasgado do lençol em que eu a havia enrolado no local. Aquela vagabunda não estava mais lá.
Soltei um rosnado animalesco na direção da lua e cravei minhas unhas em uma árvore. A fúria me controlava naquele momento. Eu não era humano, não era um vampiro, não era um demônio, mas sim o próprio diabo.
Disparei na direção da cidade. Estava disposto a caçar Keila onde quer que ela estivesse. Eu nunca havia visto uma neblina tão densa como a daquela noite. Meus suspiros de raiva pareciam queimar e abrir caminho entre ela enquanto eu corria. A fumaça branca e gélida subia e perambulava por toda parte, era como um gigante véu acima da noite, o véu da noiva do diabo. Não havia sons humanos por perto, apenas por trás das paredes das residências que me cercavam além da neblina. Olhei para o céu e não vi sequer uma única e solitária estrela, apenas nuvens distantes que sorrateiramente se aproximavam para se juntar e banhar a cidade deixando-a mais fria e sombria. Até a lua estava desaparecendo.
Parei na rua de Clarita. Mal dava pra ver sua casa em volta da fumaça branca.
— APAREÇA KEILA! SEI QUE ESTÁ AÍ! SEI QUE ESTÁ ME VIGIANDO! — Gritei.
Poucos segundos depois, algo passou em alta velocidade por trás de mim, virei-me rapidamente e só tive tempo de ver o rastro cortado de fumaça gelada que o tal velocista havia deixado. Eu estava cercado pelo fenômeno da natureza e por um provável inimigo.
— ESTÁ COM MEDO DE MIM?! VENHA PARA CIMA, KEILA! — Exclamei com voz ameaçadora enquanto mostrava as minhas presas e soltava os meus grunhidos.
— LUTERO! — Gritava a distante voz de Joseph vinda de alguma parte.
Comecei a procurá-lo com meus sentidos, mas antes mesmo que pudesse me concentrar, fui lançado com força por um golpe de punho que me fez esborrachar as costas no asfalto úmido. Senti dor apenas em meu peito direito, o local onde aquele punho pesado havia golpeado.
Caí de olhos fechados, e logo quando os abri me deparei com uma figura alta, vestida com uma capa preta que escondia todo o seu rosto em minha frente. Por alguns segundos ela não se moveu, mas logo passou a caminhar na minha direção como se fosse um vilão silencioso de um filme slasher, enquanto uma imensidão de neblina que me lembrava braços fantasmagóricos flutuavam atrás do ser.
— VÁ PARA LONGE! — Eu berrava — SE ENCOSTAR UM DEDO EM MIM, DRÁCULA VAI TE ENCONTRAR!
Quando falei isso, a figura berrou como um demônio ao ser tocado por uma cruz. Seu berro me arrepiou dos pés à cabeça e todo o seu corpo estremeceu como se estivesse a sendo exorcizado. Ele iria me atacar, eu estava pronto para isso, e eu sabia que fugir seria inútil.
Lutei para não aceitar o meu destino, e a voz de Joseph agora parecia mais perto. O ser a minha frente, que a pouco estava em posição de ataque, parou, e pareceu detectar de onde vinha a voz dele. Agora ele agia feito um lobisomem a rastrear as suas vítimas, com seus ombros levantados e seus braços para trás com mãos de luva preta abertas como se escondesse garras.
— LUTERO! — Repetia Joseph.
O demônio continuava a tentar localizá-lo, seu foco foi totalmente direcionado para isso. Assim, aproveitei para levantar e correr o mais rápido que pude. Invadi e neblina em alta velocidade e quanto mais a penetrava, mais eu sentia o cheiro e a presença de Joseph.
Continuei a correr sem parar, e quanto mais de Joseph eu sentia, mais meus sentidos me levavam a seu encontro. Até que repentinamente o encontrei agarrado a uma árvore enquanto tentava enxergar em meio ao breu esbranquiçado. Toquei o seu ombro, ele deu um salto.
— O QUE ESTÁ FAZENDO? POR QUE ME SEGUIU? — Perguntei aos berros.
Joseph ficou tão assustado em ver que eu compartilhava do mesmo sentimento que ele, que apenas me olhou com a boca aberta e os olhos perdidos. Eu continuava fazendo a mesma pergunta, mesmo sem fazer questão da resposta.
— Precisamos ir embora daqui. Há um demônio me caçando.
— Como assim? Por que você está com medo, Lutero?
— EU NÃO ESTOU COM MEDO!
Minha respiração estava frenética, eu parecia um humano e aquilo estava me dando nos nervos. Eu desejava estrangular aquela maldita coisa que havia me golpeado no peito. Queria arrancar a sua cabeça e espremer as suas tripas e deixar que o caldo vermelho delas derramasse em minha boca.
Agarrei a cintura de Joseph e apoiei um de seus braços em meu ombro. Estávamos prontos para dar o fora dali, mas eu o senti, e não havia tempo de sair de lá. Quando menos esperávamos, o demônio da capa preta surgiu da neblina atrás de nós, suas garras levantaram no mesmo instante em que ele deu seu grito animalesco. Elas foram direto na minha direção, mas eu me abaixei junto de Joseph, e elas cortaram apenas o ar, fazendo um alto barulho que seria ainda mais alto se fincassem as minhas costas.
Corri o mais rápido que pude. Mais rápido do que quando entrava na floresta. Joseph reclamava sem parar, mas eu não o ouvi. Chegamos em minha casa e Joseph foi direto para o banheiro vomitar. Meus pais dormiam. Tranquei todas as portas e janelas e fui para o meu caixão.
Não nego que fiquei apavorado. Somorra agora tem a maldição de haver dois predadores em seu solo: Keila e eu. Como essa vagabunda pode ser mais forte do que eu se eu mesmo a transformei? Como ela pode ser tão habilidosa e tão rápida? Isso não pode ser possível.
Mas eu a destruirei nem que essa seja a última coisa que eu faça nessa minha nova vida. Pois mesmo que não fossemos inimigos, eu a destruiria de qualquer jeito, pois em Somorra só a espaço para apenas um vampiro.
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O Vampiro Libertino - Sangue E Sêmen Livro 1 (+18 CONCLUÍDO)
Vampire***AVISO DE GATILHO: ESTE LIVRO POSSUI CENAS DE SEXO E VIOLÊNCIA EXTREMAMENTE DETALHISTAS*** * 5 vezes o primeiro lugar em "Crônica" "Eu era apenas um simples garoto. Tão simples a ponto de parecer que nem sequer havia sonhos dentro de mim. Eu não a...