Capítulo Um

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RAFAEL MONTEIRO

A nota era vermelha, assim como todas as outras notas desse ano. As vozes dos meus colegas de classe ecoavam nos meus ouvidos, felizes e tristes. Paralisado, olhando para o grande três circulado em vermelho, só conseguia pensar que essa maldita prova seria motivo de mais uma briga entre meus pais e um longo discurso de como minha incapacidade de entender física é ridícula.

Mateus parecia estar na mesma situação que eu, dois fudidos em física. Lúcia e Clara, ao contrário de nós, estavam em êxtase.

Levantei da mesa, ignorando os chamados dos meus amigos e fui em direção da mesa do Professor Fernando, também conhecido como grande filho da puta. O cara sabe que mais da metade da sala está para bombar na matéria dele e não tem a capacidade de ajudar os alunos, nem para passar um trabalho valendo 0,5.

Filho. Da. Puta.

Ao mesmo tempo que chegava, Elena Andrade se afastava da mesa, com o semblante fechado e seus olhos castanhos pareciam pegar fogo conforme andava de encontro dos seus amigos. A prova na sua mão e o semblante fechado indicavam o assunto com Fernando, a curiosidade bateu forte e não resisti, baixei os olhos para sua prova e um grande 9,8 brilhava num azul bic maravilhoso. Se Elena estava puta por causa daquela nota não me importaria nem um pouco em dar a minha prova a ela e pegar a sua para mim.

Meu olhar subiu de sua prova para a tatuagem de cobra que se enrolava no seu punho e acabando no meio do antebraço. Elena me encarou com seus olhos castanhos ainda brilhando de raiva, perguntando o que tanto a encarava. Desviei o olhar da cobra e segui meu caminho.

Todo dia de entrega de prova era a mesma coisa. Ele entrega a minha prova, eu me deparo com uma nota abaixo da média e então, fazia a caminhada da vergonha até sua mesa. Fernando deveria sentir um prazer sinistro nisso, ver os alunos humilhando-se, desesperados por décimos a fim de não reprovarem.

Eu era um desses alunos.

Repetir o último ano do Ensino Médio quando estava tão perto da tão sonhada liberdade era desesperador. O simples pensamento de continuar no colégio, me gelava o estômago.

Alcancei a mesa com um discurso pronto, a confiança no meu discurso era pouca. Se ele não cedeu ao 9,8 de Elena, não seria meu mísero 3 que o faria mudar de ideia, porém desistir estava fora de questão.

- Professor... - chamei tentando manter a voz calma, perder a paciência não me ajudaria em nada. - Você tem certeza que a minha nota é essa?

Claro que ele tinha certeza, mas foi impossível não questionar. Fernando revisava minha prova de forma metódica e lenta, torturando-me a cada passada da caneta pelos cálculos, conferindo o meu raciocínio errado.

- Tenho sim, Rafael. Sempre reviso as provas antes de entregar, inclusive para evitar esse tipo de conversa desnecessária. - Desnecessária para ele, minha vontade era socar a sua cara.

- Vai passar um trabalho para ajudar, né? - Seu rosto foi tomado por uma expressão de zombaria, deixando bem claro que não teria trabalho algum e a nota desse último, maldito, bimestre seria composto somente pela nota das provas.

Desanimado, deixei sua mesa e retornei para minha, fazendo um rápido cálculo mental de quanto tinha somado nos três últimos bimestres e quanto faltava para alcançar a média. Despenquei na cadeira e larguei a prova em cima da mesa, num movimento rápido Lúcia tomou a prova e pela a sua cara, o sermão chegaria mais rápido do que esperava.

- Outra nova baixa, Rafael? - Não, Lúcia, eu peguei a prova de outro filho da puta apaguei o nome dele e pus o meu no lugar.

- Não é isso que você está vendo ou o grau da sua miopia aumentou? - O sarcasmo foi inevitável. Mateus segurou a risada e Clara apertou a mão da namorada como se pedisse calma comigo.

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora