Capítulo Oito

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ELENA ANDRADE  

Eu gosto de física, da teoria e das contas.  

Poderia ficar horas tendo aula de física, o terror de muitos alunos é o meu paraíso. Não sei quando o meu interesse surgiu, mas quando meus pais perceberam a minha aptidão e a do meu irmão para contas matemáticas, estimularam ao máximo o nosso talento.  

A pequena Elena de nove anos, fascinada pelo cosmo e pelo Big Bang, nunca imaginaria os feitos que a Elena adolescente poderia alcançar.  

O meu caminho para as Olimpíadas de matemática e física começou a ser trilhado por meio da OBMEP. Mesmo sendo uma Olimpíada para as escolas públicas, o conselho estudantil do meu antigo colégio achou que seria uma boa ideia promover a prova, o resultado não foi o esperado, a nota dos alunos foi alta, em sua maioria, mas poucos quiseram ir para a segunda fase.  

Eu estava entre esses poucos, foi a primeira medalha que conquistei em uma Olimpíada, uma medalha de prata. E a partir desse momento, tudo mudou.  

Meus pais me mudaram de colégio e me matricularam no Álvares de Azevedo, referência quando se trata de vestibulares voltado para exatas e comecei a participar de Olimpíadas de matemática e física.  

Até que ano passado, conquistei um dos maiores prêmios que poderia imaginar: A Olimpíada Internacional de Física.  

As eliminatórias, semifinais e as finais, nenhuma delas foi fácil e não me refiro apenas ao conteúdo. Poucas meninas compunham as equipes, para onde olhava via homens, compondo equipes, avaliando, julgando e determinando os vencedores.  

Muitas vezes fui questionada por meus colegas de equipe, para Pedro, um dos meus pares na competição, eu era muito emotiva para ficar à frente na final, meus hormônios poderiam atrapalhar. Nada foi tão bom quanto ver sua cara de incredulidade e raiva quando fomos anunciados vencedores graças a minha resposta.  

A medalha de prata e ouro, as mais importantes da minha coleção. A primeira que me fez entrar nesse mundo e a segunda que foi a concretização do sonho da pequena Elena de nove anos.  

Enfim, eu gosto de física, da teoria e das contas.  

Mas, eu não gosto do Fernando. E isso, transforma o meu paraíso num inferno.  

A diretoria me liberou das aulas de física e matemática, contudo eu gosto de assistir as aulas e ajudar Renan e Nabim nos exercícios. Mas a cada aula, tenho mais vontade de fazer valer meu privilégio e ficar de fora das aulas.  

Arrogante, prepotente e dono da razão, é assim que o professor Fernando é, e não sou apenas eu que penso assim. Vários alunos e de anos diferentes não gostam dele.  

Se você vai bem, ele te trata com educação. Senão, deboche e condescendência é o que ele tem para você.  

A lousa com os enunciados dos exercícios deixava claro qual era sua intenção. Outra prática de Fernando é fazer os alunos com dificuldade irem resolver os exercícios na frente de todos.

— Rafael, Mateus, Carla e Milena, na lousa.  

Observei cada um deles tomarem seus postos frente à lousa. Meu coração estava acelerado, ver Rafael na frente da sala me deixava nervosa, era o momento de ver se as aulas estavam tendo resultado.  

— Será que seu aluno vai acertar? — pergunta Renan

— Lógico que vai, sou eu que estou dando a aula.  

O meu tom saiu calmo, contrastando com a velocidade que meu coração bate. Analiso cada movimento da sua mão, fazendo a conta mentalmente e conferindo a resposta de Rafael, antes que possa ver o seu resultado, Fernando entra na frente bloqueando a minha visão.  

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora