RAFAEL MONTEIROReunidos em volta da mesa, aguardo o momento ideal para entregar a prova. Desde quando chegaram em casa, meus pais me rondam tentando tirar alguma informação de mim. Fico o mais apático possível. Por mais que a nota tenha sido excelente, nunca sei o que esperar do meu pai.
Mesmo o clima em casa estando bem melhor desde semana passada. A conversa sobre a faculdade, as horas de estudos e o reforço aliviaram a pressão exercida por Daniel. Apesar de sempre sentir a tensão quando sua atenção volta-se para mim.
Ignoro a conversa o máximo que posso, mas o jantar se encaminha para o fim e não tem para onde escapar.
— A sua prova foi hoje? — Minha mãe pergunta, mesmo sabendo a resposta.
Ofereço a confirmação que tanto quer.
— Sim. — respondo, monossilábico.
— E a nota já saiu?
— Saiu.
— E…
Sei que estou prolongando a agonia. A minha e a dos meus pais. É automático, o tópico: escola, sempre vira uma onda de ofensas e não quero ser atingido por ela. Por isso, ao invés de usar as palavras, recorro a uma fonte mais substancial. Tiro a prova do bolso da bermuda. Ela está amassada e fui dobrada várias vezes.
— Podia ter tido mais zelo. — fala Daniel.
Decido ignorar a bronca e aguardar a reação deles. Meus pais olham a prova juntos e depois, um de cada vez faz inspeção pelo papel.
Minha mãe está prestes a falar quando meu pai a corta:
— A nota é sua mesmo ou colou?
Respiro fundo para não dar uma má resposta.
— É minha mesmo. — respondo, com a raiva apertando a garganta.
— Daniel…
— Certeza absoluta? — Confirmo.
— Realmente, impressionante. — Ao contrário do que esperava, sua voz não demonstra incredulidade, felicidade ou orgulho. Só o mais puro deboche e desconfiança. — Quer mesmo que eu acredite nisso?! — exclama, lançando a prova na mesa.
O papel plana por alguns segundos antes de encostar no molho do macarrão. O papel antes branco, torna-se vermelho, o dez em azul é manchado, avermelhando-se como as contas.
— Daniel… — Alerta minha mãe.
— Joana, acha mesmo que vou acreditar nisso? De notas horríveis, ele passa para um dez, a nota máxima? Um sete ou oito, tudo bem, mas dez, impossível.
Solto um riso incrédulo diante de sua fala.
— Puta merda… — falo baixo.
O silêncio toma conta do cômodo. Tenho a atenção dos meus pais em mim. Mas ignoro minha mãe, direcionando a fala para seu marido.
— O que disse? — Daniel pede para repetir.
— Eu disse: puta merda. — minha voz sai alta e clara e cansada.
Estou cansado pra caralho. Nunca está bom. Se vou mal sou inútil, incapaz. E quando vou bem, também sou visto como incapaz. Não consigo entender a lógica que passa na cabeça de Daniel.
O três não é bom e o dez também não é. Então, que porra é bom para ele? Aparentemente, nada.
Não importa o quanto eu me esforce, a sua visão pré estabelecida sobre mim continua forte. Todo aquele fingimento sobre as aulas, a felicidade pela minha melhora escorre pelo ralo.
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A física entre nós [CONCLUÍDO]
RomanceRafael está ferrado. Perto de reprovar em física, se vê desesperado. A matéria parece não entrar na sua cabeça, todas aquelas letras, números, raízes e constantes o confundem. Sem saber o que fazer, recorre a Elena. A garota é a sua última esperanç...