Capítulo Vinte e Oito

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RAFAEL MONTERO

Mateus está fugindo de mim. Ele trocou de lugar com Amanda e sentou na frente da mesa dos professores, sumiu durante o intervalo, nem com Lúcia ele quis conversar. 

Duvidava muito que todo o afastamento fosse por causa de Elena. Tinha algo acontecendo e ele estava se esquivando de nós, e usando uma desculpa sem noção para justificar sua atitude. 

Mas agora ele não tinha para onde ir. A mãe ainda não tinha chegado e ele estava sozinho, apoiado no muro aguardando. Aviso Elena que vou falar com Mateus e peço para que me espere. 

Caminho até Mateus, reparando na minha aproximação, ele vira o rosto. Paro do seu lado e fico quieto, sem saber muito por onde começar.

— Seus pais ficaram bravos por causa da nota? — Opto pelo caminho mais fácil.

— Muito, os seus devem ter amado. — sua voz está desprovida de qualquer sarcasmo.

— Quem dera. — respondo, soltando uma risada descrente. 

— Não ficaram? — ele continua olhando para frente.

— Não. 

Ele balança a cabeça, entendendo o que quero dizer. Agradar pais como os nossos é difícil.

— Eu tô de recuperação, bem feito para mim né, falta de aviso não foi. 

Então é esse o motivo dele estar evitando.

Não sei o que dizer, porque eu avisei, Lúcia avisou, Clara avisou.

— Por isso mudou de lugar hoje? Fugiu da gente no intervalo? Sabe que foi besteira, não sabe?

Mateus encolhe os ombros, ele sabe que não tinha motivo para nos evitar. Lúcia faria um belo discurso sobre como ele foi irresponsável por deixar as coisas chegarem nesse ponto, mas depois respiraria fundo e começaria a buscar resoluções. Clara não faria um discurso, ela consolaria Mateus e ajudaria Lúcia a encontrar um caminho. E eu, bom, eu falaria algo como: que merda, né. Porque eu sou péssimo em usar palavras para fins motivadores.

— Não só por isso, eu fiquei puto com você. Você deu uma de talarico para cima de mim! 

— Você tá brincando, eu não fui talarico! 

Ele nem teve nada com Elena e agora vem com isso.

— Rafael…

— Mateus, para. Você tá com o ego ferido.

Ele finalmente me encara. Eu estou certo e Mateus sabe disso. 

— Tanto faz, você vacilou comigo. 

Indignado, escolho não respondê-lo.

— Você está fugindo do assunto. — acuso.

— O que mais tenho para falar? Escolhi bater de frente com meus pais, me revoltar, deixar o colégio de lado e me fudi… Me fudi, puta merda, não quero repetir. 

O peso da nota cai sobre seus ombros, a realidade é dura. Tudo que Mateus ouviu de mim, Lúcia e Clara recai sobre ele.

— Você não vai repetir se começar a estudar agora para a recuperação.

— Nem todos tem uma professora como você.

— Não precisa de uma. — E Mateus não precisava mesmo. Ele é bom com números, só é preguiçoso.

— Falta de vergonha na cara? 

— Falta de vergonha na cara.

E logo, estamos rindo e toda a tensão se dissipou. 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora