Capítulo Cinco

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RAFAEL MONTEIRO  

Como todo sábado, eu e meus pais estamos reunidos em volta da mesa, tomo o café em silêncio, meus pais conversam sobre os planos para o final do ano. O clima ruim de quarta-feira se dissipou, saber que foi tudo bem na primeira aula de reforço quebrou o mau humor do meu pai e provou para ele que estou empenhado em mudar a minha situação escolar.  

— O que acha, Rafael? — Pergunta minha mãe.  

— Acho sobre o que? — respondo minha mãe com outra pergunta.  

— De passarmos o ano novo em Angra. — Dessa vez é meu pai que responde.  

— Acho legal, por mim tudo bem.  

Depois da minha confirmação eles voltam a falar sobre o ano novo em Angra. O clima está tão leve, que os últimos acontecimentos quase somem da minha cabeça, porém por mais que tente afundar o máximo possível os conflitos com meu pai e entrar no assunto, dar minha opinião sobre a casa e o roteiro não consigo. Fico sempre em alerta esperando o momento que seu humor vai mudar e as ofensas serão jogadas contra mim.  

Não consigo lembrar em qual momento nossa relação se tornou isso. Ela foi se transformando aos poucos, fomos nos afastando e parando de fazer as coisas juntos, paramos de ir no cinema, no autódromo, em shows e parques. Nossa relação foi deixada de lado por ele, quando comecei a perceber tentei continuar próximo, mas não adiantava. Ele não queria sair comigo e com o tempo parei de querer estar com ele também.  

Os únicos momentos em família são os jantares e o café da manhã de sábado que se mantém por causa de minha mãe, ela faz questão de se sentar na mesa para tomar café e jantar, perguntar pelo nosso dia e estabelecer um diálogo entre nós. Se ela não estivesse aqui, duvido que eu e meu pai nos sentaríamos na mesa ou falássemos sobre o dia, provavelmente nem nos veríamos.  

Sem ela para ser o centro dos opostos, eu e meu pai seguiríamos para nossas direções, sem nunca nos encontrarmos.  

Faz-se um pequeno momento de silêncio na mesa, eles devem ter perguntado alguma coisa para mim, mas com os pensamentos tão longe não pude ouvir.  

— É… queria pedir uma coisa. — O silêncio se estende.  

- O que, meu amor? — minha mãe finalmente fala.  

— Hoje vai ter uma festa de um colega de classe, posso ir? — pergunto.  

Minhas expectativas estão tão baixas, que o não, nem será uma surpresa.  

Meus pais trocam um olhar, discutindo pelos olhares qual será a decisão. Pego o copo com suco e me preparo para o não.  

— Pode sim. —A voz firme do meu pai me faz engasgar com o suco e ter um acesso de tosse. Eles me esperaram meu momento passar. — Ontem, sua mãe… — minha mãe olhou brava para ele, com um pigarrear ele continua- sua mãe e eu decidimos dar mais liberdade para você, logo vai fazer dezoito anos e precisa ter mais espaço para fazer escolhas.  

Não posso evitar que a surpresa fique estampada na minha cara.  

— E por isso, vamos deixar você ir hoje. Mas não ache que essa liberdade é fixa, um vacilo e ela acaba. — Meu pai finaliza.  

Uau.

— Obrigado, não vou vacilar, prometo. — Falo.  

Sem mais, ele deixa a mesa e segue para a sala. Minha mãe aperta minha mão e também deixa mesa. Como em todo sábado a responsabilidade de tirar a mesa e lavar a louça é minha, a diarista vem só durante a semana, dona Joana achou que seria bom para mim ajudar em casa.  

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora