Capitulo Quatro

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RAFAEL MONTEIRO  

A casa de Elena é enorme, o sobrado bem localizado numa área nobre de São Paulo e mais afastada do colégio, o que me faz perceber o quanto ela deve ter demorado para chegar em casa ontem. Depois de ter estacionado na garagem fui surpreendido pela magnitude da casa. Entramos pela porta da cozinha e por ela dava para ver a sala e no lugar da parede havia uma enorme janela de vidro que dava claridade para o cômodo. A parte inferior do sobrado era toda em conceito aberto, assistir Discovery Home & Health tem suas vantagens.

Logo percebi que estávamos sozinhos, nenhum funcionário trabalhando, estranho, Elena vai em direção a ilha da cozinha e pega uma folha de papel, passando os olhos calmamente pela mensagem. Começo a ficar desconfortável, não conversamos muito no trajeto até aqui, na verdade, não conversamos nada. Sua única pergunta foi se preferia rádio ou a sua playlist, optei pela playlist e viemos o caminho todo embalados por vozes do rock nacional.  

— Minha mãe deixou lasanha na geladeira e Teresa precisou ir embora, seu filho teve uma reação alérgica na escola e ela teve que levá-lo ao hospital. — Sua voz toma conta do espaço, preenchendo e ecoando, me fazendo ouvir várias Elenas. - Prefere comer ou pode esperar eu tomar um banho e depois almoçamos?  

— Posso esperar. — Respondo. Ela assente.  

— Vamos deixar as mochilas no meu quarto.

Passamos pela sala e não posso deixar de admirar a grande janela, quando tiver minha casa vou ter uma janela igual a essa. Ela me guia pelas escadas e alcançamos o cômodo superior, seguindo pelo corredor vejo inúmeras fotos pregadas nas paredes. Muitas são de viagens em família, de um homem que suponho ser seu pai num evento que não sei definir qual, da mãe de Elena, as duas são idênticas, de um menino um pouco mais velho que eu todo pintado. Mas a quantidade de fotos de premiações é exorbitante.  

Fotos de Elena e do outro menino em competições de matemática, física e até de história. Registros de orgulho, certamente. Sempre no pódio, entre os primeiros. Na mais recente, percebo, ela está com um grupo de rapazes e exibem a medalha de primeiro lugar na Olimpíada Mundial de Física.  

PUTA. QUE. PARIU.  

A menina é um gênio.  

Só notei que parei de andar quando a pequena gênia para ao meu lado, observando a foto também.  

— Essa foi uma das Olimpíadas mais difíceis. — Não falo espero que continue. — Eu era uma das poucas meninas que participavam, como pode ver, meu time era composto apenas por homens, e

mesmo tendo chegado até a final, eles ainda duvidavam da minha inteligência e no fim foi graças a mim que vencemos.  

CARALHO!!!

Saber que ela é boa em física, eu sabia. Mas nesse nível nem passou pela minha cabeça. Para mim, Elena era apenas muito boa em física. Contudo, olhando a foto e a para menina do meu lado com seus olhos brilhando, com certeza, lembrando do dia que ganhou uma medalha na porra da Olimpíada Mundial de Física e da emoção sentida. Vejo o quanto somos cegos para o outro e vemos tão pouco sobre as pessoas. Se não fosse a prova, provavelmente terminaria o Ensino Médio pensando que Elena iria vender a sua arte na praia ou trabalhar com tatuagem, mas a verdade é que sou eu quem tem mais chances de ir vender a arte na praia.  

— Sou um fudido mesmo. — Sem entender, Elena franze o cenho. — Vou ter aula com a campeã de várias Olimpíadas, quero ver não tirar um dez na próxima prova.  

Rindo levemente da minha fala animada, voltamos a seguir pelo corredor e finalmente chegamos no seu quarto.

Como o restante da casa, seu quarto é grande e tem uma parede de vidro, uma cama de casal encostada na parede principal, uma estante de livrose vários quadros com fotos, uma porta que parece levar ao banheiro e um guarda roupa com porta de vidro. A família Andrade tem uma fixação com janela e vidro.

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora