Capítulo Vinte e Um

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RAFAEL MONTEIRO

 O sábado está quente. Enquanto caminho para dentro do shopping, percebo que nem o ar condicionado está adiantando. Mateus mandou mensagem de manhã, me convidando para encontrá-lo.

Marcamos de nos encontrarmos na praça de alimentação. Ao longe, vejo sua mão estendida. Conforme caminho em sua direção, sinto o celular vibrar. 

Elena Andrade: Vou sair com meus pais e Heitor hoje, o voo dele é de noite. 

Talvez, eu estivesse um pouco -muito- viciado em Elena. Não pode ser saudável querer ficar junto dela o tempo todo. Ela não mudou em nada o tom das mensagens, mesmo com tudo que houve entre nós, Elena continua sem muita paciência para conversar pelo whatsapp.

Desejo uma boa viagem para Heitor e guardo o celular. Meu amigo tem na mão um daqueles discos que acendem quando o pedido fica pronto. 

Nos cumprimentamos e Mateus diz: 

— Preciso da sua ajuda. 

— Para que? 

— Comprar um presente pra minha mãe. 

— E me chamou?! 

— Acredite, você é minha última opção. Lúcia foi a primeira, mas ela está empenhada na missão de conquistar os pais de Clara. O que automaticamente elimina Clara também, então, só me restou você. 

— Muito obrigado, é muito bom ser a última opção. — respondo, fingindo lisonjeio. — Pensou em algo? 

— Pensei em comprar um perfume. Nem sei porque tô me esforçando, vai ser uma merda de aniversário. 

Os pais de Mateus tem um acordo estranho. Separados a pouco tempo, não querem que ele se sinta abandonado e por isso, fazem das datas comemorativas como aniversários e outros feriados uma merda. 

— Eles ainda mantêm o acordo de convivência? 

— Sim. Não sei qual é a pior parte, ter que ficar dividindo a atenção ou ficar servindo de correio "Filho, diz para o seu pai que a roupa da nova namorada dele é indecente", "Mateus, a sua mãe abriu uma creche? Aquele menino deve ter a sua idade". 

Sabia que meus pais tinham suas diferenças. E que, eventualmente, brigavam. Eu não entendo a dinâmica do relacionamento deles e muitas vezes cheguei a pensar que podia ser comodidade. Mas, do jeito deles, o relacionamento funciona. Eles saem, jantam fora, tem seus momentos de casal. Sei que grande parte das brigas são por minha causa. 

Daniel não concorda com a abordagem mais tranquila e compreensiva. Para ele, eu tenho escola, comida e um teto está ótimo. Meu pai acha que a condição financeira que ele e minha mãe propiciaram a mim, me deixou preguiçoso em relação ao meu futuro. 

Contudo, em momentos como esse, fico feliz por ter uma família estruturada. E não me refiro a eles estarem casados, e sim por não ficarem me colocando no meio do problema deles. Diferente de Mateus que serve de pombo correio dos pais e precisa ficar lidando com a birra deles. 

O divórcio dos pais de Mateus foi complicado. Acompanhei todo o processo junto com ele. A descoberta da traição do pai, ver a mãe tentando lidar com tudo, a briga pelo dinheiro e propriedades. E no fim, para não desestruturar o emocional de Mateus, como se já não estivesse fudido o suficiente, optaram por fazer um acordo de convivência. 

Basicamente, em dia de aniversários e datas comemorativas, ele, seus pais e os respectivos companheiros, saem juntos para comemorar e curtir uma noite agradável. E por noite agradável entende-se: os pais trocando indiretas a noite toda, os companheiros tentando manter o clima agradável e Mateus no meio tentando não surtar. 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora