RAFAEL MONTEIROUm segundo grito vaza pela porta. E Elena estremece de novo.
E eu continuo sentado longe dela, sem saber o que fazer. Ou me aproximar. Renan e Nabim estão lidando bem com a situação.
Ainda estou com a mochila dela. Ainda seguro a mochila dela como se fosse a porra de um bote salva vidas. É a única coisa que mantém minha cabeça pensando.
Renan fala baixo com Elena, após ver algo no seu celular. E fala com Nabim, que começa a vir na minha direção.
— Vamos levar Elena para casa. — concordo, ele estica a mão querendo pegar, tiro a mochila da sua direção e me levanto.
Eu vou levar a mochila.
Mando uma mensagem para Clara, avisando que estou indo embora. Clara, Lúcia e Mateus tinham voltado para a aula, a coordenação não queria mais atenção ou alunos passeando pelos corredores tentando ouvir sobre o acontecido. Os Andrade chegando acompanhados de dois advogados já foi uma cena e tanto.
E sujar ainda mais a imagem do colégio era a última coisa que Carlos queria.
Elena caminha apoiada em Renan, que tem um braço passado na sua cintura, a mochila no outro. Nabim caminha ao meu lado, quieto.
O clima é tão denso que fica difícil respirar, tudo parece maior e longo. A escada se tornou uma escadaria com 300 degraus, os corredores que levam à saída estão intermináveis e a agonia de não saber o que fazer também.
A única coisa que faço é segurar a mochila.
Finalmente passamos pelas catracas. E é um leve alívio me toma. O carro de Elena não está longe, caminhamos quietos. Não tem brincadeiras, nem mesmo o som da rua, afasta o silêncio incômodo.
O trajeto até a sua casa é silencioso. Nabim dirige, e a única coisa que penso é em como Elena é apegada ao seu carro e que se estivéssemos numa situação normal seria ela atrás do volante, ouvindo música alta e xingando os outros motoristas. Mas, as peças estão fora do lugar.
Todas elas.
*
Na cozinha da casa de Elena, assisto Nabim preparar um pão caseiro fino, tradicional do seu país. Ele sova a massa com força, suponho que veja Fernando. Renan levou Elena para o quarto e eu fiquei para trás, de novo, sem tomar uma atitude.
Covarde, com medo de não saber lidar com ela.
Com medo de piorar a situação e deixá-la mais triste.
Cansado de ficar envolto do silêncio incômodo pergunto a Nabim:
— O que você acha que vai acontecer?
Ele deixa a massa descansando num pote grande de vidro e cobre com um pano de prato.
— Não sei, o Álvares de Azevedo não liga muito para bullying ou assédio. — apesar de dar de ombros, sua raiva é nítida.
Nabim foi um dos alunos que sentiu na pele o descaso da diretoria. E não só deles, de todos os outros alunos, eu inclusive.
— Eu sinto muito. — sem entender, espera minhas próximas palavras. — pelo primeiro ano, por ter sido como o Carlos e os outros.
— Isso já passou, Rafael. Não adianta ficar me prendendo ao passado. Eu também não fiz nada, fiquei parado assistindo a tudo que fizeram comigo. Se não fosse por Renan e Elena, poderia ter ficado por muito mais tempo na inércia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A física entre nós [CONCLUÍDO]
Roman d'amourRafael está ferrado. Perto de reprovar em física, se vê desesperado. A matéria parece não entrar na sua cabeça, todas aquelas letras, números, raízes e constantes o confundem. Sem saber o que fazer, recorre a Elena. A garota é a sua última esperanç...