Capítulo Vinte e Três

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RAFAEL MONTEIRO.

Chegou o dia da prova. Quarta-feira. Fernando se preparava para entregar as provas. O calor junto da ansiedade, me fazia suar. É cômico a forma que algumas folhas de papel com letras e números podem definir o meu futuro. Bom, o meu futuro em física, ela realmente definia. 

Eu preciso tirar uma nota superior a oito para não ficar de recuperação. Os trabalhos me ajudaram a não ficar com médias tão baixas. Mas nesse último e fudido bimestre, Fernando não passou trabalho, deixando eu e os outros alunos à mercê das provas.

Apesar do nervosismo, estou confiante. As semanas de estudos com Elena foram pesadas. Ela desenvolvia exercícios tirados diretamente do inferno. E a cada erro, era obrigado a repetir a resolução até entender. Mesmo com vontade de xingá-la. Não fiz. Mas peguei raiva da frase: lê de novo. 

Deve ter sido o que mais ouvi sair da sua boca. A cada erro, lá estava o lê de novo. Eu lia e relia até entender. Depois de ouvir a frase pela quinta vez na quarta passada, entendi o porquê de Elena fazer isso. Ela já havia dito que prestava mais atenção nas informações sem valor, do que nas que valiam para a resolução. 

Então parei de tentar entender as inúmeras frases adicionais. Foquei nos números. E passei pela primeira barreira. Fiquei feliz, mesmo que a duração não tenha sido muito longa. A segunda barreira foi um pouco pior. Eu tinha todos aqueles números e precisava colocá-los dentro da fórmula. Então vinham as transformações e as outras fórmulas. Transfigurar os números que tinha em novos e chegar na resposta correta. 

Passei pela segunda barreira. As duas foram testes para o momento de hoje. 

— Vou entregar as provas, não virem antes do meu comando. 

Fernando passou pelas mesas. A prova é colocada e ele ia para próxima. Ele chegava mais perto de mim a cada passo com a segunda parte de minha média na mão. 

Com a prova em minha mesa, sussurrou: 

— Boa sorte, vai precisar. 

— Obrigado, professor. — Respondo cínico. 

Ele tentou me abalar e quase deu certo. Se a frase tivesse sido dita a alguns meses atrás, eu me encontraria desesperado e perderia todo o foco e o resultado seria, com certeza, uma nota vermelha. Só que Fernando não tinha uma letra na sua equação. Ele não conhecia o fator surpresa, Elena. 

Ele quebraria a cara quando corrigisse a minha prova. Isso quase me faz sorrir, porém prefiro esperar o momento certo para comemorar a minha vitória.

Passando pelo outro lado da sala, o trio é o foco da sua atenção, relaxados recebem a prova. Ele para do lado de Elena e entrega a prova. Seja lá o que diz à ela, faz seus amigos arregalaram os olhos e Elena dá um sorriso fechado e um pouco debochado. 

Na frente da lousa, diz: 

— Podem virar a prova, quem terminar, levante a mão. Vou entregar as notas hoje. 

Escrevo meu nome e início a prova. 

*

Nem vinte minutos depois Fernando libera a primeira aluna. Com cara de quem sabe que tirou dez, Elena sai da sala. Só queria ter um terço daquela inteligência. 

Conforme as horas vão passando, os alunos vão saindo. Ficamos eu, Milena e Diego na sala. Ao contrário do que Fernando deve estar pensando, não estou desesperado e tentando, incansavelmente, entender os exercícios. Revisei cada cálculo, cada multiplicação, divisão, soma e subtração. Confiante, guardo os materiais na mochila e levanto. Com a mochila nas costas e a prova em mãos, direciono-me para a mesa. 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora