Capítulo Quinze

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RAFAEL MONTEIRO

A prova de física seria daqui duas semanas, e já sentia o desespero se apoderando das minhas veias. As aulas com Elena corriam bem, conseguia entender o conteúdo e resolver os exercícios, contudo, durante a prova alguma epifania acontecia com o meu cérebro e ele sumia com tudo que sabia em um passe de mágica. 

Sei que é o estresse e a pressão que eu mesmo coloco sobre meus ombros. Porém, é inevitável. Na minha ânsia de ir bem, só fracassava. 

É terça-feira e  é dia de estudo com Elena, pedia para os ponteiros do relógio andarem mais rápidos, precisava falar com ela, montar uma estratégia, a beijar…

Olho para a menina que não tem saído dos meus pensamentos há semanas. Primeiro pela necessidade de ajuda, e depois pelas aulas. Talvez esteja vendo situações que não existam. Quero acreditar que deixamos de ser somente professora-aluno e passamos a ter uma amizade, ainda que estranha. Elena está linda, com a calça vinho, a camiseta branca, as tatuagens destacando-se na sua pele e cara amarrada. A última, sua característica mais marcante. Com o cenho levemente franzido e os lábios cheios num biquinho discreto.

O clima entre nós está diferente, desde ontem. Não que Elena seja do tipo de puxar conversa no Whatsapp, nas poucas vezes que nos falamos por lá, nunca jogamos conversa fora. Nem quando eu perguntei sobre Fernando porque notei sua expressão estranha ou no dia que meus pais pediram para convidá-la para jantar. Ontem eu queria chamá-la, papear sem pressão, curtir um papo com ela. Mas, não chamei. Não perguntei o porquê de gostar de High School Musical, ter tanta tatuagem de cobra ou não ter encerrado o colégio e ter ido para faculdade. 

Eu só… Queria saber mais dela. Queria saber as histórias por detrás do álbum de sua infância. Se tinha raiva de mim por não ter ajudado Nabim. 

Ter sido omisso a fazia ter receio de se envolver comigo? De ser minha amiga?

Sou tirado dos pensamentos por uma caneta espetando a base das minhas costas. Percebo que estava encarando fixamente Elena, seja lá o que me perguntaram ou disseram, não ouvi. Meus pensamentos estão tomados por uma única garota. A que tem tatuagem de cobra. 

Sou espetado de novo e viro para trás. Clara faz um gesto para lousa, indicando a atividade que o professor de inglês passou para a turma. Abro o livro nas páginas indicadas. A história da Medusa é a base do exercício. Ao ver a imagem da mulher que transforma quem olhar em seus olhos em pedra, busco olhar daquela que me petrificou, congelou e fez meus pensamentos serem apenas dela. 

Elena. 

*

Terça-feira, faço o trajeto que se tornou comum. Sair da aula, me despedir dos amigos e ir para o carro dela. Caminho tranquilo, despreocupado. As chances que desperdicei ontem, posso recuperar hoje. Será eu e ela, estudando física, sozinhos. Só a física entre nós, mais nada. 

Feliz com os eventos que planejei para a tarde. Chegaríamos na sua casa, e depois de comer, iríamos estudar. Lá pelo final da tarde, quando o céu estivesse alaranjado, nos sentaríamos na frente da sua janela e então, rolaria o nosso beijo. 

Perfeito.

Entretanto, quanto mais me aproximo do carro, mais vejo os meus planos irem embora. Posso ver o crepúsculo desmoronando na minha frente. 

Elena, como sempre, está apoiada no seu carro. E não está sozinha. Um cara encontra-se do seu lado, a fazendo rir. Um sentimento possessivo toma conta de mim. Sou eu quem ela espera no final da aula. 

EU. 

Não esse cara. 

Meus passos de leves e despreocupados, passam a pesados e rudes. O som da sola do tênis é forte contra o chão. 

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora