ELENA ANDRADE
Rafael quer me falar alguma coisa.
Desde o nosso encontro no meu carro, o noto inquieto. A batida constante do pé no chão, as passadas de mão no cabelo, o movimento das mãos traçando linhas e contornos na calça do uniforme e a total falta de concentração nos exercícios que Fernando passou ontem e que devem ser entregues amanhã.
Arranco o caderno das suas mãos e o jogo na sua cama. Hoje foi dia de virmos estudar na sua casa, pude ver o jardim bonito que tive a visão de relance nos dias que o trouxe para casa. Mesmo sendo térrea, a casa é grande, os cômodos são espaçosos e bem decorados, meu pai teria amado o vaso japonês que tem na sala.
Rafael tenta pegar o caderno de novo, mas evito seu movimento com um tapa.
—Ai! — exclama — Por que fez isso?
— O que você tem? — pergunto — Está disperso e sem foco, é a quarta vez que erra a mesma coisa na questão quinze.
Ele passa as mãos pelo cabelo mais uma vez, bagunçando todos os fios.
— Pode me dar uma opinião. — diz
— Claro. — Me posiciono melhor na cama de solteiro de Rafael.
— Você nem deve passar por isso, mas como lidaria com inseguranças?
Por que você pede opiniões tão difíceis, Rafael?
Não poderia perguntar sobre o que acho da teoria quântica ou sobre buracos negros?
Por que você prefere perguntas pessoais?
— O que faz pensar que não tenho inseguranças?
É a vez dele se posicionar melhor na cama.
— Você parece tão decidida, tão convicta de suas escolhas, como se nada pudesse te abalar.
— Eu sou como qualquer adolescente terminando o ensino médio. Tenho minhas dúvidas sobre meu futuro e tento lidar com elas.
— Mas você é uma pequena gênia, pode ter o futuro que quiser, as universidades de fora duelariam para te ter como aluna.
— Você também pode ter o futuro que quiser, Rafael.
Sua postura muda assim que termino de falar. Ele parece perder as forças, seus ombros curvam e sua cabeça abaixa e seus olhos deixam os meus para voltarem-se às suas mãos.
Não sei por qual motivo Rafael puxou esse assunto, talvez ele esteja confuso quanto a carreira que deseja seguir e quis uma opinião de fora, de uma pessoa que não conhece muito bem e por isso é mais imparcial.
— É, eu sei. — Sua voz saiu baixa e um pouco cansada.
— A minha forma de lidar com minhas inseguranças — começo, sua cabeça volta a levantar e seus olhos retornam aos meus. — é escrevendo. Eu escrevo o meu objetivo e os meus pensamentos sobre quais barreiras tenho que atravessar para consegui-lo.
Ele assente com um movimento.
— Agora, refaz a questão quinze, deixa a nova resposta do lado da já feita e tenta encontrar o seu erro.
O assunto sobre inseguranças morre ali, mas a sensação de que Rafael queria falar mais alguma coisa, não.
Ele confirma mais uma vez com a cabeça, dessa vez não bato na sua mão quando ele pega o caderno.
*
A vídeo chamada demora para conectar, aumentando a minha ansiedade. A imagem de Heitor preenche a tela do computador, ele parece cansado, a bagunça de livros e cadernos pela cama confirma o motivo de tanto cansaço.
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A física entre nós [CONCLUÍDO]
RomanceRafael está ferrado. Perto de reprovar em física, se vê desesperado. A matéria parece não entrar na sua cabeça, todas aquelas letras, números, raízes e constantes o confundem. Sem saber o que fazer, recorre a Elena. A garota é a sua última esperanç...