Capítulo Dez

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Rafael Monteiro  

O caminho para minha casa foi relativamente tranquilo, tirando as partes que Elena xingou alguns motoristas, a viagem seguiu bem. A aparente tranquilidade de Elena, não me enganou. Seus tiques nervosos não foram fáceis de notar, ela é boa em esconder suas emoções. Menos a raiva, desde que começamos a passar mais tempo juntos, a raiva e a impaciência foram as emoções mais expressadas. Um dos únicos momentos que a vi mais relaxada foi na festa de Renan, mas o álcool pode ter sido um ingrediente importante para sua amabilidade momentânea.  

Pela quinta vez, Elena mudava a posição das mãos no volante sem necessidade. Se fosse um pouco mais lerdo não teria notado e provavelmente pensaria que é normal. Porém, mesmo sem nunca ter feito aulas de direção, tinha uma leve noção sobre como manter as mãos no volante e sabia que não é preciso mudar toda hora, principalmente em uma rua reta como a que estávamos agora. Ela tira uma das mãos e muda de música, pela sétima vez.  

Elena, com certeza, está nervosa.

Chegando na rua da minha casa, começo a ficar nervoso. Estava tentando ignorar o que o jantar parecia. Não é porque parecia que estou levando a minha namorada para jantar com meus pais – no caso, é ela quem está me levando- que a situação seja realmente essa.

Somos colegas de turma, e uma das partes resolveu ajudar a outra, nada demais.

Estacionando o carro na frente de minha casa, Elena desliga o carro e fica em silêncio, tomando uma respiração profunda, ela sai do carro. Acompanho seu movimento e também saio. Abro o portão e caminhamos pela distância entre o portão e a porta de casa. Os carros dos meus pais estão na garagem, indicando que ambos já chegaram em casa e esperam a minha e a convidada de honra.  

Levanto a mão disposto a abrir a porta, mas minha mãe é mais rápida. Com um movimento fluído a porta é aberta.

— Seja bem-vinda, Elena!  

E é a hora do jantar.

*

Minha mãe contava sobre seu dia, enquanto esperávamos para comer. A carne com batatas parecia estar deliciosa e o cheiro só me deixava com mais vontade de comer. Contudo, a minha tentativa de pegar comida, foi frustrada assim que peguei o prato.

— As visitas servem primeiro, filho. — disse minha mãe.  

Elena percebendo que enquanto não pegasse a comida nenhum de nós comeríamos, logo se adiantou e pegou um prato. Com o braço tatuado estendido, ela se servia. Não pude deixar de ver o olhar interessado do meu pai nas suas tatuagens. Seu foco é voltado para o bracelete de espinhos que fica perto do cotovelo. Esperava que ele não falasse nada ofensivo.  

— Gostou, Elena? — perguntou minha mãe, depois de alguns minutos.

— Gostei sim, a senhora cozinha muito bem! — elogia.

— Não precisa me chamar de senhora, Joana está bom.

— Tá bom, Joana. — Responde Elena, acanhada. — Nunca pensou em trabalhar com gastronomia?  

— Não, cozinhar é mais um hobbie. Eu gosto muito do meu trabalho.  

— Trabalha com o que?  

— Sou médica psiquiatra.  

— Uau... deve ser desafiador ser dessa área médica.

— Sim, ainda tem muito preconceito em volta da minha área de atuação. Mas, e você, Elena, pretende cursar o que?

— Engenharia espacial no ITA.  

Não esperava menos de alguém como ela. E com o cérebro dela. E com os prêmios dela.

A física entre nós [CONCLUÍDO]Onde histórias criam vida. Descubra agora