Amor&Sexo

4.1 PRIMEIRO FORA

Eu me sentia com 14 anos de novo, o que estava acontecendo bastante desde o primeiro esbarrão em Evan.

Cheguei na redação louca pra kiss and tell, querendo contar nos mínimos detalhes sobre como eu tinha sido bem sucedida em minha empreitada e sobre como ele devia estar embasbacado com a minha presença de espírito para tudo e todos, bem exibida.

Victor e as gêmeas já me esperavam na mesa quando eu cheguei, 10 minutos atrasada como sempre. Apontei para Henrique, que observava o movimento da redação provavelmente em busca de alguma epifania, indicando com o dedo que ele também devia ir para o meu santuário de trabalho escutar o relato.

Ele revirou os olhos, impaciente, mas fez exatamente o que eu pedi.

Joguei minha bolsa em cima do teclado e sentei na minha cadeira, olhando bem no olho de cada um ali, fazendo mistério.

— E aí? Se continuar me torturando assim eu vou ficar com rugas, Rebecca Nunes! — Victor soltou, o tom de voz trêmulo por uma fofoca que ele deve ter esperado horas para descobrir. Ri do seu nervosismo, mas olhei nos olhos de Henrique quando disse:

— Foi tudo perfeito.

— Pegou? — Mirzan perguntou, e eu acenei que sim.

— Ele foi um perfeito cavalheiro. Não encostou em mim a noite toda e ainda pagou o meu ingresso no cinema. — Tudo bem que aquelas coisas não eram ponto positivo nenhum pra mim. Mas o fato de Adhara estar batendo palminhas e Victor estar desmunhecando um "piranha sortuda" provava que era para eles. — Só que a tensão sexual era tão forte que no meio do filme eu não aguentei e agarrei ele.

— Essa é a minha melhor amiga! — Mi exclamou.

— Orgulho do Victor. — Ele apertou minhas bochechas, me provocando, e eu apenas afastei suas mãos rindo.

— E como foi? — Adhara perguntou, os grandes olhos amendoados curiosos.

— Nossa, foi tudo. Ele realmente sabe beijar. E onde colocar as mãos... — Ri, safada, e os três me acompanharam. Henrique não podia parecer mais entediado nem se quisesse.

Meu celular apitou com uma nova mensagem recebida no Whatsapp. Li pelo visor que era Evan, esfregando mais uma vez na cara do insuportável jornalista investigativo que estava me ajudando.

Victor arrancou o aparelho das minhas mãos, digitando rapidamente a minha senha para ler em voz alta.

"Rebecca, tivemos uma noite bastante peculiar. Efêmera, mas aprazível. Lamentavelmente, temo lhe dizer que somos, em tudo, muito distintos. Embora sejas uma dama primorosa, não encontro futuro em nossos horizontes. É uma lástima, porém findamos aqui. Saudações, Evan Heinrich."

Minha cara estava no chão.

Se ao menos eu não tivesse sido tão prepotente...

Mas, mais importante do que a vergonha que eu estava sentindo, que o baque que meu especial tinha acabado de levar, que Henrique me olhando debochado, era saber: Quem dá um fora daquela maneira?

Tão rebuscado e impessoal. Eu era jornalista e não usava nem metade daquelas palavras, pelo amor de Deus! Era como se estivéssemos no século 19. Blerg.

Bem, agora estavam todos rindo. Alguns mais escandalosos (valeu, amigos) e outros mais discretos (também conhecido como Henrique), mas a comoção foi geral.

Peguei meu celular de volta com fúria, abanando o ar para que aquele bando de abutres saíssem da minha mesa e me deixassem em paz com a minha fossa.

Tá, eu não estava na fossa, até porque o moço era realmente muito esquisitinho. Eu tive que praticamente assaltá-lo no cinema para alguma coisa acontecer, e aquelas roupas recatadas nunca funcionariam pra mim no longo prazo, eu gostava de mostrar pele. Nós éramos, de fato, diferentes demais.

Mas... nunca era legal receber um fora.

Logo depois de todos estarem fingindo se concentrar em seus afazeres, recebi mais uma mensagem. Dessa vez, de Bernardo, meu vizinho. De alguma forma ele sabia onde eu trabalhava — eu apostava na boca grande de Emeline, sua ex-namorada —, ou em uma boa pesquisa no Google, mas o fato era que ele estava me chamando para sair e se ofereceu para me buscar.

Achei muito gentil e estava mesmo afim de espairecer e dar umas risadas, então aceitei.