4.2 PRIMEIRA MENSAGEM

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Eu parecia uma criança birrenta, admito.

Estava sentada na minha mesa com um bico maior que a minha cara. Levar um fora de Evan, por menos que tenhamos saído, mexeu um pouco com a minha autoestima ainda não completamente recuperada pós-Bruno.

Mexeu não porque eu estivesse loucamente apaixonada por ele, mas porque afetou o meu trabalho. E meu trabalho era o meu porto seguro. Era justamente onde a minha autoestima se recuperava. A merda toda podia estar rolando na minha vida pessoal, era só eu chegar na redação e ler alguns comentários positivos à minha coluna, que eu me sentia melhor.

E agora eu tinha colocado tudo a perder porque fui extrovertida demais com um cara que praticamente abominava falação exagerada e contato físico imprevisível. Eu era um gênio da conquista, fala sério.

Enquanto eu mentalizava uma chibata com a qual eu pudesse me disciplinar, Alek, o deus-perfeito-tudo-de-bom Alek, apareceu na minha mesa. Ele me sorriu aquele sorriso de derreter órgãos e eu precisei entoar o canto de "inspira, expira" para ficar tudo bem.

— Tudo bom, Rebecca? Como está indo a matéria? — Ele tinha um tom casual que te fazia acreditar que só estava realmente perguntando por curiosidade, e se eu não soubesse que ele era Supervisor de Metas, realmente cairia no papo informal e despejaria que "não tava rolando".

Ainda bem, eu já tinha um tema para o texto daquela semana, então aquela informação me tiraria da forca por um tempo, enquanto ele voltasse a cobrar jornalistas mais atrasados.

— Tudo nos conformes. Vou escrever sobre compatibilidade amorosa. Quais características de uma pessoa podem ser moldadas e amenizadas em um relacionamento e quais são fundamentais demais para sofrer qualquer alteração. Até onde opostos se atraem, e onde o semelhante passa a ser tedioso. Essas coisas. — Dei de ombros, tentando parecer que tinha tudo sob controle. Ele sorriu mais uma vez.

— Continue o bom trabalho então. Vou te deixar voltar para o seu texto. — Ele deu um tapinha no monitor do computador e saiu.

Abri o Word correndo, decidida a terminar aquela porcaria antes do almoço.

Não que meu texto fosse uma porcaria. Só era uma porcaria escrever sobre aquilo quando era a melhor explicação para o fora que eu tinha acabado de tomar, logo depois de tomá-lo.

Tinha escrito só o título quando um entregador uniformizado parou no mesmo lugar que Alek antes estava. Ele sempre estava por ali distribuindo cartas e encomendas que chegavam no prédio e sabia o nome de todos de cor. Às vezes, também fazia o correio elegante, e o correio inimigo, ao entregar bilhetes e pegadinhas de gente do prédio mesmo, por uma caixinha extra, é claro.

Ele me cumprimentou com um aceno e enfiou a mão na mochila parda, tirando de lá uma caixa de bombons, que ele pousou em cima da minha mesa.

Saiu em seguida para a próxima entrega e eu fiquei encarando o presente inesperado como uma imbecil, de olhos arregalados.

— Ei! — gritei o entregador, antes de sequer tocar no presente — Você sabe quem mandou isso?

— Não, senhora. Sinto muito. — Ele parecia sincero, e eu achei por bem abrir de uma vez a caixa.

Confesso que enfiei um bombom na boca antes mesmo de procurar a procedência da caixa. Eu estava precisando de um chocolate e eles tinham uma aparência maravilhosa.

Só então que eu vi que, no lugar onde deveria haver o décimo segundo bombom do pacote, havia um bilhete dobrado em triângulo. Eu o desdobrei imediatamente, e a mensagem que ele trazia era:

"Não fique triste. Um "não" por todos os "sim" que eu quero te dizer não significa nada. Eu tenho uma lista também para seguir, mas ela só tem o seu nome. Será que eu vou ter mais sorte?"

Não havia assinatura.

Eu quase quebrei o pescoço ao olhar desesperadamente para todos os lados, como se o autor daquele recado fosse brotar do chão, o que obviamente não aconteceu.

Bom, era impressão ou eu tinha um admirador secreto?

Eu gostaria de estar torcendo o nariz. Gostaria de dizer que achei brega além da conta, e que isso tudo era uma palhaçada, uma piada de mau gosto.

Mas, de repente, o término com Evan pareceu muito menos pior.

Tinha alguém interessado em mim! Eu não era um caso perdido!

E nossa, aquele bombom era gostoso demais. Precisava esconder ele bem escondido para que o Victor e as gêmeas não tentassem roubar e comer tudo de uma vez. Amizade tem limite, né?

Voltei para o meu texto depois do terceiro pedaço de chocolate com ânimo renovado. Eu ia escrever um texto e tanto com aquela motivação em mente.

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