— Eu estou atrasada! Ai meu Deus! — Judite só ria do meu total pânico enquanto a máquina de cartão girava e girava, sem confirmar o maldito pagamento. Henrique tinha acabado de me mandar uma mensagem curta e grossa dizendo que Evan estava na cafeteria pronto para me encontrar.
— Você vai borrar as unhas — ela continuou rindo da minha cara, enquanto minhas unhas recém feitas batiam ritmicamente no balcão do salão de beleza.
Que inferno! Se eu perdesse Evan por segundos, eu iria ficar muito mais irritada do que se borrasse minhas unhas. Afinal, eu estava usando uma roupa nova, comportadíssima como a pasta dele sugeria ser de sua preferência, e não tinha sido barata. Fruto da verba para a matéria, que também estava pagando minhas unhas, meu cabelo e minha depilação.
Assim que o papel saiu, confirmando o pagamento, eu mesma o arranquei da maquininha, saindo correndo rua abaixo sob as gargalhadas de Judite e das outras meninas do salão. Daquele jeito, eu tinha certeza que os cachos fracos que eu fiz iriam sair com facilidade, mas eu estava à uma distância que nenhum taxista iria querer me levar e tinha feito a burrada de deixar o carro estacionado perto das lojas onde comprara a roupa. Estúpida!
Olhei meu relógio enquanto entrava na cafeteria, certa de que estava atrasada e não encontraria Evan, por isso não percebi que havia alguém saindo e trombamos.
Lá se foi minha camisa branca nova.
Puxei a blusa para frente, para desgrudar da pele, e levantei a cabeça para a pessoa com quem eu trombei, certa em xingar e culpar por ter me molhado inteira e por eu estar queimando com o café, quando eu não pude acreditar no meu azar:
— Evan?
Ele estranhou que eu soubesse seu nome e tenho certeza que eu corei. Lá se foi o plano de fingir que eu não o conhecia.
— Conheço-te? — perguntou.
Ah, certo. Que normal a pessoa dizer "conheço-te"? Não sabia se ficava excitada ou assustada.
— Rebecca. — Respondi-lhe. — Estudamos na mesma escola.
Um dos funcionários do café se aproximou com um pano e me ofereceu. Aceitei-o de bom grado, passando pela minha blusa nova, na certeza de que não haveria jeito de tirar aquela mancha, mas sem querer desistir. Foi quando eu meti a borda da minha unha ainda úmida na blusa e o rosa do esmalte ficou no tecido. Fechei os olhos e recitei uma oração.
Minha santinha da unha molhada e da blusa branquinha, por favor me salve dessa.
Tentando parecer uma pessoa normal e controlada, eu tentei tirar o meu desastre da cabeça e focar na minha matéria.
— Eu acho que estou te devendo um café — sorri para Evan.
— Acho que estou te devendo uma blusa, então? — riu.
— Bobagem, isso acontece o tempo todo.
O tempo todo.
Assim que eu disse, me arrependi. Isso não acontecia o tempo todo. Tudo bem, umas três vezes já, com certeza, mas eu fiquei parecendo uma garotinha boba e desastrada.
Que eu era. Mas não queria parecer.
Ele mordeu o lábio e abaixou a cabeça, tomando o último gole de café que havia no copo.
— Por favor — soltei. — Deixa eu te pagar um café. Ou um drink. Eu estraguei sua bebida.
Evan levantou o olhar para mim e eu o vi me avaliar da cabeça aos pés. Senti um arrepio percorrer meu corpo quando ele me arriscou um sorriso leve e sincero.
— Você paga o meu café e eu te pago uma bebida depois pela blusa — disse. — É o mínimo.
Eu estava quase fazendo a dança da chuva enquanto lhe pagava o café e ele aguardava ao meu lado. Evan pediu meu número e anotou em seu celular, falando que iria me ligar no dia seguinte para marcar, visto que hoje já tinha compromisso com a família.
Ele pegou o café, se despediu beijando a minha mão e foi embora.
E eu fiquei parada no meio da cafeteria, sem um café, com a blusa e a calcinha molhadas.
Mas a unha já tinha secado.
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Amor&Sexo
ChickLitA coluna Amor&Sexo é a favorita dos leitores da revista Brilho, porém, Rebecca está sem ideias brilhantes desde que terminou com seu namorado. Resolvendo procurar novos ares, ela se muda para o outro lado da cidade de São Paulo, alheia ao fato de q...