— Eu te levo em casa — sugeri a Bernardo, mais uma vez. Já estava naquela súplica há algum tempo depois dos "planos" que ele tinha serem arruinados pela minha preocupação com o trabalho.
Eu tinha que voltar na editora para pegar o material sobre Fred e estudar um pouquinho. Já eram quase nove da noite e não deveria ter mais ninguém na editora, imaginei que o ambiente acabasse sendo propício para estudar Fred e, como não sabia quando iríamos na boate, seria bom me adiantar por via das dúvidas.
Se eu fosse para casa, eu só iria pensar na roupa que poderia vestir. Era o que eu queria evitar, me preocupar com algo fútil.
— Bobagem, Becca — riu. — Deve estar tudo parado. Vou de metrô e rapidinho eu tô em casa.
Acabei concordando e deixei Bernardo ir, não antes de prometer que remarcaríamos o que quer que ele tinha programado. Estacionei e quando estava entrando no prédio, ouvi meu nome sendo gritado e procurei pela fonte. Do outro lado da rua, na frente do café em que agora trabalhava, Enzo acenava. Convencida pelos meus hormônios de adolescente a ir até ele só para ver o seu sorriso outra vez, atravessei a rua.
— E aí, Becca! — Enzo me deu um abraço de urso assim que eu o alcancei. Fiquei meio mole, meio besta... — Saindo mais tarde?
— Voltando. Preciso fazer uma pesquisa e me concentrar. — E aí fiz careta porque percebi que estava quase mandando Enzo embora para não me atrapalhar. Dois homens gostosos sendo afastados porque eu não conseguia relaxar. Parabéns, Rebecca.
Por sorte, ele não me deu atenção.
— Pesquisa sobre o quê? — perguntou, curioso.
— Futebol.
Enzo levantou uma sobrancelha parecendo admirado que eu estivesse interessada em futebol e soltou uma gargalhada envolvente.
— O que você quer saber?
— Tudo. — Eu nem sabia por onde começar. — Eu literalmente não sei nada sobre e preciso virar expert em tempo recorde.
— Bom, achou o cara certo. Eu era a estrela do meu time júnior, na adolescência. — riu. — Vem, vamos entrar. Vou te dar um resumão.
Acompanhei-o para dentro do café e Enzo me levou com familiaridade para uma das mesas mais reservadas, no canto.
— Dala! — Enzo acenou para uma garota bonita que sorriu doce e logo se aproximou da mesa. — Becca, essa é a Dalila, minha colega. Dalila, Becca.
— Prazer! — Ela sorriu, animada. De alguma maneira, achei que ela estava forçando um pouco, mas não liguei. Ela estava trabalhando, tinha que ser sempre simpática e talvez estivesse só cansada.
Acenei com a cabeça e sorri para ela de volta.
— Dala, me traz qualquer coisa sem café, por favor? E um daqueles salgados especiais? — Enzo pediu.
— Ei! Também quero um especial! — não sabia o que era, mas se o pessoal da cafeteria achava especial, devia ser bom. E secreto. Victor ia morrer de inveja, se ainda não soubesse. — Mas quero café. Bem forte.
Dalila fez que ia anotar os pedidos no bloquinho, mas acabou dando de ombros e apenas sacudindo a caneta com um sorriso. Voltou para o balcão e desapareceu atrás dos nossos pedidos — provavelmente procurando o tal especial. Estava gostando disso.
— Então, por onde começamos?
Enzo me explicou com cuidado todas as particularidades do futebol, enquanto eu prestava atenção e anotava algumas coisas aqui e ali. Quando acabamos, chequei meu celular e vi que Fred tinha mesmo mandado a mensagem. A boate seria no dia seguinte já, então eu estava certa de otimizar minha noite.
Depois que o café fechou, tudo ficou vazio e Enzo bocejou discretamente eu percebi que já tinha ocupado o tempo dele demais da conta. Me despedi, agradecendo imensamente a aula de futebol e fui para casa tentar descansar.
Mas não consegui. Fiquei virando na cama pensando no diabo da roupa que usaria. Às vezes a minha ansiedade ria na minha cara, mostrando que não tinha como fugir, por mais que tentasse. Só consegui pegar no sono depois de experimentar o meu guarda-roupa inteiro e separar o que vestiria em cima da poltrona.
Acordei mega atrasada, mas estava com tantas horas extra na conta que não me incomodei. Apenas pedi para Victor avisar nosso supervisor que eu passaria o dia em externa e fui novamente para o café, onde passei o dia me alimentando por osmose, salgados especiais — eles eram mesmo maravilhosos! — e cafeína, enquanto assistia os melhores momentos de alguns jogos famosos que Enzo recomendou. Eu não tinha paciência pra ver o negócio inteiro, mas aqueles cortes rápidos eram toleráveis.
Eu ainda não entendia direito a diferença entre tiro de meta e escanteio, nem a lógica das substituições, e definitivamente não tinha decorado mais do que 3 nomes de jogador, mas o horário avançou e avançou, e eu precisaria dar aquilo como suficiente se quisesse estar gostosa no encontro.
Era o que Henrique tinha dito, certo? Que isso era o mais importante para Fred?
Então ele não ia saber o que o tinha atingido.
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Amor&Sexo
أدب نسائيA coluna Amor&Sexo é a favorita dos leitores da revista Brilho, porém, Rebecca está sem ideias brilhantes desde que terminou com seu namorado. Resolvendo procurar novos ares, ela se muda para o outro lado da cidade de São Paulo, alheia ao fato de q...