5. 5 TERCEIRA REUNIÃO

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Na manhã de quarta-feira, com a "água batendo na bunda", resolvi tentar me acertar com Henrique ou, pelo menos, arranjar uma maneira saudável de suportá-lo.

Meu prazo estava chegando e eu não podia mais me dar ao luxo de achar que ia dar um jeito sozinha, que ele ia pedir desculpa, que Zeus ia descer do Olimpo para me ajudar, nem nada do tipo.

Cheguei na redação apenas cinco minutos atrasada dessa vez, e fui informada por Victor, o rei das fofocas, que Henrique não chegaria tão cedo, pois estava confirmando alguma fonte ou algo do gênero.

Então eu pedi ajuda para Mirzan e Adhara, para que me ajudassem a escolher um pedido de "desculpas" que fosse auto-explicativo e não me forçasse a ter que dizer muitas palavras.

As gêmeas me deram um milhão de ideias, mas os presentes de Mirzan eram muito impessoais, e os de Adhara faziam parecer que eu ia pedi-lo em casamento a qualquer momento. Achei um meio termo entre as duas e decidi por um pen-drive fofo em forma de lupa.

Ele era um investigador, afinal, combinava com ele. E só usava pastas para guardar seus arquivos, o que era um pouco preocupante.

Liguei na loja para saber se eles tinham em estoque e fui correndo na minha hora de almoço buscar.

Quando voltei, Henrique estava em sua mesa, concentrado em seu mural de fios, e eu ia até lá de uma vez. Mas Mirzan me parou no caminho, com um pente e um rímel, e me obrigou a passar os dois dizendo que "é muito mais fácil perdoar uma mulher bonita".

Enfim arrumada, fui até seu biombo com as mãos estendidas, como se me rendesse.

— O que tu queres, Rebecca? — Ele perguntou, ranzinza, embora eu pudesse ver um sorriso ladino querendo se abrir.

— Vim pedir desculpas. — Respondi simplesmente, estendendo a caixinha com o pen-drive para ele. Ele abriu, desconfiado, enfim deixando o sorriso transparecer enquanto girava a pequena lupa nos dedos.

— Você está tentando me comprar. Primeiro vens aqui bonita desse jeito, depois me dá um presente... — Disse, ainda sorrindo.

— É claro que não, eu só... — Tentei me explicar, nervosa. Não queria entrar em mais uma briga, ele não podia me perdoar de uma vez e pronto?

Pera, ele disse que eu estava bonita?

— Puxa uma cadeira, boneca. — Me interrompeu, e eu suspirei aliviada.

Fiz o que ele sugeriu, me sentando à sua frente.

Henrique mexeu em sua bagunça particular até encontrar a pasta de Caio, que eu havia deixado ali no dia anterior. A abriu, respirando fundo, e desatou a explicar ponto a ponto as linhas impressas.

Não precisou de mais que duas folhas para que eu entendesse que ele não tinha feito algo desorganizado para que eu não entendesse, e sim que Caio era excêntrico além da conta. Meu próximo alvo era bem... Indecifrável.

O homem parecia aquelas adolescentes do contra, sabe? Se o esperado dele era que fizesse A, então ele fazia B. Se você já tinha pegado o padrão e, da próxima vez, esperava B, ele ia e fazia C. Era francamente cansativo só de olhar.

Ser assim quando de fato éramos adolescentes não era impressionante, porque todo mundo queria ser diferente, e acho que era por isso que eu não me lembrava de Caio ser tão... Único naquela época. Pelo menos não comparado com o que eu via agora.

— Ele está responsável por uma exposição no Ibirapuera, e ao que tudo indica, leva seus surtos de criatividade muito a sério. Aclamá-lo deve ser um bom jeito de se aproximar. — Indicou, e eu respirei aliviada, tendo enfim um norte para seguir na matéria da semana.

— Obrigada, gaúcho. De verdade. — Ele tinha sido tão paciente, tão menos odiável do que era normalmente que eu me peguei indagando como alguém pode ir de 8 a 80 tão rápido.

O pior era que com o restante da redação ele parecia ser um cara sempre educado e na dele, sem grandes atritos, que só reservava aquele tipo de comportamento à minha pessoa.

Balançando a cabeça, guardei esse pensamento para outra hora e peguei minha bolsa na mesa, passando na sala de Alek (pausa para dar um grito de adolescente com os hormônios em fúria) para avisar que estaria indo atrás de um alvo, e me direcionando a um dos maiores parques da cidade.

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