5.4 CAFÉ

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Depois de quase quebrar o bendito do teclado ao digitar respostas para os comentários dos leitores que perguntavam do próximo alvo, resolvi que precisava de um bom chá gelado para me acalmar.

Tirei meu casaco, que só podia ser usado sob o magnífico ar condicionado da editora, mas não no calor praticamente nordestino que estava fazendo nas ruas paulistanas, e deixei um post-it na minha mesa dizendo que voltava em quinze minutos.

Desci no elevador do prédio e caminhei até o TAB café, onde Lorenzo trabalhava. Era pertinho, as bebidas e comidas eram boas, e eu tinha sempre a oportunidade de ser atendida pelo senhor Sorriso Perfeito, então os motivos para frequentar o lugar só se acumulavam.

Tinha uma modesta fila para o caixa, e só aquele fato já me irritou mais do que o normal.

Também, pudera, era terça-feira já, eu não tinha ainda qualquer notícia do meu novo alvo para a coluna dessa semana, e o texto desse tinha que ser entregue até sexta-feira.

Optei por não me irritar mais e fui para as mesas. Ser atendida ali me faria ter que pagar os dez por cento de serviço, mas eu não estava me importando tanto. Afinal, dez por cento de oito reais é troco de ônibus.

E logo eu tava pensando no que a Kaila disse. Filha da puta.

Xingando ela mentalmente, não vi quando alguém parou do lado da mesa.

Era Lorenzo, em seu avental vinho fofo, com um bloquinho na mão e o sorriso impecável.

— Vou começar a achar que você vem nesse lugar por minha causa. — Ele disse brincando e eu corei.

— Droga, você me descobriu! — Ri também, por mais que houvesse muita verdade por trás das palavras. Ele me acompanhou.

— E então, o que te traz aqui hoje, Becca?

— Vim atrás de um chá, mas aceito uma boa companhia. — Sugeri.

— Acho que posso arranjar isso pra você. — Piscou.

Ele se foi e eu fiquei confusa. Mas logo voltou com o chá nas mãos e sem o avental e eu entendi.

Enzo se sentou à minha frente na mesa e me distraiu por longos minutos, comentando das pessoas ao redor e dividindo estripulias de Victor. Eu também tinha muitas para contar, então nos agarramos àquele ponto em comum tão engraçado e a conversa fluiu e fluiu.

Quando me dei conta, estava ali há mais de meia hora e nem meu celular eu tinha levado. Achei que era uma saída rápida... Mas Lorenzo me fez perder a noção do tempo.

Aquela menina meiga que também trabalhava no café aproximou-se com uma careta nada satisfeita. Ainda assim, ela não parecia nada menos do que fofa.

— Enzo, você precisa atender as outras mesas. Tá começando a lotar e eu não dou conta sozinha... Por favor? — Tive vontade de colocá-la no colo. Se fosse eu, Mirzan ou Victor em seu lugar, gritos seriam o mínimo que meu colega escutaria.

— Desculpe, Dala, estou indo. — Ele disse, acariciando o braço dela com carinho. Dalila corou. — e acenou antes de se retirar, dando espaço para nos despedirmos. — Só tem uma coisa que eu preciso fazer antes. — Ele murmurou e eu o olhei em indagação. — Janta comigo?

Arregalei os olhos. Ele estava me chamando pra sair?

— Tipo em um encontro? — Perguntei pra ter certeza.

— Exatamente como em um encontro, Becca.

Ai, minha santinha.

Geralmente os homens fugiam como o diabo de chamar qualquer coisa de "encontro", mas ali estava Enzo, todo seguro de si sem medo que eu fosse entender algo errado.

E agora? Minha vida tá uma zona com esse caralho dessa lista, mas eu queria sair com ele, então o que fazer?

— Enzo, eu adoraria... Mas a minha vida tá bem tumultuada nesse momento, e eu não sei se...

— Por favor? Tô louco pra sair contigo, Rebecca, e não vou aceitar um "não" como resposta. — Ele sorriu de lado, firme.

Aquilo era tão sexy. Ele era tão sexy. Ai.

— Nesse caso, acho que não tem nada que eu possa dizer que não seja "sim". — Disse de uma vez. Paciência, depois eu faria meus malabarismos para colocar minha vida amorosa em ordem.

Enzo sorriu largo e segurou minha mão por um segundo, olhando nos meus olhos.

— Achei que você fosse me chamar pra tomar um café primeiro, você sabe. — Comentei, engraçadinha e ele deu risada.

— É mais o meu Modos Operandi mesmo. Mas você merece mais. — Ele era charmoso, viu? Tipo muito. Devia ser de família.

Lorenzo apontou para o balcão e fez uma careta de despedida, e eu peguei a deixa para deixar o dinheiro em cima da mesa e voltar pra redação.

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