1.1 TÉRMINO

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— Sua vadia do caralho! Engole essa rola que eu vou te encher de porra!

Não pude conter minha careta enquanto encarava o vídeo que passava no notebook, posicionado na mesinha de centro, enquanto nós nos acomodávamos no sofá da sala do nosso apartamento.

Eu me sentia uma intrusa em meu próprio ninho. Estava com os joelhos encostados um no outro e sentada quase à beira do assento, sem conseguir relaxar. Não conseguia tirar o olho da tela, mas era mais por horror do que qualquer outra coisa.

Estávamos assistindo ao vídeo por meia hora, ao que me parecia. E, durante todo aquele tempo, a mulher estava chupando o pau do homem. Meia hora. Ela já devia estar com o maxilar deslocado a uma hora dessas, e ele nem um carinho nos peitos dela tinha feito.

Bruno, ao meu lado, era o meu completo oposto de mim. Ele estava esparramado no sofá com um sorriso convencido e acariciava sua ereção despretensiosamente por cima da calça. Parecia muito contente consigo mesmo, e os dedos que ele passava em minha coluna me levavam a acreditar que esperava que estivéssemos indo seguir o mesmo caminho do vídeo em um futuro próximo.

Mas nem a pau que eu ia chupar um pau por meia hora sem nem ganhar um agrado.

Senti os lábios de Bruno se aproximando do meu ombro, mas a repulsa e o nervosismo provocado por aquele absurdo de vídeo me fizeram sacudir a mão no ar para afastá-lo, prejudicando meu equilíbrio o bastante para que escorregasse do sofá e caísse de bunda no chão.

Ótimo, Rebecca. Parabéns.

— Que foi, gata? — Bruno logo arqueou as sobrancelhas para mim, enquanto eu me levantava. — Meu vídeo não te excitou?

Não, Bruno. Nem um pouco. Estou mais seca que o Deserto do Saara.

— Ah, é... Eu... — as palavras ficaram na minha garganta e eu acabei dando de ombros, em uma concordância muda.

— Eu devia ter adivinhado.

O quê? Que você produz vídeos ruins e machistas? Devia sim, porque não é nem de longe a primeira vez.

Ele se levantou, fechou o notebook, me fazendo suspirar aliviada, e, então, rodeou o sofá, passando a mão pelos cabelos. Em quatro anos de namoro, eu o conhecia o suficiente para saber que meu alívio iria durar muito pouco. Quando ele parou e balançou a cabeça negativamente, apenas engoli em seco.

— Como vou ficar com você, Rebecca? — inquiriu. — Como eu, um produtor de vídeos eróticos, posso namorar com a garota mais frígida da cidade?

Ei. Quem te ensinou essa palavra difícil?

— Frígida? — estava completamente embasbacada. Eu gostava de sexo como qualquer mulher, não era minha culpa se o vídeo era um lixo e não passava nenhuma sensualidade.

Sem contar que "produtor de vídeos eróticos" era um exagero considerável. Ele era do time de produção, sim, mas não assinava nada. No máximo o cenário, e isso nem era tão difícil.

— Frígida, sim — resmungou. — Ai, Bru, não vou engolir seu gozo não. Ai, Bru, por trás dói. Ai, Bru, cuidado pra não rasgar minha calcinha. Que saco, Rebecca!

Tá. Eu podia mesmo ter dito todas essas coisas. Podia. Mas que saco dizia eu! Eu nem me lembrava mais quando o tal produtor de filmes eróticos tinha me feito gozar pela última vez. Era tudo sempre sobre o prazer dele.

— Ah, cala boca, Bruno!

Levantei-me em um pulo e, na raiva, acabei por chutar o sofá sem querer. Fiquei com mais raiva ainda pelo meu mindinho dolorido.

— Quer saber de uma coisa, Becca?

— Não! — interrompi — Quer saber de uma coisa você, seu imbecil! — gritei, bufando pelas ventas. — Frígida? Frígida?! Você não pode chamar uma mulher de frígida só porque você não consegue fazer que ela sinta tesão, babaca. Isso é incompetência sua! Porque as minhas mãos, amor, me levam bem mais longe que você!

Bruno estava estático, olhando para mim como se eu tivesse sido trocada por um alienígena enquanto ele piscava. Tomei uma lufada de ar e segurei meu forninho. Eram quatro anos de relacionamento sério que eu iria jogar fora, provavelmente de cabeça quente, mas não achava que iria me arrepender.

— Chega. Estou indo pra minha tia. Quando eu conseguir um lugar pra ficar, venho pegar minhas coisas — anunciei.

Atravessei a sala, pegando minha bolsa e minhas chaves em cima da mesa da cozinha, onde eu as havia abandonado quando cheguei do trabalho. Achei que ele ainda estivesse tentando entender o que havia acontecido quando eu encostei minha mão na maçaneta.

— Pegar suas coisas? — questionou, confuso.

Apenas virei meu rosto para ele, para encarar seu descrédito em minha decisão louca e completamente impulsiva.

— Acabou, Bru — expliquei, como quem fala com uma criança. — Você não entende o que é um clitóris e também não consegue identificar um pé na bunda? Estou terminando com você. E vê se aprende a fazer uma mulher gozar, vai te ajudar com seus filmes e no seu próximo relacionamento.

E antes que ele pudesse dizer alguma coisa, lá estava eu, saindo desvairada do apartamento que dividíamos há quase dois anos, com a respiração alterada e o coração acelerado.

A ficha começou a cair só quando eu já estava dentro do meu carro, dando partida.

Meu Deus.

Eu terminei com o Bruno!

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