2.1 HAPPYHOUR

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O Happy Hour sempre foi a minha salvação. Ter passe livre para beber ainda durante a tarde, com todo mundo do trabalho e a preços mais baixos do que os bares normalmente praticavam tinha que ser uma benção. A sexta-feira paulista sempre era agitada por causa dele e eu tentava não perder um. Especialmente agora, que eu tinha uma bomba relógio na cabeça e uma decisão para ser tomada.

Jogando minha bolsa ao lado da cadeira, sentei-me na mesa oval com todos os meus melhores amigos. Victor, claro, a alma da festa, estava na ponta, já contando uma piada atrás da outra. Ele era o rei das fofocas, e não era à toa que esse era justamente o seu cargo na revista. Bom, não que a função dele na carteira de trabalho contivesse a palavra "rei" de fato, mas vocês entenderam — ele escrevia sobre acontecimentos da vida das celebridades. Para além de trabalho, ele também sempre tinha um babado picante para soltar na mesa e deixar todo mundo boquiaberto.

Mirzan e Adhara estavam na minha frente, por fora tão parecidas e por dentro tão incrivelmente diferentes. As gêmeas tinham personalidades completamente adversas, mas se completavam de um jeito estranho e único. Era impossível ser amiga de uma e não da outra.

Adhara era doce. Estava sempre alegre e tinha palavras de conforto que acalmavam até o mais bravo dos leões. Ela era encarregada de dar dicas sobre penteados, maquiagem e vestuário, para qualquer que fosse a ocasião. Mirzan, por outro lado, era intensa e adorava uma confusão. Seu sonho era escrever sobre política e economia, mas a beleza sempre a atrapalhava quando queria ser levada a sério. Por isso, ela se contentava em descontar suas frustrações em críticas pesadas aos cabelos, roupas e maquiagem das famosas.

Uma dando dicas para que as mulheres se sentissem maravilhosas, a outra colocando defeito no que as mulheres mais maravilhosas faziam. Era engraçado e funcionava bem demais.

Eles eram o meu time. Cada um com seu jeitinho particular, estavam sempre do meu lado e eu não os largaria por nada. Ainda mais em uma situação dessas, quando precisava deles para me ajudar a decidir o que fazer.

— E você, sua piriguete! Coloca na mesa, o que a Zara queria contigo? — Victor exclamou, sempre exagerado, e eu sorri culpada.

— Ela me fez uma proposta maluca, sobre aquela maldita lista dos caras que eu queria pegar.

— Como assim? — Adhara perguntou, preocupada com a minha demonstração de nervosismo.

— Pelo que eu entendi, seria um especial. Eu teria que ir atrás de cada um deles, tentar arranjar encontros, e escrever sobre isso na minha coluna. Ela e o Alek acham que eu preciso de motivação. — Expliquei, fazendo uma careta ao final.

— Você tá me dizendo que tem passe livre pra vadiar à vontade? Que arraso! — Victor vibrou, já levantando a mão para pedir mais uma rodada de bebidas.

— Não é bem assim, Vi. Seria uma super exposição, eu não sei se quero isso pra mim. — Tentei argumentar.

— Ela vai te dar um aumento pelo menos? — Mirzan indagou, com a tradicional cara de "torne isso interessante, por favor".

— É, ela falou de um bônus. — Dei de ombros, não achando aquilo o mais importante.

— Então aceita de uma vez, mulher! — Victor já estava ficando impaciente com a minha dúvida, eu sabia. Mas ele não entendia o significado de "privacidade", por isso.

— Vai dormir com um bando de cara gato e ainda ganhar por isso, é quase o sonho de toda prostituta. — Mirzan resmungou, achando graça sozinha.

— Ei! — Reclamei, me sentindo levemente ofendida.

— Ai, vocês entenderam. — Ela abanou o ar, fazendo pouco caso. Optamos por relevar.

— Amiga, faz realmente uma era que você não tem um pouco de emoção nessa vida amorosa. Mesmo antes de terminar com o Bruno... — Adhara completou, segurando minha mão sob a mesa. Mas eu logo me soltei de seu conforto.

— Eu não quero falar sobre ele. — Aquele assunto me irritava e eu realmente não era obrigada.

— Mas quem sabe você não encontra sua alma gêmea no meio do caminho? — Adhara insistiu. — Seu príncipe encantado?

— Quem ainda acredita em príncipe encantado? — Mirzan fuzilou a irmã com os olhos.

— Eu não tô nem acreditando em homem, que dirá em príncipe encantado — reclamei.

Victor acenou como se aquela ofensa à integridade masculina não fosse nada.

— Mas é um fato, Becca. Você tá muito acomodada! E outra, se você não aceitar, sabe que a Zara vai dar seus homens pra outra. — Victor tinha uma sobrancelha levantada, em um silencioso desafio.

— Claro que não, aquela lista é particular! — Eu ri, achando aquilo absurdamente improvável.

— Você quer pagar pra ver? A Kaila seria a primeira a se oferecer — Insistiu, e eu comecei a ficar noiada. Zara era mesmo determinada além da conta, e eu não estava muito afim de ver outra pessoa escrevendo uma matéria que era pra ser minha, muito menos Kaila. Mas também não tava muito afim de perseguir doze caras que muito provavelmente nem lembravam de mim. — Olha, gata, você tá há um tempão sem dar. É por isso que tá assim, com o rabinho entre as pernas. Se eu fosse homem, te comia só pra você ficar alegrinha. — Dei um tapa no braço de Victor. Ele sempre fazia essas brincadeirinhas e era muita sacanagem porque ele era um pedaço de mal caminho. E gay além da conta.

Passamos o resto da noite nisso, eles tentando me fazer decidir e eu bebendo uma atrás da outra, esperando que o destino resolvesse por mim.

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