{RETA FINAL} Aluna Nota A

Capítulo 2

Eu caminhava freneticamente, de um lado para o outro, dentro do quarto onde eu dividia com Luiza. A garota negra, de cabelos trançados me encarava ainda com a cara de espanto, pela forma como eu despejava as últimas informações de cinco minutos atrás. Parecia que me faltava palavras para enfim, descrever o quão indiscreto e repugnante o professor de línguas parecia se apresentar.

— E como não bastasse, ele ainda frisou que ficaria de olho nos alunos que tiveram notas excelentes durante as últimas avaliações, com a desculpa de que não queria que houvesse vacilos e pensamentos de que ninguém era melhor que ninguém, sendo assim, não deveriam relaxar! Isso só pode ter sido uma indireta, ele olhou bem para a minha carteira quando disse. — Eu finalizei, me sentando agora na minha cama e desabotoando os últimos botões da minha camiseta, com uma vontade absurda de tomar um longo banho e me colocar debaixo das cobertas, querendo fugir agora da futura ligação que meus pais fariam a direção pelo sumiço repentino de sua filha que deveria estar uma hora dessas no avião, de volta para casa.

— Sabe que isso não pode te deixar afetar, não sabe? Até porque, se ele parece estar encanando com você, mostre a ele que não tem motivos para isso. — Luiza falava, enquanto levantava da cama usando seu habitual pijama de corujas e calçando os sapatos fofos que eu lhe dei no seu aniversário. — Com toda certeza, essa vinda repentina dele deve ser dado ao fato de Deus querer se certificar de nossas ações e dilemas. Deve ser uma provação divina! — O brilho em seus olhos quando a última palavra foi proferida, foi inevitável. Ela era muito religiosa e acreditava que na maioria das vezes, tudo tinha um teor de testamento, e no momento, o meu parecia ser aquele.

Bufo e retiro a camiseta do meu corpo, junto com a saia, indo em direção ao banheiro somente de meias com a lingerie no corpo agora e com a toalha vermelha na mão. Antes que eu adentre o cômodo, olho em direção a garota em pé.

— Pode passar uns dias com os meus pais? Vou me sentir um pouco mal por não fazer isso eu mesma! — Peço com tristeza no olhar. Eu sabia que ela tinha os seus afazeres, como ir a igreja durante uma semana, pois era uma promessa que sempre fazia quando saia do colégio interno de férias, ou ajudar a caridade, o que ocupava bastante seu tempo porque ela se deixava levar por quase todo mundo.

— Tudo bem, só peço que não arranje encrenca, sabe como da última vez foi doloroso para você e eu não quero ter que cuidar dos seus ferimentos e lhe fazer rezar mais uma vez por eu ter alertado o que estava no regulamento! — Ela caminha agora em direção a sua cama e começa a arrumá-la. Eu me apresso e volto a atenção para o meu chuveiro.

A água quente bate com tudo nas minhas costas, e antes que eu pudesse me afastar, me permito ficar, como forma de castigo. Talvez eu realmente merecesse tudo aquilo, afinal, eu estava sendo uma garota ruim esses últimos dias, como roubando comida da despensa do colégio interno e me encontrando com Flyn, meu namorado.

A comida era ótima e eu só fazia o que fazia, porque a gula era pecado e precisava ser lembrada todo dia quando íamos fazer a refeição.

Comíamos tão pouco que eu já havia perdido cinco quilos da última vez que chequei. Nossos pais não sabiam porque a diretora fazia parecer que estávamos seguindo a risca sua dieta regrada, com a desculpa de que não podíamos dar motivo de festejo para o anjo caído, de modo que ele não se alegrasse com a nossa desgraça.

Mas, no meio disso tudo, eu ainda tinha o homem perfeito, mesmo não me sendo atribuída o mesmo adjetivo.

Flyn é quem estava me fazendo segurar a barra de não acabar ficando doida com essas últimas provas e com as reclamações constantes e orações de Luiza, sobre seus exames e do quanto ela queria estar em casa lendo a bíblia e rezando o terço pela milésima vez com sua mãe.