Caminhada

750 21 21
                                    


FLASHBACK ON:

MARÇO DAQUELE MESMO ANO

Ultrapassava as duas horas da manhã quando Giovanna passou pela porta da mansão.

Trilhou o olhar por todo o perímetro da sala, focando-se nos pontos principais – como de costume – e como nada lhe capturou a atenção, dirigiu-se à escada.

Acessou o andar superior e deu prosseguimento à rotina indispensável de checar, um a um, o sono de seus filhos: Antônia, Sofia, Luna, Pietro... E neste ponto precisou se reter um pouco mais.

G: Isso são horas, mocinho? – Mesmo contrariada, por se sentir completamente indisposta a isso naquele momento, fixou a melhor expressão repressiva no rosto e prosseguiu – Nós já conversamos sobre esses seus horários inúmeras vezes!

O adolescente surpreendeu-se com a voz da mãe, girou rápido a cadeira que lhe acolhia na melhor posição possível para o jogo violento que era reproduzido na tela do computador, e assistiu Giovanna passar pela porta caminhando até ele.

P: Ah, mãe... – Tentou reunir as melhores palavras que foi capaz – É... Eu perdi o sono e... Como amanhã a primeira aula no cursinho é de inglês, que eu tenho facilidade, eu me despreocupei e acabei passando um pouquinho do horário. – Mexeu no cabelo desconfortável.

G: "Um pouquinho"? Mesmo? – Cruzou os braços, em frente ao loirinho – Daqui a pouco bate três horas da manhã, e seis e meia você já tem que estar de pé, Pietro! Pelo amor de Deus, cara, as aulas mal começaram e você já vai me dar esse trabalho todo? Sério?

P: Foi mal! – Revirou os olhos, mas já girou o corpo para desligar o computador, sabia que não adiantaria mais argumento algum.

G: Eu tô começando a perder a paciência com esses seus "foi mal", Pietro! – Engrossou o tom de voz para imitar o filho na expressão repetida – Se eu encontrar você nessas condições mais uma vez, eu mando tirar computador, ipad, xbox, gameboy e o caramba de você!

P: Eita, mas tá coroa mesmo, hein? Nem existe mais gameboy... Chama Nintendo 3DS agora! – Sem juízo algum, não conseguiu barrar o bullying com a mãe, mas logo retornou ao centro – Eu vou melhorar, mãe, prometo! – Levantou da cadeira e desavergonhadamente segurou-lhe em um abraço, amolecendo-a imediatamente.

Giovanna correspondeu o abraço, apertando o filho amorosamente antes de buscar novamente seu olhar.

G: Você precisa ajudar sua "véia" aqui, meu amor! – Deixou um carinho no rosto dele e sorriu discretamente.

Perceptivo, o filho viu no olhar da mãe o que já vinha enxergando há tantas semanas e naquele instante comunicou-se silenciosamente com ela, aquietando seus ânimos.

P: Eu vou conseguir ajudar... – Beijou a mão dela – Prometo!

G: Gosto assim! – Saiu do transe, já se agitando novamente em torno do encerramento forçado da noite do filho – Agora sem mais enrolação e já pra cama! E quero só ver o resultado do simulado de sábado depois de tanta malandragem nestes últimos tempos!

P: E como é que você soube desse simulado? – Mais uma vez, revirou os olhos e se jogou na cama.

G: Só você mesmo achou que eu não acompanharia a sua agenda, meu amor! – Abaixou-se e beijou a testa dele, deixando uma piscadinha antes de se encaminhar até a porta e mandar o beijo no ar de encerramento – Boa noite!

Fechou a porta e respirou fundo, prosseguindo para o último cômodo da ronda noturna. E quando o cheirinho de neném invadiu seus pulmões, fechou os olhos revigorada, como se subitamente sua reserva de energia tivesse se multiplicado diversas vezes.

Cosmic Love S03Onde histórias criam vida. Descubra agora