Latência, III

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No final da tarde do dia seguinte, Giovanna andava de um lado para o outro na sala do flat de Tainá, enquanto ela conversava com o psiquiatra no quarto.

O arranjo com o médico tinha saído tão perfeito que ele fez questão de atender Tai fora do consultório mesmo, pois estaria em um compromisso ali por perto, e ambos já tinham estabelecido um relacionamento tão próximo que acabava sendo um caminho natural esse tipo de privilégio.

Depois de mais de uma hora tentando se concentrar nos compromissos no celular, folhear revistas aleatoriamente e até mesmo organizar o armário da cozinha de Tainá, Giovanna andava ansiosa pela sala quando finalmente a porta se abriu.

T: Demoramos? – Tai saiu de lá com um sorriso e caminhou até Gio, que a acolheu carinhosamente.

G: Não mais do que o esperado. – Beijou a testa dela e desviou o olhar para o médico – Tudo bem?

M: Tudo ótimo. Já estamos em dia com os nossos assuntos, não é, Tai?

T: Super em dia. Já aluguei o suficiente o Dr. Marcos. – Pronunciou com leveza e aconchegou-se mais ainda no abraço lateral com Giovanna, atraindo a atenção do médico, que sorriu.

M: Pra isso estou. Agora eu te espero lá no consultório semana que vem, e quero que você vá atrás dos especialistas que eu te recomendei. – Falou com autoridade.

T: Pode deixar. – Suspirou.

G: Que especialistas? – Tainá não precisou procurar o olhar de Gio pra sentir o tom preocupado, mas o médico tomou a frente.

M: Nada demais, Gio. Eu só fiz uma lista de todos os médicos que a Tainá precisa visitar, porque ao que me consta tem quase um ano que ela não faz muitos acompanhamentos de rotina, não é mesmo? Tá na hora de voltar a pensar no bem-estar de um modo mais global.

G: Olha só... – Afastou Tainá do abraço e fez questão de encarar os olhos amendoados, que reviraram sem nenhuma inibição – Não tinha pensado nisso ainda, mas é muito verdade.

T: Olha quem fala, né? Não me faça começar com a Senhora, Dona Giovanna, senão eu faço o Dr. Marcos te laçar e amarrar naquela cadeira também. – Ameaçou divertida.

G: Engraçadinha.

T: Ih, minha mãe me ligando! – Tirou o celular do bolso e já foi se afastando – Só um instantinho.

M: Ela brinca, mas você sabe que, se precisar, pode contar que as portas do meu consultório estarão sempre abertas, né? – Encarou a morena.

G: Eu sei, Marcos. – Sorriu constrangida – Estamos ainda nessa readaptação meio sem jeito em alguns aspectos, mas as coisas vão caminhando bem.

M: Eu percebo que sim. E a única coisa que eu posso te dizer, e muito mais como amigo do que como médico, é algo que acho que você até faz ideia, mas não na extensão correta... – Giovanna seguia ouvindo atentamente – A Tainá melhora a galopes quando ela tá perto de você. – A morena abaixou o olhar, com um sorriso discreto e quase orgulhoso no rosto – Mas a sua proximidade é ambivalente. Ao mesmo tempo que tem esse poder imenso de fazer ela melhorar, pode desestabilizar ela bastante também a depender das circunstâncias, e de como vocês optam por conduzir as coisas.

G: Como assim? – Franziu o cenho.

M: Eu tenho certeza que você, no fundo, sabe "como assim"... – Sorriu, aproximou-se da morena e cumprimentou-a com um abraço – Foi bom te rever.

G: Ai, ai, ai... Vocês nunca dão resposta de nada, não é? – Intimidou-o com o olhar, mas só recebeu um sorriso debochado de volta – Adianta muito pouco essa amizade aí que você falou.

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