"Je t'aime pour toujours"?

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— É hoje... — Eu disse para mim mesma me olhando no espelho enquanto ajeitava meu cabelo.

Marye entrou e colocou meu vestido de festa sobre minha cama, era um lindo vestido rosa bebê com detalhes pretos...

— Sebastian mandou avisar-lhe que hoje a senhorita tem o dia livre para fazer o que quiser, mas que às 20:00 a senhorita já deve estar pronta para o baile de seu noivo.

— Tudo bem. Obrigada Marye...

Marye sorriu e saiu do quarto, deixando-me sozinha. Eu me sentei na poltrona de frente para minha escrivaninha e fiquei pensando no dia anterior. Eu passara a tarde inteira dançando com Sebastian, acho que agora já sei o suficiente para não passar vergonha no baile... Onde já se viu uma dama — noiva de um conde — não saber dançar?!

Eu ri de mim mesma, logo abrindo a gaveta da escrivaninha e procurando por meu diário. Eu o deixei jogado na gaveta há uns dias atrás quando Sebastian praticamente me arrastou para fora do quarto dizendo que eu precisava de ar fresco.

Eu continuei a revirar a gaveta até que achei um pequeno envelope escondido no meio de algumas pastas, puxei-o para fora da gaveta e o virei, procurando por alguma informação. Nada. Não tinha nada escrito em nenhum lugar daquele pequeno envelope... Eu o abri, encontrando uma foto minha no jardim da mansão. Mas eu não estava sozinha. Havia um garoto, um pouco mais alto que eu. Ele tinha os cabelos de um tom acinzentado — quase azul — e abraçava-me pela cintura.

De repente, foi como se eu pudesse sentir os braços delicados daquele garoto em volta de mim, o cheiro doce do seu perfume...

Joguei a foto na escrivaninha, afastando-me dela um pouco assustada. Eu sentia que conhecia aquele garoto... Mas realmente não conseguia me lembrar dele...

Peguei a foto novamente e senti um leve relevo na parte de trás, assim que virei a foto, pude ler uma simples frase: “Je t’aime pour toujours”. Se meu francês não estivesse errado, aquilo significava algo como “Te amarei eternamente”. Quer dizer que... Eu era alguma coisa daquele garoto?!

Já estava mais do que confusa quando escutei risadas no quarto ao lado, era o quarto do Tanaka-san, o empregado mais velho de toda a mansão. Eu sorri; era raro ver ele se divertindo, ou apreciando algo que não fosse seu chá verde.

Lentamente, eu me levantei da cadeira e caminhei para fora do quarto. Passei pelo quarto de Tanaka e pelo quarto de Marye antes de chegar as escadas. Eu fui descendo devagar, observando enquanto os empregados arrumavam as coisas como de costume. Eu procurava por Sebastian, queria que ele me contasse quem era aquele garoto. Sebastian sabia de tudo sobre meu passado, tudo mesmo. Por isso eu era tão dependente dele. Agora mais ainda, já que não estava mais conseguindo me lembrar de algumas coisas...

Como se tivesse lido meus pensamentos — o que não duvido que tenha sido o caso — Sebastian apareceu na minha frente enquanto passava de uma sala para outra. Ele parou e sorriu para mim, que estava totalmente petrificada. “Porque?!” Perguntei à mim mesma enquanto encarava a espécie de macacão aberto na frente que deixava todo o abdômen perfeito e maravilhoso de Sebastian a mostra. Simplesmente porque ele não estava vestido como meu mordomo?!

Eu voltei a mim depois de alguns segundos e me recompus, logo pigarreando e prosseguindo:

— Por que você está vestido desta forma tão vulgar?

— Só estava ajudando Finny com o jardim. Depois Bardo quase incendiou a cozinha novamente e eu tive que ir ajudá-lo, então ainda não pude me trocar. — ele explicou calmamente, como se andar daquela forma na mansão não fosse errado.

— Agora que já acabou de ajudá-los, você poderia por favor se vestir adequadamente? Não é educado um homem andar desta forma em uma casa onde uma dama como eu vive. — resmunguei, virando o rosto e evitando olhar para ele. — Depois que já tiver se trocado, venha até o jardim. Tem algo que desejo lhe perguntar...

— Sim my lady... Agora se a senhorita me dá licença, estou indo cumprir sua ordem.

— N-não é uma... — antes que pudesse terminar ele já tinha saído. —... ordem. — eu terminei, suspirando. — Só estava lhe pedindo um favor.

Eu caminhei até o jardim, logo identifiquei o local onde aquela foto havia sido tirada. Era um lugar entre as roseiras e a fonte onde sempre havia uma sombra fresca ao cair da tarde. O lugar onde eu inúmeras vezes me escondi quando queria ficar sozinha ou quando estava aborrecida com algo... Será que isso tudo tinha alguma ligação?

Caminhei até lá e me sentei na borda da fonte, brincando de desenhar formas na água com meu dedo indicador.

— Porque isso está acontecendo comigo? – perguntei à mim mesma, suspirando logo em seguida.

— Coisas terríveis acontecem a pessoas boas como a senhorita. — a voz de Sebastian surgiu do meio das roseiras.

Ele veio até mim com uma rosa vermelha em suas mãos. Ele se aproximou e a colocou no meu cabelo, sorrindo com o resultado.

— Agora me diga, o que a aflige tanto?

— Bem, eu encontrei uma foto na minha escrivaninha hoje cedo... — eu olhei para ele, antes de continuar — E... Nessa foto, eu estava junto com um garoto. Eu desejo saber quem ele é.

Sebastian ficou mais pálido do que ele já era e seus olhos se arregalaram levemente. Isso aconteceu apenas por alguns segundos, mas foi tempo o suficiente para me deixar intrigada. Ele olhou para mim sorrindo e disse:

— Deve ser apenas um antigo amigo seu... Nada com que deva se preocupar.

— Mas... — eu pensei um pouco antes de continuar. Resolvi que era melhor não comentar sobre o que estava escrito nas costas da foto. — Tudo bem. Você deve estar certo...

— Viu? Era só isso senhorita? — Ele perguntou, parecendo saber que eu ainda não tinha minha pergunta totalmente respondida.

— E-era sim... Bem, acho melhor eu ir comer alguma coisa. Daqui a pouco já tenho que começar a me arrumar para o baile de Kyro... — eu disse, nem um pouco entusiasmada.

— Vou preparar algo para a senhorita. Pode aguardar no seu quarto se quiser...

— Não. Estarei na biblioteca. — Eu avisei, logo me levantando e começando a andar. Estava a alguns passos de distância quando olhei para Sebastian por sobre o ombro e continuei. — Ah, e nada de chá desta vez ouviu bem? Não é porque bebi ontem que passarei a beber sempre como meu primo Alois.

Eu pude escutar a risada de Sebastian, seguida por um “Claro my lady, como preferir” antes de entrar na mansão novamente. Dirigi-me a biblioteca e fiquei lá sentada lendo alguns livros que havia abandonado na prateleira empoeirada e maltratada daquele lugar.

Devorar-te-ei: memórias póstumas de um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora