Separação

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-A que devo a infelicidade da vossa visita? - o homem de cabelos platinados passou para trás do balcão sem sequer olhar para mim.

-Agradável como sempre... - sorri sarcasticamente, logo encarando as costas do homem à minha frente. - Vou direto ao assunto, sabe de algo estranho sobre o submundo ultimamente?

- Quando o submundo for normal, aí sim teremos que nos preocupar... - ele me olhou por um instante e logo voltou a mexer em seus papéis

-Você sabe bem do que eu estou falando... - disse enquanto caminhava imperiosamente até o balcão, sendo seguida de perto por Sebastian.

-Sim, sabemos do que eu sei... - Ele apoiou-se sobre o balcão à sua frente, encarando-me de perto. - Mas a questão aqui é o que você sabe.

Eu o encarei impaciente enquanto batucava a madeira velha do balcão com as unhas. Encarava os dentes afiados do coveiro que agora estava tão próximo enquanto pensava em como fazê-lo falar...
Num piscar de olhos ele se moveu em minha direção. Sebastian sacrificou seu braço, colocando-o em minha frente no momento em que os dentes do coveiro estavam prestes a alcançar meu rosto. Olhei espantada para o braço ensanguentado do meu mordomo, que ainda sentia as presas afiadas em sua carne.

Undertaker sorriu e afrouxou a mordida, permitindo que Sebastian arrancasse seu braço do meio de suas presas -não que ele não fosse acabar fazendo isso, à força ou não. Ele recuou um pouco e sorriu pra mim, o sangue negro do meu demônio escorrendo de seus lábios...

-Não vejo sentido em ajudar a dona do corpo no qual tanto quero pôr as mãos. -ele sibilou sarcasticamente. Logo olhou para Sebastian, que o estripava com os olhos, e voltou a me encarar - E eu e seu cachorrinho de estimação aí não somos os únicos que cobiçamos sua alma valiosa, acho que é inteligente o suficiente para descobrir quem a quer tanto a ponto de recorrer aos nossos "amiguinhos"...

Após dizer isso Undertaker piscou para mim e se virou, sumindo sob as cortinas negras detrás do balcão, era a nossa deixa. Deixei a funerária e continuei caminhando em silêncio pela calçada, Sebastian me seguia tão silencioso quanto um morto, podia sentir que sua mente não estava em mim naquele momento, não diretamente, mas sim nas palavras daquele homem. Depois de alguns anos de convivência, aprendi a ler meu demônio tão bem quanto uma criança de 6 anos lê um clássico de Shakespeare: apesar de não compreender totalmente, conseguia absorver uma coisa ou duas.

-My lady pensa demais em coisas desnecessárias... - Sebastian sussurrou, a voz baixa o suficiente para que eu o ouvisse apesar dos barulhos do dia-a-dia que nos rodeava. -Deveria estar pensando em como não ser devorada, mas ao invés disso está pensando no que se passa em minha cabeça... Devo me sentir honrado?

Parei e olhei-o por sobre o ombro, Sebastian tinha um sorriso sarcasticamente sedutor nos lábios e um olhar incendiante fixo no meu. Apenas sorri e retruquei, antes de continuar caminhando:

-Ao invés de se meter em minha cabeça, creio que seria mais prudente para um mordomo como você pensar no meu jantar... - o encarei enquanto aguardava uma chance de atravessar a rua, logo prossegui. - Ou em como impedir que roubem a "refeição" que tanto deseja.

Meu demônio parou ao meu lado e sorriu, um sorriso que expressava bem nosso segredo, o sorriso de um predador satisfeito em ouvir que ainda tinha controle sobre sua presa... Atravessamos a rua e ao virar a esquina fomos surpreendidos por um shinigami. Um shinigami ruivo bem familiar, para ser mais específica.

-Sebas-chan! -Grell pulou no pescoço do meu mordomo tão logo o avistou, sendo interceptado e conseguindo no máximo beijar a palma da mão de Sebastian por sobre a luva. - Eu estava pensando em te fazer uma visitinha assim que acabasse com meu relatório sobre o novo inccubus... Will-chan está pegando no meu pé ultimamente e...

Devorar-te-ei: memórias póstumas de um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora