Boatos

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- ... E é por isso que eu vim sozinha. - suspirei ao terminar de responder a primeira pergunta que Alois me fizera tão logo entrei em sua mansão.

Meu primo me encarava sério, em silêncio desde que eu comecei a contar, por alto, o que havia acontecido entre eu e Sebastian. Não era segredo que ele nunca foi um dos maiores fãs do meu mordomo, deixando claro, sempre que podia, que acreditava que eu estaria melhor sem o demônio. Eu sempre achei que era um pouco de hipocrisia de sua parte, quando ele próprio era tão dependente de Claude, que ocupava para os Trancy o mesmo lugar que era de Sebastian para os Kyotsu.

- Eu sabia que esse dia chegaria. - ele disse por fim, fazendo um sinal para que Claude se aproximasse - Não vou mentir, estou satisfeito que não demorou tanto quanto eu esperava pra chegar, mas me dói ver você assim.

- Assim... Como? - Ergui uma sobrancelha, confusa

- Não vai conseguir me enganar, Luna. Você cruzou as portas da minha casa parecendo uma criança acuada... Sabemos exatamente o quê Sebastian era pra você.

- Ele era um ótimo mordomo. Um ótimo servo. - eu respondi com firmeza, tentando disfarçar qualquer tremor que falar de Sebastian ainda causava em minha voz - Apenas isso.

Alois me encarou com uma sobrancelha erguida, duvidando de minhas palavras sem nem mesmo disfarçar. 

- Claude, prepare um chá para nós. - ele ordenou ao mordomo que havia parado ao seu lado. - Alguma preferência? - ele se voltou para mim, ao que eu respondi com uma negativa - Então faça aquele de frutas vermelhas que me fez ontem a noite. Foi uma ótima aquisição.

- Sim, meu lorde. - Claude fez uma reverência impecável, ajeitando os óculos em seu rosto antes de se afastar de nós com passos lentos.

Inconscientemente, eu esfreguei meu braço direito com minha mão esquerda, sentindo um vazio incômodo ao meu lado. Sebastian sempre ocupava aquele lugar e eu havia me acostumado com sua presença marcante. Apesar da minha indignação com sua partida, eu me sentia realmente acuada por estar novamente sozinha no mundo.

Claro, eu tinha os outros servos e Alois, mas não eram a mesma coisa. Eu não confiaria minha vida a eles tão facilmente como com Sebastian. Não. Eu jamais poderia ocupar o lugar que o demônio deixou vazio com sua ida.

E não se tratava apenas de seu cargo na mansão.

- Não se preocupe, Luna. Sabe que as portas da mansão Trancy estão sempre abertas para você, para o que precisar. 

- Eu sei, Alois. Obrigada por isso. - eu forcei um sorriso de canto.

- Já avisou a rainha?

- Sobre?

- Não acho que seja prudente você continuar com um trabalho tão perigoso sozinha. Antes, seu demônio sempre estava lá para te proteger, mas... Agora... - Ele passou a mão em seus fios dourados, me olhando com preocupação.

- Eu dou conta, Alois. - retruquei magoada - Não sou tão inútil assim. Além do mais, ainda posso contar com Mayrie, com o Finnian... Até mesmo Bardo tem lá suas utilidades.

- Eles podem ser bons em defender a casa, mas não contaria tanto com eles contra um SM mais poderoso. Nem mesmo Sebastian conseguiu chegar na hora certa sempre, ou você não teria se ferido.

Eu abaixei a cabeça, sem ter como respondê-lo. Eu sentia raiva por ter me permitido chegar a tal ponto. Confiar tanto em Sebastian e em nosso contrato que jamais pensei em como seria quando não estivéssemos mais juntos por algum motivo. Mas, claro, isso nunca foi uma possibilidade.

Devorar-te-ei: memórias póstumas de um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora