Dois pra lá e dois pra cá...

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- Bom dia my lady... - disse Sebastian, abrindo as cortinas e fazendo com que a luz do sol invadisse meu quarto e batesse diretamente em meus olhos.

Acabei dormindo bem mais do que deveria ontem, não que eu estivesse cansada, não. Fisicamente eu ainda aguentaria um longo dia das mais exaustivas tarefas sociais, mas mentalmente... talvez eu explodisse só de pensar se prefiria torta ou pavê para o lanche da tarde. Eu resmunguei, logo me enfiando embaixo da minha coberta e tentando voltar a dormir.

- Já está na hora my lady...

Sebastian habilmente me tirou de meu esconderijo e, antes que eu pudesse me dar conta, ele já estava me despindo. Algo que era normal um mordomo fazer com seu mestre, mas eu não me acostumava com a ideia dele me ver completamente nua... 
Primeiro que o correto era eu ter uma mulher me ajudando com isso e, segundo, eu já estava bem grandinha para este tratamento. Eu simplesmente entrar em chamas de tão corada por senti-lo tocar e ver minha pele alva não tinha nada a ver com isso, claro.

Me afastei dele, puxando o lençol para esconder o que restara de minhas roupas. Ele sorriu e se afastou um pouco, virando-se de costas para mim e dizendo:

- Como quiser, my lady.

- Você tem mesmo que ficar aqui?! - perguntei séria, enquanto ia me descobrindo lentamente.

- Não posso deixá-la sozinha. É muito perigoso...

- E se eu tiver que ir ao banheiro? Você vai me seguir também?

Eu já estava começando a ficar irritada com ele. Respirei fundo e tirei minha camisola, ficando só com a minha roupa de baixo e pegando um vestido simples logo em seguida. Já o tinha passado por minha cabeça e por um de meus braços quando olhei para Sebastian; ele estava virado para mim, armado com seu sorriso recheado de intenções suspeitas. Esse era o único sorriso que conseguia fazer minhas pernas ficarem moles ... Que me deixava sem fala... Tirava todo meu ar...

- É bem provável que sim, my lady. - ele disse, em resposta a minha pergunta anterior.

- Sebastian! - gritei, nervosa e com o rosto vermelho. - Não ordenei que se virasse ainda, seu demônio pervertido!

Peguei a primeira coisa que vi e joguei em sua direção. Tudo que pude fazer foi observar enquanto um sapato o atingia bem na testa. Ele ficou sério e eu logo pude ver o sangue escorrendo por seu rosto.

- Eu acho que a senhorita quer um pouco de privacidade, certo? Quando estiver pronta, eu estarei lá fora lhe esperando para suas tarefas. - ele disse, saindo do quarto em seguida.

Senti uma grande vontade de correr até ele para ver se estava tudo bem... Mas eu só suspirei e terminei de me vestir. Estava me penteando quando olhei para a janela e vi uma mulher sentada no galho de uma árvore próxima de onde Finny estava. Eu fiquei observando-a durante algum tempo, até que me distrai com os passos de Marye vindo detrás de mim. Quando olhei novamente para a árvore, a mulher já havia sumido.

Soltei um longo suspiro e virei-me novamente para Marye, que estava dobrando minha roupa de dormir e colocando-a no pequeno cesto que iria direto para lavanderia.

- Sebastian está esperando a senhorita na sala de chá. A mesa já está arrumada e... - Marye começou, mas eu nem prestava muita atenção.

- Marye, - Interrompi - Eu sou bonita?

- É claro que sim, my lady. - Ela respondeu sorrindo - Mas por que a pergunta, senhorita? Aconteceu algo?

- Não é só que... - eu sorri - Deixe para lá. Nem eu sei porque perguntei algo assim.

Eu sorri para Marye e logo fui caminhando até a sala de chá. Sentei-me na cadeira e peguei uma das torradas que Sebastian ofereceu. Olhei para a testa dele, agora limpa, e suspirei.

- Me desculpe... - eu disse, com a cabeça baixa

- Uh? - ele virou-se rapidamente para mim, logo voltando a olhar para xícara que estava enchendo de chá. - Do que a senhorita está falando?

- Eu te machuquei mais cedo... Me desculpe por isso...

Ele riu, logo vindo até mim e me entregando a xícara de chá.

- Não se preocupe. Esqueceu que sou um demônio? Aquilo não deu nem para arranhar...

Fiquei encarando-o em silêncio por alguns segundos, até que ele prosseguiu:

- Agora pare de se preocupar e beba seu chá.

- Own... Não quero chá... - resmunguei, afastando a xícara de mim.

- Uma dama deve beber seu chá educadamente. Sem questionar seu mordomo - ele disse com um ar de sábio.

Depois de muito reclamar, acabei bebendo o chá. E até que não estava tão ruim assim. Parecia uma mistura de chocolate quente com creme...

Assim que terminei meu café-da-manhã eu me levantei, acompanhando Sebastian que tinha acabado de me chamar até uma outra sala.

- Hoje vou lhe ensinar uma coisa... - ele sorriu, se aproximando cada vez mais de mim.

- O que? - eu perguntei, com as bochechas vermelhas, recordando-me da última vez que escutara aquilo.

- Por que my lady está vermelha? - ele parecia confuso - É só uma aula de dança...

- A-aula de Dança?! - eu fiquei aliviada. Por um segundo pensei que iria acontecer outra coisa... Pensei que ele ia me obrigar a aprender técnicas de defesa como da última vez. E da última vez, eu quase fiquei nua devido a minha falta de coordenação motora.

- Prometo que não vai ser como a aula de defesa pessoal. - ele garantiu, estendendo a mão para mim.

- Já pedi para você não ficar revirando minha cabeça... - resmunguei, pegando na mão dele .

- É que você é tão transparente...- ele riu, logo ajeitando minha postura. - Agora fique quieta e concentre-se aqui. Preste atenção na música. É "tan tan - tan tan" e não " tan - tan tan - tan" .

Eu tentei me concentrar mais. Da janela atrás de nós entrava um raio de sol, o suficiente para iluminar a sala. Algo naquele momento me parecia familiar... De repente senti um cheiro diferente, sacudi a cabeça voltando a me concentrar. Não sei porque, mas algo me obrigava a abandonar estas lembranças e continuar prestando atenção em meu mordomo, que continuava a me conduzir gentilmente pela sala.

Devorar-te-ei: memórias póstumas de um amorOnde histórias criam vida. Descubra agora