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"Porque está muito frio para você aqui e agora
Então me deixe segurar suas duas mãos nos bolsos do meu suéter
E se eu pudesse somente tirar o seu fôlego
Eu não ligo se não tem muito o que dizer."
SWEATER WEATHER — THE NEIGHBOURHOOD

Flynn empurrou o chão com os pés mais uma vez. Estava no balanço da parte de trás da casa, uma área reclusa e que não tinha visitado até então. A floresta continuava alguns metros a sua frente, e o frio perfurava seus ossos incansavelmente. Ele não iria sair dali tão cedo, porém. Tinha vestido camadas suficientes de roupa para não passar mal e congelar até a morte.

Era uma manhã estranha, aquela. Não devia passar das sete horas, e o sol iluminava preguiçosamente o ambiente. A neve tomava conta de tudo. Ele tomou impulso mais uma vez, sentindo o vento gelado açoitar seu rosto. Era bom para pensar. Clareava sua mente de um jeito que nada mais conseguia, o motivo pelo qual ele amava tanto pilotar sua moto.

Flynn suspirou. Desde a noite anterior, não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a história que Madison contara. Jamais imaginaria que ela podia estar tão quebrada por dentro, quando tudo que exibia para as pessoas ao redor era alegria e ânimo.

Ele conhecera o antigo senhor Bradford. Ele era simpático, o que não costumava ser muito comum no círculo de convivência deles. Conversar com ele, mesmo que somente em eventos chatos que tinha que comparecer pelo nome de sua família, era muito mais interessante do que com o próprio pai, que não parecia se importar de verdade. Flynn não conseguia nem imaginar como deveria ter sido difícil para a família perdê-lo, principalmente para Madison.

Uma conversa foi o suficiente para perceber que o pai era a pessoa que ela mais amara na vida. Mais que isso, sua morte, que ela erroneamente atribuía a culpa a si mesma, tinha mudado todos os acontecimentos em diante. Ela tinha passado por meses muito difíceis, e ele nem imaginara que faltava as aulas porque estava se afundando em um buraco fundo demais.

Felizmente, ela conseguira escapar a tempo. E, ao contrário do que imaginava, Flynn não sentia pena dela. Ele a admirava agora, mais que nunca, por ter conseguido passar por cima da pior coisa que poderia ter acontecido e, mesmo em meio a quedas, ter realizado tudo que sempre quis. Ela tinha uma vida sólida na Filadélfia, uma amiga verdadeira, a carreira que sempre quisera e uma família que se importava.

E ela se importava com eles também, Flynn tinha certeza. Esperava que a conversa do dia anterior tivesse sido suficiente para que ela percebesse que não oferecia risco nenhum à mãe e ao irmão, assim como nunca oferecera ao pai. Não tinha sido sua culpa, e a pior coisa que poderia fazer com sua família era justamente se afastar.

Ele empurrou os pés de novo. Quando tinham se tornado tão próximos para dividir os piores medos e traumas? Quando Flynn deixara de vê-la somente como uma conhecida distante e falso interesse romântico para enxergar uma amiga nela? Mais que isso, alguém que confiava e gostava tanto?

Porque ele gostava dela. De muitas formas, algumas que ainda não estava pronto para admitir.

O vento bagunçava seus cabelos, que estavam bem mais longos do que quando saíra da Filadélfia. Tudo dentro de si estava uma desordem completa, um caos. Ele tinha embarcado naquela loucura toda para que sua ex namorada entendesse que ele não iria esperá-la para sempre. Agora, mal pensava em River, não achava a viagem não-planejada um saco e, o mais preocupante, não entendia o bolo de sentimentos confusos que habitavam seu peito.

Não saber o que vinha pela frente o assuatava, mas era muito mais alarmante não entender nem mesmo o que queria diante daquilo. Queria seguir com o plano e se afastar dela depois do Ano Novo? Mesmo que fosse o combinado, Flynn temia que não conseguiria fazer isso. Não quando já sabiam tanto um do outro, quando conversar com Madison se tornava uma das suas principais atividades do dia.

Luzes congelantes | CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora