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"A neve no chão
O amor no ar
Os sinos do trenó estão tocando
Isto é o que é tudo sobre (...)
Você faz todos os dias parecerem Natal
Nunca quero parar."
LIFE IT'S CHRISTMAS — JONAS BROTHERS

Não havia nada mais empolgante que uma tela em branco.

Um papel, no caso.

Madison olhou com ansiedade para a infinidade de cores à sua frente. Era verdade que sua paleta de aquarela só tinha 12 tons originais, mas mesclando-os ela poderia obter qualquer cor que desejasse.

Com o que poderia preencher a folha grossa que repousava na mesa diante de si? Eram tantas opções. Já tinha pintado flores o suficiente para uma vida inteira nas telas que levara, e objetos também estavam fora de cogitação, depois de ter passado quase duas horas tricotando. Esperava que as meias que estava fazendo para Flynn servissem, e que ele gostasse do desenho das renas. Ou talvez ela mudasse de ideia e fizesse novas, quem sabe?

Ela balançou a cabeça. Foco na aquarela. Não sobravam muitas alternativas além de pintar uma pessoa, mas quem? Pintar a si mesma parecia de um narcisismo extremo, e, bem... pintar Flynn gerava uma sensação estranha na boca do seu estômago, que ela não saberia explicar de jeito nenhum.

Não. Era melhor evitar.

Madison suspirou e se pôs a misturar tons. Encontrar o tom dourado do pelo de Bingley não foi difícil, e ela tratou de agilizar o rascunho com a lapiseira. Podia não ser sua técnica preferida, mas havia algo de pacificador na aquarela. Não tinha como sair de uma sem se sentir mais leve.

Ela sorriu para o andamento da pintura. Tinha ficado tão aliviada com a melhora gradual de Bingley! Já haviam se passado três dias da manifestação da alergia, e durante todos eles, ela administrou o medicamento do cachorro com exatidão. Bingley já estava bem melhor, andando pela casa normalmente e sem inchaço algum no focinho ou vômito espalhado pela casa.

Tanto ela quanto Flynn ficaram muito satisfeitos com a melhora dele. E Madison gostou de saber que havia quem se importasse com o bem-estar do ser que era tão importante para ela, mesmo que não fosse humano. No mesmo dia em que foram a clínica, fez uma enorme garrafa de café com coca-cola e colocou na porta de Flynn com um bilhete cheio de desenhos. Ela ouviu sua gargalhada pouco tempo depois e, na manhã seguinte, seu chocolate preferido já estava na bancada esperando por ela.

Era interessante ter uma rotina que envolvesse outra pessoa. Estava acostumada a sair da cama aos tropeços e insatisfeita com o despertador, tomar um banho rápido que era eficiente em despertá-la, comer qualquer coisa que estivesse em seu armário e sair, deixando Bingley cochilando na sala. Seu apartamento costumava ficar uma bagunça aconchegante até que ela chegasse a noite e colocasse tudo em seu devido lugar.

No chalé, porém, tudo era muito diferente. Sempre que acordava, Flynn já estava de pé há horas, o café a aguardava pronto, a cozinha permanecia impecavelmente limpa e todas as decorações da casa estavam meticulosamente no lugar. Madison tinha que admitir que dividir a casa com alguém tão organizado era maravilhoso. Ela nem mesmo precisava se esforçar para deixar tudo nos conformes.

Falando nele, Madison não fazia a mínima ideia de sua atual ocupação. Da última vez que o tinha visto, e isso há umas três horas, ele escrevia alguma coisa em um caderninho pequeno na varanda da sala.

Será que ele tinha um diário? Ou era só mais algum registro do trabalho? Ou, talvez, ele escrevesse poesias? Ou músicas?

— Deixa de ser intrometida, Madison — ela sussurrou para si mesma, se forçando a prestar atenção na aquarela.

Luzes congelantes | CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora