14

599 95 9
                                    




"Quando talvez eu devesse, mas nunca te disse que sinto muito
Sei que tentei, mas minhas palavras sempre atrapalharam
Você poderia me abraçar sem falar nada?
Poderíamos tentar voltar onde começamos."
STAY — GRACE ABRAMS

A primeira coisa que Flynn fez quando chegou ao seu apartamento foi se jogar na cama. Não sabia quanta falta tinha sentido dos seus travesseiros até que sua cabeça estivesse sobre eles. Ele dormiu a noite inteira, e acordou com os raios de sol iluminando seu rosto.

A viagem de volta tinha sido uma merda. Bingley ficara dormindo no banco de trás, então Flynn nem tinha com o que se distrair. Resolveu ler o livro que Madison lhe dera, mesmo que ver a letra caprichada dela no cartão lhe proporcionasse arrepios. A única reação dela diante da escolha de livro dele foi um franzir de cenho, e mais nada.

Indiferente. Ela não parecia se arrepender do que tinha suposto, do que tinha dito. Flynn não queria iniciar uma nova discussão, o que provavelmente aconteceria, considerando que nenhum dos dois daria o braço a torcer, então permaneceu em silêncio. Madison fez o mesmo, falando somente para perguntar o que ele queria comer ou perguntando se ele queria ir ao banheiro.

Ela tentou ligar o rádio uma vez, mas a primeira música foi Stay, da Gracie Abrams, e o carro logo entrou em mais longas horas de silêncio. Flynn pesquisou a letra no celular, só por curiosidade, porque já imaginava mais ou menos como ela seria.

Um tapa na cara teria doído menos. Gostaria de poder te dizer agora que me senti mais indiferente. Me pego pensando em você mais do que deveria. E talvez eu devesse, mas nunca te disse que sinto sua falta. Eu quase disse isso, mas não sei se você sente o mesmo. Aquela estação de rádio não estava colaborando em nada com eles.

Flynn amava Orgulho e Preconceito, mas sua concentração estava muito dispersa e ele lia páginas e páginas até perceber que não absorvera uma palavra sequer. Acabou adormecendo um tempo depois, e acordou em frente ao seu prédio, o cutucão apreensivo de Madison confirmando que tinha chegado.

No dia seguinte, já desperto e com uma caneca de café em frente a TV, ele suspirou. Não tinha a mínima vontade de ver qualquer coisa, então decidiu ler mais alguns capítulos do livro. Analisou o cartão dela com cuidado. Espero que você não se canse do melhor livro que já leu, porque essa é uma edição muito bonita para ficar parada na estante.

Não ficaria, porque ele não conseguia tirar os olhos daquele maldito bilhete. Que inferno. Ele precisava conversar com alguém sobre tudo, e só havia uma pessoa para quem contaria qualquer coisa.

Meia hora depois, Keith abriu a porta do apartamento com muita cerimônia. Ele deu um giro no corredor antes de se jogar no sofá e dar um longo gole no café do irmão.

— Você sai por aí bebendo na caneca dos outros? Que falta de higiene é essa? — Flynn resmungou, mesmo que o irmão fosse um caso perdido.

Keith deu de ombros.

— Esse café tá com um cheiro muito bom. Você não teria preparado mais um pouco, teria?

Flynn revirou os olhos, mas se levantou e buscou uma caneca cheia para ele. Levou alguns biscoitos também, que foram devorados em segundos. Às vezes, Flynn se perguntava se Keith comprava comida em casa. Ele estava sempre esfomeado.

Depois de terminar de comer, Keith respirou fundo e colocou as mãos atrás da cabeça.

— Agora me conta o que está te atormentando, irmãozinho. Imaginei que você ia voltar radiante da viagem, que parecia estar te fazendo muito bem, mas me deparei com a maior cara de merda quando entrei aqui.

Luzes congelantes | CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora