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"Estou cansado do conflito, seu pavio curto
Eu gostaria que tivéssemos uma pista para começar de novo, uma lua branca, sem resíduo
A cor do nosso humor é tão rude, um junho frio, não estamos imunes."
BABYLON — 5 SECONDS OF SUMMER

— Você vai acabar furando um buraco no chão — Beverly protestou, observando a amiga andar em círculos pelo seu apartamento. — Está me deixando tonta, Mads.

Madison parou, o pânico visível em seu olhar. Já tinha ficado tão nervosa pelos acontecimentos de pouco mais de uma hora atrás que quase todos os seus cigarros tinham sido consumidos, e ela não se orgulhava nem um pouco disso. Era uma sorte que Beverly detestasse tanto o hábito que fumar em seu apartamento estava fora de cogitação.

Ela ainda não conseguia acreditar que tinha dito aquilo! E, menos ainda, que Flynn não a tivesse desmentido. Será que ele sentia tanta pena dela assim?

Madison pensara em perguntar, assim que sua família saiu e os deixou a sós, mas Flynn parecia tão aturtido quanto ela. Ele somente soltara uma despedida rápida e confusa antes de sair pela porta, não sem praguejar tanto que Madison se admirou com a vastidão do vocabulário sujo dele.

Ela queria se bater. Passar duas semanas com Flynn em qualquer lugar que fosse seria um pesadelo. Seu humor era ácido demais e a ausência de sorrisos e simpatia nele eram gritantes quanto comparados à afabilidade dela.

E Madison só conseguia pensar que Flynn devia estar a odiando nesse momento. Tudo bem que ele dissera mais cedo que não tinha nenhum plano "durante essas preciosas duas semanas que ficaria fazendo nada". Mas quaisquer que fossem suas atividades de improviso, com certeza não incluiam uma viagem às montanhas congeladas de Vermont com ela.

— Eu sou tão idiota — Madison disse, passando as mãos no cabelo com mais força que o necessário. — Por que eu não fiquei calada? Não deixei que ele, não sei, inventasse uma doença qualquer?

— Credo, Madison!

— Tô falando sério! Seria melhor que isso. Puta que pariu. Eu entrei em pânico na hora, Bev. Olhava para Flynn e para minha mãe e Emma e Mathew e não encontrava nenhuma saída além de concordar... Eu não sei mentir sob pressão, você sabe.

— Nem fora dela — Beverly provocou, o gritinho sufocado pela almofada que Madison jogou.

Bingley levantou o rosto para olhar a situação e, como se nada acontecesse, voltou a dormir. Madison tinha inveja da sua tranquilidade.

O celular de Madison apitou.

— Deve ser o Cortland! Tomara que ele tenha comprado uma passagem pra fora do país.

— Você não quer isso de verdade.

— Não duvide!

Madison desbloqueeou o aparelho e percebeu com um desespero crescente que era uma mensagem da sua mãe. Ela tinha enviado uma foto de dois suéteres vermelhos com Bs bordados e a legenda: amanhã deixo suéteres combinando pra vocês levarem!

Madison soltou um gemido de pura lamentação, entregando o telefone para que Beverly lesse. Ela riu, bloqueando o aparelho logo depois.

— Não tem como fugir.

Madison sabia que sua mãe não fazia por mal. Depois da morte do pai há nove anos — evento no qual ela evitava pensar —, Danna tinha ficado muito mais apegada à vida dos filhos que antes, provavelmente porque se sentia sozinha demais sem o companheiro de longa data.

E, do jeito que tudo tinha acontecido, Madison se sentia ainda mais sufocada, culpada em dobro — pela morte e por não conseguir dar a atenção que a mãe merecia.

Luzes congelantes | CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora