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"Me diga como somos tão diferentes
E nos damos tão bem
E nem sabemos o porquê."
WHY — SABRINA CARPENTER

Haviam muitas coisas que Flynn julgava que nunca aconteceriam. A descoberta da origem do universo, a reconciliação definitiva dos seus pais, a criação de uma sitcom melhor que The Office e, mais recentemente, um despertar adiantado de Madison.

O impossível tinha acontecido, porém. Naquele domingo, sua querida colega de chalé não só acordara antes das sete horas como tentava fazer o mesmo com ele. E com sucesso.

Tudo bem que era de seu costume se levantar naquele horário e somente a leitura até a madrugada de sua série preferida de fantasia mantivera seu sono até aquele horário. Mas acordar ao som de Shake it off não era exatamente a definição de um início bom de dia.

E nem era porque ele não era o maior fã da música; mas não dava para negar que ela era animada demais para quem mal tinha recobrado a consciência.

Devia ser uma vingança. Só podia ser. Mas sair de Here comes the sun para aquela música pop barulhenta era uma crueldade sem precedentes. Flynn resmungou consigo mesmo durante todo o tempo que se arrumou para sair do quarto.

Madison estava na sala, a pequena caixa de som que pintara com ramos delicados de flores repousando ao lado da TV. Ela segurava agulhas e linhas grossas na mão da arte que ele julgava ser tricô. Ela exibia um sorriso satisfeito no rosto de quem se propõe a fazer algo maligno e é bem sucedido.

— Acordou animada, não é, Bradford? — Flynn comentou, torcendo para que o tom soasse tão seco quanto fizera em sua cabeça. — Pena que outros foram cruelmente arrancados de suas camas. Sem piedade e misericórdia.

— É tão triste quando isso acontece, não é? — ela devolveu, parecendo muito contente com seu plano. — Me surpreendeu que você não tivesse acordado ainda.

— Não que tenha sido uma escolha.

Ela riu.

— Tudo bem, me desculpe. Sou impulsiva demais, mas acordar alguém antes das sete é maldade demais até para mim. — Ela pousou as agulhas e o novelo de linha no colo. — Provando que quero me redimir, tenho que dizer que você toca muito bem. Nunca imaginaria.

Flynn duvidava muito que ela estivesse arrependida, mas resolveu deixar passar. Se jogou no sofá em frente a TV, que estava desligada, assim como a caixinha de música. Ao menos essa piedade ela tivera.

— Que eu seria bom também em música? Eu sei, é inacreditável o número de talentos que posso acumular — ele sorriu, já completamente desperto. Ao menos ela garantira que ele não se deixasse levar pelo sono e perdesse metade da manhã. — Eu toco de vez em quando. Achei esse violão no escritório e ele parecia implorar para ser tocado.

— Na verdade, não sei o que ele estava fazendo aqui — Madison riu. — Ninguém da minha família toca instrumento algum. Ou canta, para a felicidade dos ouvidos alheios.

Flynn franziu o cenho. Será que ela achava que as paredes finas daquele chalé impediam que sua cantoria durante o banho chegasse aos ouvidos dele?

— Você canta, Bradford. Como um rouxinol.

Ela riu, sem graça.

— Pobres rouxinóis. O status deles vem caindo durante o tempo, então.

— É sério. Você tem uma voz bonita.

Flynn se amaldiçoou assim que as palavras escaparam da sua boca. Droga. Ele supostamente sabia pensar antes de falar. Passar o dia enchendo-a com gracinhas e ironias era bem diferente de direcionar elogios sinceros. Ele sentia como se estivesse no ensino médio novamente, mas pior, porque tinha plena consciência da proximidade em que estavam. E da vermelhidão nas bochechas de Madison, que deveriam estar iguais às suas.

Luzes congelantes | CONCLUÍDAOnde histórias criam vida. Descubra agora