Belight - Zabdiel de Jesús

8.

Um mês. Era o tempo que havia se passado desde o fatídico almoço em família na casa das meninas. No dia seguinte, as aulas de Sophie começaram, dois dias depois, seu estágio se iniciou. Naturalmente ela passou a ter menos tempo, mas os amigos sempre davam um jeito de se ver, e era comum jantarem juntos apenas para aproveitar a presença uns dos outros. Zabdiel sabia fingir que estava tudo bem, e por isso ele agia naturalmente, mesmo quando sua cabeça vivenciava um loop eterno da conversa que teve com Victoria após deixar o apartamento.

flashback

— O que você quer? - Zabdiel falou baixo, dando passagem para a garota. 

— Eu vou ser breve. - ela começou entrando e sentando em um dos bancos que haviam na sala. - Aparentemente ninguém tem coragem de te falar isso mas realmente eu preciso. Para o seu bem até. Eu não quero que você me odeie por isso. Eu não te odeio apesar de você ter magoado uma das pessoas que eu mais amo no mundo.

O loiro apenas assentiu pedindo pela continuação.

— O fato de você ter um passado conturbado não te dá o direito de fazer o que você acabou de fazer. Se você não tá pronto pra estar com ninguém, não beije ninguém! E já que beijou, pelo menos arque com as consequências. Se você não queria mais nada, falasse com ela, ficar fugindo não.. Você está chorando?

Zabdiel não disse nada, apenas continuou de cabeça baixa deixando se levar pela emoção. Ele era um idiota. Sophie não era a primeira pessoa com quem ele se envolvia sem ser por conta de festas e bebida. Ele já fugiu por medo de sentimentos, e dessa vez quis cortar mal pela raiz. Antes mesmo de ela começar a nascer. 

— Vem aqui. - Victoria falou baixando a guarda e abraçando o garoto. - Isso é golpe baixo, tá? Eu vim aqui pra ficar irritada e agora estou com dó!

— Não precisa sentir dó - ele riu fraco. - Eu fui mesmo um babaca. E por um motivo estúpido. Não sei nem com que cara eu vou olhar pra ela.

— Com a mesma de sempre, foi essa cara de quem não presta que ela sentiu vontade de beijar. - ela tentou descontrair. - Mas dá um tempo, ok? Pra ela e pra você também! A Sophie também enfrenta muitas batalhas e essa mulher dona de si que você vê hoje já passou por muita coisa. É um processo, Zab. Você consegue. Tenho certeza que depois de uma conversa vocês vão conseguir deixar isso de lado e voltar a ser amigos.

fim de flashback.

Um mês se passou e a conversa nunca ocorreu. O assunto morreu completamente depois daquele dia.

Sophie convivia normalmente com todos os meninos. Todos, até com ele.

Isso o deixava puto.

Essa indiferença o fazia sentir vontade de se jogar na frente do primeiro carro que aparecesse. Seria melhor se ela fingisse que não o conhecia. O xingasse nas redes sociais. Batesse nele, qualquer coisa. Ao menos mostraria que ela se importava.

Mas não. 

Era claro que ela não conseguia ter a mesma relação com ele depois de tudo, mas era como se tudo que aconteceu, na verdade, tivesse acontecido apenas na imaginação do loiro. Ela o tratava com educação, como se fossem conhecidos e nunca tivessem tido problemas.

—...E depois disso eu dei um tiro na cabeça dele e comi seus olhos. - Zabdiel acordou do transe com a fala de Erick e o olhou com uma careta confusa.

— Você não estava prestando atenção, fazer isso é mais legal que "terra chamando Zabdiel e bla bla bla" . Inclusive o que foi hein? Você tá meio distante desde que chegou. - Os dois estavam na casa do cubano, apenas passando um tempo.

— Não é nada, mano. - A frase havia saindo mais firme em sua mente, mas ele esperava que Erick não percebesse isso.

— É o lance da Sosô ainda né? - Erick era o único que a chamava assim. Zabdiel sentiu seu corpo enrijecer

— Como você sabe?

— Como eu poderia não saber? Todo mundo sabe, só não fala nada.

Os dois ficaram em silêncio, até que Erick decide continuar.

— Eu conversei com ela sabe... naquele dia. - ele soltou e o loiro voltou toda sua atenção ao mais novo. - Ela ficou muito chateada, mas você deu um espaço pra ela; pra você mesmo. Eu acho que vocês deviam conversar, bro.

— Eu não tenho muita certeza de que ela vai conversar comigo. Quer dizer, ela tá agindo como se nada tivesse acontecendo. Talvez ela pode ter realmente deixado pra lá e a gente vai ficar assim pra sempre.

— Você pode resolver isso hoje. Olha o seu celular. - Erick respondeu

O loiro buscou o celular no bolso e ao entrar no grupo com todos os amigos, viu a mensagem que fez seu coração acelerar de nervoso.

Soph: "chegando suuuuper cansada. algum amigo disponível pra fazer uma massagem?"