Os olhos. A parte do corpo mais difícil de se fotografar e também de se contemplar.
Talvez porque o olhar retratado não tenha sido muito direcionado a mim. Nem diretamente, nem através da lente da câmera.
Era difícil encarar a única parte que havia sido privada do meu contato. A imensidão por trás dos olhos que mais pareciam rios com correnteza forte, levando e trazendo novas histórias, novas felicidades e novas tristezas a cada minuto - parecia coisa demais para se lidar.
Senti medo. O medo constante que sentimos quando a vulnerabilidade nos rodeia. É imensamente difícil permitir-se ser vulnerável em um mundo que vulnerabilidade é reconhecida como fraqueza. Os olhos sempre estão voltados ao chão ou à telas de telefone que preenchem uma forma de conexão já dominada. Nada de novo, nada de assustador, nenhum golpe a caminho.
Se relacionar se tornara de repente estar a espera de um golpe. E isso nos consome internamente pouco a pouco. Nos paralisa, nos faz incapazes de nos jogarmos às possibilidades do novo.
Esses olhos mostraram possibilidades, polaridades, pluralidade.
Esses olhos têm brilho.
Quando envolvidos na amargura, no desespero e na ansiedade pré atividade física, o brilho me remete a uma sensação gelada, fria. Me remete à força da Lua. Que em sua polaridade máxima ilumina tudo aquilo que toca, mas com um ar gélido da noite, da suspensão misteriosa que o escuro traz.
É uma sensação dúbia.
O brilho pós atividade física é um quase um raio solar. Uma sensação quente, de acolhimento e grandeza. Muito complementar ao brilho anterior, mas com tempo de duração. Chega a doer quando encarado por muito tempo, quase gerando uma queimadura na pele da alma.
É uma sensação dúbia.
Soa estranho para mim pensar em tantas coisas ao mesmo tempo e relaciona-las tao bem entre si a ponto de abrir uma possibilidade de sentido. Meus pensamentos faziam tão pouco sentido. Eu mal conseguia externa-los de forma clara e coerente.
Talvez seja esse o poder da vulnerabilidade.
Devolver sentido às coisas.
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Fanfiction• Larry & Ziam fanfic • (Reescrita) "O romântico perde o brilho na vida real bruta. O afeto se da em parcelas dispersas e impermanentes. Somos essencialmente impermanentes." Sabendo da impermanência das coisas e pessoas em um mundo de relações líq...