Capítulo 6 - Compulsão

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Os olhos de Louis estavam ainda se acostumando à luz ambiente no momento em que bateu na porta do vizinho ao lado. Seu rosto inchado e seu cabelo completamente despenteado demonstravam seu acordar repentino e o porquê de sua impaciência.
Um de seus pés sapateava levemente o chão do hall enquanto apoiava seu corpo no batente da porta e segurava firmemente o celular de Harry na mão.

Como alguém poderia ser tão desatento a ponto de devolver o casaco emprestado com algum pertence dentro? Como ter paciência e civilidade quando se acorda com um celular tocando incessantemente e, o pior, um celular que não é seu? Porque Harry tinha um celular tão bonito e de última geração e vivia num buraco daquele?

Louis para por um instante percebendo para qual linha de pensamento sua mente o estava levando, envolvendo-o em algo que ele definitivamente não tinha nada a ver. Sua fuga foi bater de novo na porta e aguardar mais alguns segundos até que uma figura totalmente sonâmbula aparecesse em sua frente.

Harry abre a porta rapidamente em supetão, achando ser alguma emergência, Liam o tinha treinado bem. Assim que vê Louis em sua frente, seu semblante torna-se levemente mais sereno, seu sangue flui mais rápido como um rio que ganha potencial corrente.

Louis friamente coloca o celular em sua mão sem ao menos olha-lo ou explicar-lhe o que havia acontecido. Seu ímpeto é voltar para sua cama como se nada daquilo tivesse ocorrido, mas Harry segura um de seus braços, impedindo seu abandono.

- O que eu te fiz?

Os olhos verdes encaravam Louis com muita profundidade e a mão apertava com certa rigidez seus músculos, ele não era obrigado a dar-lhe satisfações. Em um impulso violento para frente, o menor escapa do aperto de Harry e entra para seu próprio apartamento, batendo a porta atrás de si.

Em um suspiro profundo, o rejeitado esfrega os olhos tentando acordar devidamente, sair do transe que o sono lhe imergia enquanto fechava a porta do apartamento. Ele analisa um pouco o celular e com um olhar confuso, tenta espremer a memória para lembrar onde tinha deixado o aparelho na noite passada e pensa o quão fora de sua sanidade ele estava por nem sequer perceber que não trouxera-o consigo.

Não houve muito tempo para pensar, Liam o ligava.

- Quem morreu? - Harry tira sarro, expondo sua surpresa ao ver Liam ligar para alguém. O bombeiro preferia mensagens à ligações.

— Zayn.

Seu tom foi tão assertivo e direto que Harry para um segundo, tentando digerir tal notícia.

— Meu Deus. É sério?

Uma respiração pesada e profunda soa do outro lado do celular.

— Não, mas poderia.

O cacheado levanta as sobrancelhas, levemente alarmado pelo sarcasmo do outro. Liam não brincava com questões de vida ou morte, talvez fosse parte da sua conduta de ética, Harry acreditava.

— O que rolou, cara?

Outro suspiro pesado soa em seu ouvido e uma gradual preocupação começa a atingi-lo.

- Eu odeio meu altruísmo cego, cara. É isso o que rolou. Eu realmente acredito em algum lugar dentro do meu espírito aminguado que eu posso salvar o mundo, mas é impossível, sabe?

Dessa vez quem respira fundo é Harry, não era a primeira vez que ele ouvia tal discurso.

- O que aconteceu, Liam?

A impaciência causada pelo tópico e intensificada pelo sono interrompido foi sentida pelo outro, fazendo-o vomitar as palavras em raiva. 

- Zayn usou cocaína em menos de 24h depois de uma overdose.

A reação é de puro desgosto acompanhado de um falso costume. O cacheado senta no sofá da sala, já sabendo que teria que ouvir um discurso extenso sobre o quão deplorável isso é para a saúde dele e o quão absurdo era o esforço que ele havia aplicado em vão.

- Ele é viciado em coca e você em vinho, não há muito o que fazer.

Sua sátira e seu riso descontraído pareceu irrita-lo mais, fazendo-o falar ainda mais exasperado.

- Você acha mesmo que alguém pode se odiar tanto a ponto de não pensar um segundo sequer no poder mortífero do uso dessas substâncias? Harry, eu vi gente morrer convulsionando e não poder dar o mínimo de apoio, porque é em questão de segundos que o coração para e não tem o que fazer. Ele teve MUITA sorte e está levando isso como se fosse uma... uma... - ele força seu cérebro à procura de palavras, mas sua ansiedade bloqueava qualquer forma de clareza mental.

- Uma ressaca. - Harry completa sua frase de forma prática para que ele continuasse a exprimir tudo o que precisava e não surtar. 

- Isso. - Liam estava ofegante, provavelmente dando passos largos na rua, correndo de suas próprias indignações - Ele ainda teve a capacidade de agir como se nada tivesse acontecido e usou da situação dele para se aproximar de mim...

- Como assim 'se aproximar' de você? - Harry o interrompe alarmado, já imaginando o que poderia ter acontecido ao lembrar da experiência extremamente estranha passada por ele horas antes.

Liam respira pesadamente de novo.

- Ele usou de uma queimadura que tinha na virilha para me fazer chegar mais perto e-

- Vocês transaram? - Harry precisava saber se não havia sido o único a ser arrastado deploravelmente pelo desejo.

- Eu percebi as pupilas enormes dele antes.

Harry assente, pensando na impulsividade que havia os impulsionado de forma tão forte e direta ao precipício dos corpos temperamentais dos vizinhos.

Liam percebe o silêncio momentâneo do outro e capta a possível relação com o que ocorrera entre ele e Louis.

- E você e Louis? O que aconteceu?

O cacheado respira e decide não estender o assunto até que ele chegasse a uma vaga conclusão de como seu celular foi parar na mão de Louis e porquê ele odiava-o tanto.

- Eu te conto quando chegar.

A chamada é desligada na intensão de descontinuar esse assunto de sua mente e de suas emoções. O fato de Louis não olhar em sua cara era algo que o afetava muito e fazia-o questionar milhares de coisas sobre si mesmo.

Em um forte ímpeto, Harry levanta do sofá e vai preparar uma xícara do líquido que lhe permitia abrir espaços em si mesmo de aceitação e tranquilidade.

Café.

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